Passado

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O silêncio absoluto preenchia o ambiente, um vácuo ensurdecedor que ameaçava engolfar Cesar. Ele mal percebia o sussurro dos peritos, cujas vozes se desvaneciam na distância. Enquanto Cesar permanecia imóvel, a mancha de sangue maculava o reluzente carpete, e um corpo inerte jazia sob um lençol branco, como a neve que ele nunca mais veria. Cesar, um jovem de apenas 15 anos, sentia-se paralisado diante da cena hedionda que se desenrolava diante de seus olhos.
A culpa, um fardo insuportável, pesava em seus ombros como uma âncora que o afundava naquele oceano de desespero. Ele se recusava a se aproximar, a desvendar a cruel realidade que se escondia sob aquele tecido. Cesar ansiava por fugir daquilo, por varrer da memória aqueles momentos que haviam despedaçado sua inocência. Mas não podia escapar. Ele sabia, com amargura, que aquela tragédia poderia ter sido evitada, que escolhas passadas haviam traçado este destino sombrio.

[ ... ]

Cesar acorda sob o som irritante do despertador, esforçando-se para abrir os olhos, mas a claridade o força a fechá-los novamente. Com os olhos semiabertos, ele estende a mão para alcançar o despertador, e após várias tentativas fracassadas, finalmente consegue desligá-lo.
Ele se senta na cama por alguns minutos, tentando sacudir a sonolência, até que o chamado insistente de sua mãe do andar de baixo o tira de seu estado letárgico. Relutantemente, Cesar se levanta e veste qualquer roupa que encontra em uma mesa antes de descer as escadas, onde a voz de sua mãe torna-se mais estridente.
— Finalmente, pensei que você estava morto, — brinca sua mãe, virada para o forno enquanto prepara algo, enquanto Cesar entra na cozinha com uma expressão emburrada. — Caiu da cama?
— Bom dia para você também, mãe — responde Cesar, com um toque de ironia, ouvindo a risadinha suave de sua mãe.
— Bom dia, meu bem! — diz ela docemente. — Sente-se e coma algo; não quero que você desmaie novamente na escola.
— Não foi por isso que desmaiei — murmura Cesar, sentando-se à mesa e desviando o olhar.
— Não foi apenas por isso, — diz sua mãe, sua animação desaparecendo. Ela serve o café da manhã para o filho e se senta em frente a ele. — Escute, meu filho, suas notas estão caindo, e vários professores reclamam que você está faltando... você tem certeza de que quer seguir esse caminho? Envolvendo-se em atividades criminosas que colocam sua vida em perigo? Você mal dorme e nem se alimenta direito por causa disso.
— Eu... acho que sim — murmura Cesar.
— Mas por quê? — pergunta sua mãe, genuinamente curiosa, embora sua voz ainda carregue mágoa.
— Eu não sei, mas gosto da adrenalina. Isso me faz sentir tão... vivo, e também gosto de ajudar as pessoas, — diz Cesar, mentindo levemente no final.
— Ajudar as pessoas? — sua mãe pergunta desconfiada, arqueando uma sobrancelha, provavelmente percebendo a falsidade do adolescente.
— É... — Cesar responde, desviando o olhar.
— Tudo bem — ela suspira com pesar. — Apenas prometa que ficará seguro.
— Eu sou intocável, — Cesar diz com orgulho genuíno.
— Agora coma, porque se o 'Sr. Intocável' não priorizar sua saúde, vai levar uma bronca.
Cesar ri, mesmo sem vontade de comer, sentindo a pressão silenciosa de sua mãe. Ela o obriga a se alimentar rapidamente para não se atrasar para a escola.
Cesar não tem ânimo para ir à escola; o lugar drena sua energia e o deixa exausto. Então ele decide que fingirá ir para a escola, sabendo que isso provavelmente causará mais reclamações. Mas ele acredita que sua mãe entenderá.
Ele passa horas vagueando pela cidade, mas algo o incomoda, um pressentimento ruim, um arrepio que o faz correr de volta para casa. Seu coração bate forte, o medo o invade. Quando finalmente chega em casa, vê policiais do lado de fora.
Ignorando todos os obstáculos, ele abre a porta com pressa, apenas para encontrar peritos ao redor de um corpo coberto por um lençol branco. Lágrimas escorrem de seus olhos.
Cesar se aproxima do corpo.
— Eu não quero...— sua voz está cheia de dor.
Cesar se aproxima do corpo.

— Eu não quero ver isso! Por favor!

Cesar se aproxima do corpo.

— Pare com isso!

[ ... ]

Fui arrancado de meu sonho por uma voz infantil, aguda e cheia de entusiasmo, rompeu o silêncio do quarto. Eu acordei abruptamente, com o coração acelerado, deparando-me com o dono daquela voz. Era Bian, pulando alegremente na cama que agora compartilhava com Joui. Procurei por Joui, mas ele não estava ali. Minha confusão aumentou quando meus olhos se encontraram com os olhos surpresos de Bian.
— Está chorando? — Bian perguntou, parando imediatamente de pular, observando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto devido ao pesadelo infernal que eu tinha acabado de experimentar.
— Claro que não! — Disse, desesperadamente tentando enxugar as lágrimas que teimosamente insistiam em cai. — O que caralhos você está fazendo aqui, moleque?
— Joui não te contou que agora sou o filho de consideração dele? — Bian indagou, seu tom carregado de preocupação enquanto me observava atentamente. — Você... está bem?
Sua expressão preocupada me deixou desconfortável.
— Você já não tem pais? — Perguntei, levantando-me e empurrando suavemente Bian para fora da cama, fazendo-o cair no chão. Ignorei completamente a última pergunta.
— Quanto mais, melhor. — Bian respondeu, levantando-se com um olhar emburrado. — Me fala logo o que aconteceu, por que você está chorando!
— Não é da porra da sua conta! — Exclamei, irritado.
Olhei para Bian e vi nele uma expressão de desapontamento e tristeza. Senti-me culpado. Desde quando comecei a me importar com aquele pirralho?
— Foi um pesadelo... — Disse relutante.
Assim que falei, vi um leve sorriso caloroso se formar no rosto de Bian.
— Um pesadelo? — Perguntou, parecendo tentar demonstrar simpatia.
— Sobre algo do meu passado que ainda me dói. — Sussurrei, sem conseguir encarar Bian.
— Tá tudo bem. — Bian disse em voz baixa. Ele pode não ser o melhor em consolar alguém, mas ainda assim se esforçava.
— Já te contei, agora sai daqui! — Exclamei, pegando um travesseiro e jogando contra a criança.
Ele simplesmente saiu correndo enquanto ria. Dei um suspiro, às vezes, fico imaginando como uma criança que sofria de ansiedade social e mal conseguia falar com alguém se transformou nesse pequeno monstrinho diabólico. Inconscientemente, permiti-me sorrir levemente.

Detetive solitário - joesar Onde histórias criam vida. Descubra agora