Capítulo 1

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Voltei, gente.

Essa daqui vou demorar um pouco mais pra postar, mas estou ansiosa. Desde que o Amaury confirmou o spin-off Kelmiro estou me coçando pra digitar essa fic.

Então, bora pra leitura.

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Se contassem para Diego como estaria sua vida aos vinte e seis anos daria uma estrondosa gargalhada. Acharia que o cenário da previsão seria demasiadamente dramático, como um capítulo digno de dramalhões mexicanos como A Usurpadora, Marimar e O que a Vida me Roubou. Afinal de contas, sua vida estava ótima. Cursava Direito na faculdade dos sonhos localizada no Rio de Janeiro, havia se apaixonado por um dos ex-alunos que havia acabado de passar na prova da OAB, namorava o lindo moreno quem o tratava com amorosidade invejável e sua família caminhava bem. É claro, ainda não havia se assumido socialmente e apresentado o namorado como amigo por sentir medo da reação do pai, mas, num todo, as coisas estavam fluindo.

Até que seu castelo começou a desmoronar peça por peça num curto espaço de tempo.

Primeiro, foi o relacionamento. Jamais sentira tamanha dor antes como na tarde quando saiu aos prantos do apartamento do homem. O porteiro até tentou impedi-lo de subir diversas vezes, criando empecilhos como a ausência do morador, mas, infelizmente, Diego tinha a chave entregue pelo mais velho meses anteriores, então tinha livre acesso ao lugar que passou a conhecer tão bem quanto a sua própria casa – e no conforto do seu quarto imaginava-se morando lá com Amaury caso se casassem.

Três meses depois enterrou seu pai no meio de uma chuva torrencial, vítima de uma bala perdida. Precisou acudir a mãe junto dos amigos presentes, quem desmaiara quando a primeira rosa branca foi jogada sobre o caixão antes da terra ser despejada.

Como se fosse pouco, além de Erika ser a única responsável por pagar as contas, colocar comida na mesa e sustentar seus dois filhos, Diego e Bianca, a mais nova com apenas sete anos, a mulher sofreu um acidente. Caiu pela janela do terceiro andar enquanto tentava limpá-la. Embora fosse uma antiga secretária da empresa, seu chefe não era um homem bom e se recusava a ressarcir o valor do INSS, já que foi obrigada por ele a realizar a limpeza – mesmo sem nenhum equipamento de segurança.

Devido a tantos infortúnios e numa tentativa de ajudar com os gastos da casa, Diego decidiu desistir do curso de Direito e abrir mão das aulas de dança para trabalhar num salão de beleza. Talvez ele não tivesse condições para conseguir o diploma, mas a irmã merecia ter uma boa educação. Bianca adorava a escola e seus sorrisos eram os únicos momentos que traziam certa alegria num período tão infeliz na história da família. Não queria tirar a alegria da menina e jamais se perdoaria caso a pequena fosse retirada da escola pelo pagamento não ser efetuado – e foi por isso que trancou a faculdade e iniciou sua busca por emprego.

Todos aqueles baques, embora não tenha acontecido nada diretamente com ele, já afetavam sua saúde. Manchas roxas surgiam pelo corpo em consequência do estresse, fios do cabelo caíam e perdia de peso, além de ter insônia e alguns sintomas de ansiedade. Havia perdido o brilho interno de outrora e seu semblante, antes leve e animado, agora era apático e introspectivo.

Foi nesse contexto que caminhava pela rua naquela noite. A irmã descansava em casa na companhia de uma tia, então o rapaz podia se divertir por algumas horas sozinho. A brisa fresca balançava seus cabelos ruivos cujas pontas ainda eram iluminadas. Perambulava pela calçada sem rumo mordiscando o lábio inferior e prendendo o choro pela finalização do relacionamento, pela morte do pai, a desistência do sonho de se formar em Direito, a recuperação gradativa da mãe hospitalizada, a saída das aulas de dança e a falta de perspectiva sobre o futuro. Em resumo¿ Estava no fundo do poço, sozinho e não tinha nenhuma válvula de escape ou apoio emocional. Inclusive era necessário suprimir suas questões emocionais para não piorar o estado delicado de Erika.

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