Ela ignora todo mundo durante o evento sem sair do lado de sua mãe no caixão. Não sei como agir. Entendo exatamente o que ela está passando, a dor da perda, a falta que vem logo depois e a tristeza que parece não querer ir embora. Mesmo assim, não consigo nem dizer uma palavra de conforto apesar de que não há palavra que alguém possa dizer que vai mudar todos esses sentimentos que estão em sua mente e em seu coração agora.
Só depois volto a procurá-la. Passo a semana tentando falar com ela, mas desde o cemitério que seu pai diz não vê-la, acionando a polícia para encontrá-la. Tenho a sensação de que talvez eu seja a única que possa. Vou a todos os lugares que frequenta procurando quase em desespero. Eu não posso desistir. Finalmente consigo encontrá-la bêbada e sozinha no 1020 bar na Amsterdam Avenue próximo a Columbia University.
"Até que enfim te encontrei! Vamos, vamos embora, seu pai está preocupado com você."
"Meu pai?!" Revolta-se. "Meu pai não está nem aí para mim! Ele matou minha mãe aos poucos, agora vai matar a mim e aquela outra mulher com quem casou! É um mentiroso cruel e desprezível, eu o odeio!"
"Não diz isso..." Falo mais calma. Sento no banco ao seu lado no balcão olhando para seu rosto perturbado. "Seu pai gosta de você. Do jeito dele. Ele está realmente preocupado com você como eu estou."
"E por que ele não está aqui com você? Ele passou a vida inteira comigo e não sabe nem onde gosto de ir, nem o que eu quero ser quando me formar. Você me conhece há apenas uma semana e sabe mais sobre mim do que ele!"
"Os pais são assim mesmo, Noey, todos iguais. Não ligam para nossas preferências, querendo impor regras e seus próprios gostos para nos manipular. Mas isso não é de todo mal, fazem isso para nos proteger porque nos amam, talvez um dia faremos as mesmas coisas com nossos filhos."
"Eu com certeza não farei isso com meus filhos."
"Tá bom sabichona! Vem comigo." Brinco. Ela hesita, então falo sério. "Ei, ele ainda é o seu pai, dar uma chance para ele. Vocês só precisam conversar mais. Por favor, vem! Se vier, deixo você gravar meu recital da escola, eu sei, é chato e entediante, mas já é um começo para sua carreira em Hollywood!"
"Com você nada é chato ou entediante. Você é legal Becky. Tudo bem, eu vou com você, mas antes preciso de uma coisa."
"O que?" Pergunto curiosa. Ela me abraça. Um abraço longo e demorado, ela está soluçando feito um bebê chorando baixinho. Retribuo porque sei que ela está precisando muito disso. Quando ela me solta espero que aconteça algo olhando para ela tentando ser compreensiva, mas ela me trata como se nada tivesse acontecido.
Não tocamos no assunto, ela não queria parecer frágil na minha frente e eu fingi que aquele abraço nunca aconteceu. Depois de agradecer por ajudá-la, ela levanta cambaleando, o cara no bar me ajuda a colocá-la no táxi. Ela chega em sua casa sã e salva para alívio de todos. Nós enfim voltamos a sair em noites divertidas. Ela continua sem se comunicar com pai, mas agora não se importa tanto com isso.
No feriado do ano novo, resolvemos viajar de carro até Newport, ela prefere dirigir em vez de pegar um trem ou ônibus. É a festa de uma galera mais velha com apenas nós duas de colegiais, está lotada, sem nenhum adulto em supervisão e a música alta de má qualidade que ninguém ali se importa. Muito menos eu.
Danço a noite inteira bebendo cerveja e conversando com algumas garotas que acabo de conhecer. Noey termina o que tinha para fazer e me chama para voltar para a casa. Ela fuma um cigarro suspeito quando entra no carro. Eu olho confusa e curiosa, ela aspirando aquele ar para dentro de si jogando para fora na janela enquanto dirige.
Percebendo minha curiosidade aguçada, oferece um trago do seu cigarro. Hesito por um momento, até ela me convencer de que vou gostar. No primeiro trago achei que ia morrer de tanto tossir. A fumaça sai arranhando minha garganta, mal consigo respirar. A segunda vez foi mais leve, suave. Sinto uma incrível sensação de liberdade. Dou mais um trago e devolvo.
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A Garota Problema - FreenBecky
FanfictionCheia de privilégios e nenhum senso de responsabilidade, Becky Armstrong é uma adolescente que vive em numa cobertura na Firth Avenue em New York testando o limite da paciência de sua mãe. Com ex's encrenqueiros, convivendo com amigas que não pode c...