Meu admirador secreto - Parte I

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Por que existe essa angústia de "não quero ir para o colégio amanhã" todo domingo à noite? Odiava isso! Não gostava ainda mais quando os gêmeos demoravam para cair no sono e não me deixavam dormir.

Que eu saiba, crianças de dois anos dormem às 19h e acordam às 6h, mas meus irmãos eram diferentes. Nunca seguiam essa regra. Ficavam querendo brincar durante a noite toda e eu não dormia nada, sendo que tinha de acordar super cedo no dia seguinte.

O sol se levantou e até que enfim a segunda-feira tinha chegado! Não sei por que estava tão feliz por isso, mas rever os amigos depois de longas férias de verão era um dos motivos dessa felicidade.

Logo a primeira aula do ano era matemática e eu conseguia ouvir os gritos de alegria (só que não) dos meus amigos de sala que pareciam zumbis por causa das olheiras de quem não tinha dormido nada na noite passada, assim como eu.

- Senti sua falta na festa " Pré Último Ano " ontem, Manu. Disse K durante a aula.

- Mesmo que eu quisesse ir, não teria condições! Estava totalmente morta ontem à noite! Nunca pensei que crianças de dois anos davam tanto trabalho.

- Nossa amiga, espero que seu padrasto esteja te pagando bem pelo serviço de babá. - ironizou K.

Desde quando os gêmeos chegaram a K não largava do meu pé! Sempre dizia que depois que eles vieram minha mãe mudou meu cargo de "filha única e querida" para "a babá mais barata da cidade". Tudo bem que nesse aspecto eu concordava, mas falar disso toda vez que não ia a uma festa já estava demais.

Sobrevivi a quatro aulas do primeiro período e antes de descer para o pátio quando o sinal do intervalo tocou, passei no meu armário para deixar uns livros que estavam pesando na minha mala. Assim que destranquei o cadeado e abri a porta, um papelzinho dobrado em três caiu bem em cima dos meus tênis Vans roxo: "Espere por mim perto da sala de artes quando o sinal do segundo período bater. Assinado: seu admirador secreto."

O quê? Eu tenho um admirador secreto? Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto da K, que sempre tenta me arranjar um namorado.

Desci pelas escadas lotadas do colégio com a maior raiva do mundo pensando no que diria para ela quando a encontrasse.

Passei por todas as mesas do refeitório, pelo banheiro, andei todo o gramado central do pátio e nada da K, até que ouço uma voz atrás de mim:

- Manuzinha, ainda bem que te encontrei! Tenho uma urgência! – disse K

- Olha que coincidência, eu também estava te procurando.

- O que aconteceu? Por que está tão brava, Manuela?

- Você sabe muito bem o porquê da minha raiva! Não aguento mais isso Karol! Quem é amiga de verdade não faz isso!

Saí andando sem olhar para trás e joguei o papelzinho no lixo, torcendo para esquecer tudo o que tinha acontecido.

Ignorei a K durante o resto do dia, mas as palavras escritas pelo meu "admirador secreto" não.

Quando o sinal do último período tocou, mesmo contra minha vontade, resolvi ir ao lugar que "ele" estaria me esperando e acabar logo com tudo isso.

Dei a volta por todo colégio e, chegando à sala de artes, encontrei quem eu menos esperava.


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