Capítulo 16

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Sâmia Collor

Duas semanas depois.

- Estou melhor, irmã. - digo pela milésima vez no intuito de tranquilizá-la. Estamos conversando a um bom tempo e a primeira coisa que me perguntou quando atendi a chamada foi isso. A cada cinco minutos ela pergunta se eu estou bem.

Parece uma detetive.

- Tem certeza? - ela não parecia nada convencida, pelo contrário, quanto mais eu afirmava mais desconfiada ela ficava.

- Sim.

- Pois não parece.

Às vezes eu esqueço que é impossível mentir para minha irmã.

- Não minta para sua irmã. - minha amiga tão fiel acabou de entrar em tela, Paloma disse que ela estava arrumando a casa, coisa que ela não pediu.

- É bom ver você também, Samira.

- Sempre as ordens, senhora.

- Já disse que não precisa me chamar de senhora.

- Força do hábito. - ri, eu adoro a companhia dela, uma pena que não nos vemos mais. Pelo menos por enquanto.

- Eles estão te tratando bem? - Paloma toma a atenção para si. Ela não esqueceu da última conversa que eu e Isabella tivemos, a que ela presenciou. Se tem uma coisa que deixa minha Paloma irada, é que tratem a irmãzinha dela mal. Me surpreende que ela fique contra o pai em prol de me defender.

Suspiro. Não, eles não estão me tratando bem. Na verdade, eles me ignoram completamente. É como se eu não estivesse aqui. A única pessoa que fala comigo, realmente, é a Mariah. Ela tem sido um grande apoio para mim, eu já teria surtado nessa casa.

- Eles não me batem pelos menos. - A frase era pra ser dita em sussurro, mas acabo falando sarcasticamente alta demais. Vejo Paloma com o queixo trincado. Porra.

- Eu não acredito nisso. - esfrega a testa de olhos fechados.

- Irmã, por favor. Não me falta nada aqui, tenho abrigo, roupas, proteção e além disso, Octávio não sabe onde estou.

- É o mínimo que eles devem oferecer!

- Por falar em Octávio, senhora. Ele não falou com a polícia sobre seu desaparecimento?

- Não. Isso me deixou surpresa, inclusive.

- É óbvio que ele não vai chamar atenção pra isso. Com certeza, ele quer te encontrar sem a ajuda da polícia. E você sabe pra quê.

Minha irmã tem razão. Se Octávio chamar a polícia, possivelmente ele teria que dar um motivo para minha fuga, talvez ele não queira que saibam. E também, estou na casa da pessoa que ele mais odeia e que ele sabe que odeia me também. Meu marido tem certeza que ela não me acolheria.

- Ele veio aqui. - Samira solta a bomba do nada. Paloma e eu ficamos chocadas e a olhamos como se ela tivesse sete cabeças.

- O que?! - indagamos ao mesmo tempo.

- Quando foi isso, Samira? Por que você não me contou?

- Foi nos primeiros dias que a senhora fugiu. Ele veio aqui do nada, Paloma não estava em casa.

- Você não abriu a porta, abriu? - perguntei aflita. Lembro da ameaça de Octávio semanas atrás. Disse que machucaria Samira caso não o obedecesse, ouvir isso agora me deixa ansiosa. O que eu mais temia esteve perto de acontecer. Com Paloma ele não faria nada, eu sei porque ele não compraria uma guerra com meu padrasto. Hugo e Octávio não se davam bem, mas se tratavam com educação. Em questões financeiras, meu padrasto é tão rico quanto Octávio. Ou até mais.

Cativa | SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora