progresso

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Adentrei os corredores repletos de livros, pouco empoeirados, inundados pelo cheiro acolhedor e pelo silêncio que trazia uma paz reconfortante. Avancei até avistar a figura pequena de Bian, sentado em uma mesa isolada cercada por diversos volumes.
— Bian! — Exclamei com entusiasmo ao vê-lo.
— Joui?!... — Bian respondeu surpreso ao me notar.
— Olá, pequeno! — Cumprimentei, aproximando-me.
— Hey, Joui — o pequeno respondeu com um sorriso.
— O que está lendo? — Perguntei curioso.
— Um livro sobre a mente dos serial killers — Bian respondeu animado.
— Oh... — Murmurei totalmente surpreso. — Certo, não vou questionar.
— O que deseja, professor? — Bian perguntou com um sorriso no rosto.
— Só queria saber como você está — disse sorrindo.
— Estou bem... já enviei as informações sobre o acidente que aconteceu — ele respondeu fechando o livro que estava lendo. — Então... vocês vão ver o corpo no necrotério?
— Você não vai vir junto — disse, percebendo o que Bian desejava apenas pela expressão em seu rosto.
— O quê?! Por quê?! — Ele protestou.
— Pode ser perigoso — respondi.
— Desde quando é perigoso ver um defunto? — Bian desviou o olhar.
— Bem, Cesar não quer você lá — menti para protegê-lo.
— Cesar é um acéfalo que não sabe de nada, não faça o que ele quer — Bian resmungou.
— Bian! Você é uma criança! — O alertei. — Você não pode se envolver nisso.
— Eu tenho mais experiência nisso do que você — ele respondeu entediado.
— Certo, você não vai e ponto final — disse dando batidinhas na cabeça de Bian, achando graça do seu comportamento. Bian ficou em silêncio, sua impaciência notável, mas achei graça de seu comportamento.
— Eu sou um agente treinado! — Bian começou, mas foi interrompido.
Escutei passos apressados na biblioteca, olhei para trás e vi a figura conhecida.
— Joui! Finalmente te achei — Cesar disse, andando em minha direção. — Novas evidências sobre o caso! Temos testemunhas!
— O que houve? — Perguntei, percebendo o entusiasmo em sua voz, o que claramente significava que algo horrível aconteceu.
— Um genocídio, com sobreviventes! — Cesar exclamou.
Bian, que estava prestes a protestar novamente, ficou instantaneamente sério ao ouvir as palavras de Cesar. Seus olhos brilharam de animação.
— Genocídio? Sobreviventes? — Repeti, incrédulo.
Cesar confirmou com um aceno. — Sim, parece que houve um ataque direcionado a algumas casas. Alguns conseguiram escapar e estão sob proteção. Vamos logo antes que sejam assassinados também!
Bian parecia animado. — Eu posso ajudar! — Ele disse com determinação, suas palavras firmes, sem vestígios da impaciência anterior.
— Bian... — Tentei argumentar, mas Cesar interrompeu.
— Ele está certo, Joui. Com sua formação, o pirralho pode ser útil.
— Eu não sei se é uma boa ideia, ele é só uma criança, Cesar — disse aflito, com medo.
— Não se preocupe. Pirralho, o corpo no necrotério, você pode analisá-lo por mim? — Cesar olhou para o pequeno.
— Claro! Com todo prazer, emo — Bian respondeu animado.
— Mandar uma criança ver um cadáver? — Arqueei as sobrancelhas incrédulo.
— Ele vai ficar bem, querido — Cesar disse, fazendo-me corar um pouco pelo apelido.
— Tudo bem. Bian, nada de imitar os serial killers dos livros que você anda lendo, tudo bem? — Olhei para o menor.
— Vou tentar, professor — Bian disse felizmente.
— Irá tentar? — Indaguei encarando-o.
— Só estou brincando, nunca matei um inocente na minha vida! — Bian disse ofendido.
— E você já matou alguém?! — Indaguei incrédulo.
— Melhor não cavar o passado dele, meu bem — Cesar disse, puxando-me novamente, envergonhado pelos apelidos. — Vamos dar uma olhada no lugar onde aconteceu a chacina. Tchau, Hoffmann!
— Tchau Tchau! — Bian disse, observando com curiosidade nossa interação, parecendo saber algo.
Cesar me puxou com pressa para fora da biblioteca, seus passos rápidos ecoando nos corredores silenciosos. Sua ansiedade para chegar ao local do genocídio era palpável, enquanto eu tentava controlar o medo que crescia dentro de mim a cada passo dado em direção ao desconhecido. O céu de Londres estava nublado e o vento frio cortava nossa pele, intensificando a atmosfera sombria que pairava sobre nós naquela tarde.
Ao alcançarmos o lado de fora, Cesar acenou rapidamente para um táxi que passava pela rua. O motorista parou de imediato, e enquanto adentrávamos o carro, pude sentir a tensão aumentar ainda mais. O silêncio de Cesar era assustado, estava extremamente imerso em seus pensamentos.

Detetive solitário - joesar Onde histórias criam vida. Descubra agora