capítulo três

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19 de agosto.

O corpo de Claire estava estirado no quintal.
A garota sentia a textura da grama com a ponta de seus dedos e fazia desenhos imaginários sobre ela, somente esperava os minutos passarem para levantar e sair de casa.

Sentiu alguém se aproximar e logo a figura de Jaehyun se fez presente. O irmão, então, se deitou ao seu lado e passou a observar as nuvens no céu.

— Eu estou bem, 'tá legal? — Claire diz.

— Eu sei que está. Você é forte.

Força era algo que Claire sentia que não tinha, por mais que a ideia de que precisava ter aquela virtude estivesse firmada em sua cabeça.

— Está quase na hora da consulta. Vamos indo?

Sem dizer mais nada, levantou e caminhou até o carro. Ficou em silêncio o caminho inteiro e pareceu ter entrado em um estado indescritível de ponderação; seus pensamentos estavam uma loucura que nem mesmo a própria Claire conseguira descrever.

Para tentar deixar o clima menos pesado, Jaehyun ligou o rádio do carro e estava tocando sua música favorita, coincidentemente ou não. O mais velho não pensou duas vezes antes de começar a cantar e fazer movimentos engraçados, certamente causando risos em Claire.

— Chegamos.

Ao estacionar o carro, os dois desceram e caminharam até a recepção, em seguida foram liberados para esperar em outra sala. Claire havia feito alguns exames nos últimos dias e hoje apenas buscaria todos eles, então sentia-se um tanto nervosa.

A cada passo que Claire dava em direção ao consultório era um choque novo em seu coração, uma sensação de medo e preocupação que parecia tomar conta de si. Caminhava em direção ao diagnóstico que poderia mudar sua vida.

— Me espere aqui fora.

— Não quer que eu entre com você? — o irmão questiona, mas Claire nega.

Seu nome foi chamado e Claire sentiu as mãos suarem. Seus passos aturdidos a guiaram para dentro do consultório, então a jovem adentrou e fechou a porta. Sentou-se em frente ao doutor e o viu mexer nos diversos exames realizados dias atrás. Claire prestava atenção em cada mudança de expressão vinda do médico, notou também que sua feição tornou-se preocupada.

Foi quando o doutor começou a falar. Suas palavras eram disparadas como tiros ao coração de Claire; por mais que ela esperasse ouvir exatamente aquilo, ela não estava de fato preparada.

Respirou fundo antes de levantar e sair da sala.

— Sinto muito — o doutor diz antes de Claire balançar a cabeça e deixar o consultório.

Não precisou dizer nada quando viu Jaehyun, seu irmão conseguiu identificar o que havia acontecido apenas com o olhar de Claire. Sem trocar uma única palavra, Jae correu e prendeu Claire em seus braços, fora inevitável segurar as lágrimas

— Eu não sei o que fazer, Jaehyun.

— Não precisa fazer nada por agora. Apenas deixe que eu cuide de você.

O caminho de volta para casa foi um silêncio atordoante. Estava tão silencioso que Claire conseguia ouvir o som de sua respiração, uma pesada respiração. Seus olhos fecharam e a garota fez o possível para conseguir desligar sua mente por míseros minutos, mas aquilo parecia impossível.

Então ela chegou em casa e tudo o que fez foi subir os degraus até seu quarto e fechar a porta, pegando o caderno de sua mochila e abrindo o mesmo em suas pernas.

"Querido caderno,

Eu estava certa. Eu infelizmente estava certa.

Meus pulmões estão debilitados novamente e agora estou mais assustada do que antes, temo o que pode estar se aproximando de mim.

Eu gostaria de esquecer isso, gostaria que fosse apenas um pesadelo. Mas é real. Estou com câncer de novo.

Agora o que me resta é saber o que devo fazer daqui para frente. Enfrentar o tratamento ou enfrentar a doença? Apenas sei que, independente de tudo, devo aproveitar tudo o que tenho. Todos os momentos que ainda me restam.

Para sempre, Claire."

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