Sâmia Collor
Duas semanas depois.
- Estou melhor, irmã. - digo pela milésima vez no intuito de tranquilizá-la. Estamos conversando a um bom tempo e a primeira coisa que me perguntou quando atendi a chamada foi isso. A cada cinco minutos ela pergunta se eu estou bem.
Parece uma detetive.
- Tem certeza? - ela não parecia nada convencida, pelo contrário, quanto mais eu afirmava mais desconfiada ela ficava.
- Sim.
- Pois não parece.
Às vezes eu esqueço que é impossível mentir para minha irmã.
- Não minta para sua irmã. - minha amiga tão fiel acabou de entrar em tela, Paloma disse que ela estava arrumando a casa, coisa que ela não pediu.
- É bom ver você também, Samira.
- Sempre as ordens, senhora.
- Já disse que não precisa me chamar de senhora.
- Força do hábito. - ri, eu adoro a companhia dela, uma pena que não nos vemos mais. Pelo menos por enquanto.
- Eles estão te tratando bem? - Paloma toma a atenção para si. Ela não esqueceu da última conversa que eu e Isabella tivemos, a que ela presenciou. Se tem uma coisa que deixa minha Paloma irada, é que tratem a irmãzinha dela mal. Me surpreende que ela fique contra o pai em prol de me defender.
Suspiro. Não, eles não estão me tratando bem. Na verdade, eles me ignoram completamente. É como se eu não estivesse aqui. A única pessoa que fala comigo, realmente, é a Mariah. Ela tem sido um grande apoio para mim, eu já teria surtado nessa casa.
- Eles não me batem pelos menos. - A frase era pra ser dita em sussurro, mas acabo falando sarcasticamente alta demais. Vejo Paloma com o queixo trincado. Porra.
- Eu não acredito nisso. - esfrega a testa de olhos fechados.
- Irmã, por favor. Não me falta nada aqui, tenho abrigo, roupas, proteção e além disso, Octávio não sabe onde estou.
- É o mínimo que eles devem oferecer!
- Por falar em Octávio, senhora. Ele não falou com a polícia sobre seu desaparecimento?
- Não. Isso me deixou surpresa, inclusive.
- É óbvio que ele não vai chamar atenção pra isso. Com certeza, ele quer te encontrar sem a ajuda da polícia. E você sabe pra quê.
Minha irmã tem razão. Se Octávio chamar a polícia, possivelmente ele teria que dar um motivo para minha fuga, talvez ele não queira que saibam. E também, estou na casa da pessoa que ele mais odeia e que ele sabe que odeia me também. Meu marido tem certeza que ela não me acolheria.
- Ele veio aqui. - Samira solta a bomba do nada. Paloma e eu ficamos chocadas e a olhamos como se ela tivesse sete cabeças.
- O que?! - indagamos ao mesmo tempo.
- Quando foi isso, Samira? Por que você não me contou?
- Foi nos primeiros dias que a senhora fugiu. Ele veio aqui do nada, Paloma não estava em casa.
- Você não abriu a porta, abriu? - perguntei aflita. Lembro da ameaça de Octávio semanas atrás. Disse que machucaria Samira caso não o obedecesse, ouvir isso agora me deixa ansiosa. O que eu mais temia esteve perto de acontecer. Com Paloma ele não faria nada, eu sei porque ele não compraria uma guerra com meu padrasto. Hugo e Octávio não se davam bem, mas se tratavam com educação. Em questões financeiras, meu padrasto é tão rico quanto Octávio. Ou até mais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cativa | Sáfico
Romance+18 | Trilogia Cativa Sâmia, uma mulher da alta sociedade carioca, vive um verdadeiro inferno. Para se ver longe do padrasto, ela se viu obrigada a casar com Octávio, um homem poderoso no Rio de Janeiro, ninguém se atreve a desafiá-lo, exceto um cer...