Capítulo 5

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Isabella Castro

Copacabana, Rio de Janeiro, 2022

— Cadê o ânimo, Isabella? Seu aniversário tá chegando.

— Eu não quero festa. — disse virando-me para o outro lado para que não precisasse encarar Mariah.

— Ah, não. Pode levantar. — Puxou meu braço — Não vou deixar essa data tão especial passar.

— E o que ela tem de tão especial além do fato de eu ficar mais velha? — cruzei os braços.

— Gata, só se faz trinta anos uma vez na vida. Tem que ser um festão. E também… talvez te tire dessa depre.

Voltei a deitar-me na cama e dessa vez virando de bruços. Fazia cerca de cinco dias que tinha voltado de Angra dos Reis.

Nenhuma das minhas tentativas de falar com Sâmia dera certo. Ela se recusou veementemente a me ver, nem mesmo saiu de casa aqueles dias. Eu ia todos os dias naquela mansão, mesmo Mariah me dizendo que Sâmia estava magoada demais para me ouvir.

Minha última visita causou-me uma baita gripe, a chuva foi pesada e não me recuperei totalmente. Ainda sentia seu nariz entupido e a garganta inflamada, o que era péssimo. Eu odeio qualquer coisa que me incomoda. Mas eu não podia evitar. Ter a confirmação, mesmo que não dita, de que Sâmia não me odiava me deu esperanças. Assim como a oito anos atrás, esperava ansiosamente que ela aparecesse para mim, e agora por motivos distintos, ela não aparecia.

Infelizmente, o passado não pode ser mudado, mas posso mudar o presente e isso eu vou fazer quando Sâmia quiser perdoar-me. Isso é, se quiser fazer isso. Pensar que Sâmia jamais me perdoará fazia o meu coração doer e não havia ninguém a quem culpar se não a mim mesma.

— Você acha que ela vai estar lá? — Perguntei baixinho. Forço a tão temida pergunta sair de mim.

Eu podia deixar de pensar em como as coisas mudam. Anteriormente, na festa sobre minha empresa e meu retorno ao Brasil, fiz essa mesma pergunta a Mariah. Antes em um puro tom de deboche, agora por querer de fato a presença dela ali.

— Não sei.

— Acha que ela esqueceu meu aniversário? — aquela simples hipótese me fazia querer chorar.

— Não pense nisso agora. Só vai te magoar mais.

— Não consigo evitar. — escondo meu rosto no travesseiro.

Ela passa a mão pela minha cabeça, me consolando.

— Vamos descer. A tia fez seu prato favorito.

Todos nesta casa estão tentando me agradar. Quando cheguei, minha tia e Gabriel vieram ansiosos até mim para saber como foi a nossa conversa. A menção do fato me fez chorar como uma criança e como eu não me acalmava, foi Mariah quem contou tudo a eles.

Ambos ficaram em silêncio, nenhum dos dois tinha nada para falar. Sabiam que Sâmia tinha razão em suas acusações e não havia nada que eles pudessem fazer. Nem ao menos criticá-la podiam fazer, eu não deixaria, então se resumiram me apoiar e consolar.

Grace lamentava me ver sofrendo, e saber que só estávamos naquela situação por nossas próprias ações. Enquanto estive em Angra dos Reis, ela tentou entrar em contato com sua velha amiga, a mãe de Sâmia. Mas tudo que recebeu foi a caixa postal. Eu tenho certeza que Paloma tem algo a ver com isso. Ela me garantiu que nunca me perdoaria e que faria a mãe seguir pelo mesmo caminho. Não critico de forma alguma Paloma por contar a verdade a ela.

Michelle nunca retornou nenhuma das ligações da minha tia. Era totalmente compreensível sua recusa, mesmo que isso magoasse Grace.

Gabriel era outro que se afundou em culpa, ele é meu cúmplice de tudo. Com certeza é em nós o maior foco do ódio dela, o que é o certo, minha tia e Mariah são as menos culpadas por tudo.

Cativa | SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora