Concurso - Parte II

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- K, o que está fazendo aqui? - perguntei enquanto ela caminhava na minha direção.

- O concurso já acabou? Atrasei-me demais?

Nessa hora minha cara devia estar como um grande ponto de interrogação, porque a K repetia o que eu tinha acabado de dizer estalando os dedos na frente do meu rosto. Demorei um instante, e quando voltei a mim, disse:

- Não, você não está atrasada! Veio me ver?

- Claro que não, vim ser sua concorrente!

Pronto, era só o que faltava! Minha melhor amiga era minha concorrente! Pensei bem e cheguei à conclusão de que não tinha como ganhar daquele par de pernas enormes, do abdômen que parecia ser oco por dentro de tão magra que ela era e o sorriso que fazia qualquer um sentir inveja.... Ela era uma perfeita modelo!

Não enlouqueci logo no início, porque sabia que a ansiedade e o desespero eram os maiores rivais desse tipo de concurso, então mantive a calma nos dois primeiros desfiles e só começaria a me preocupar quando fossem anunciar as finalistas.

O concurso correu bem e como o planejado: as que não agradavam os jurados saiam, uma por uma, e quando me dei conta, eu era uma das finalistas... Eu, uma loirinha e quem eu menos gostaria que estivesse entre nós... a K!

Voltamos aos camarins e parecia que para K a nossa amizade de 10 anos já não existia mais. Fitava-me com os olhos como se fôssemos inimigas de concurso e que a qualquer instante uma de nós duas voaria no pescoço da outra e arrancaria cabelos e unhas postiças.

Antes de voltar para o palco para a última prova, ouvi que alguém reclamava e gritava muito no corredor do backstage, e quando fui ver, era um menino mais ou menos da minha idade que quando reparou que eu estava ali, parou imediatamente o escândalo e disse:

- Você deve ser a Manu. Eu sou Henrique, filho do dono disso tudo!

- Sim, sou... E por que estava fazendo esse escândalo todo?

Ele fechou a cara. Não disse mais nada e saiu andando para o sentido contrário do palco principal. Eu, sendo a maior curiosa do mundo, tive que seguí-lo.

Ele andava a passos largos e com pressa, então tirei meus saltos (que com certeza não foram feitos para longas caminhadas) para alcança-lo e não o perder de vista. Quando chegamos ao destino (que ficava há 4 quarteirões de distancia do concurso), uma garagem abandonada, me escondi atrás de uns carros que também pareciam abandonados do outro lado da rua e esperei até que ele entrasse.

Pensei que seria rápido, que fosse pegar alguma coisa e que sairia logo de lá, mas é claro que ele não saiu, até porque, quem esconderia algo para pegar depois naquele lugar, não é mesmo?

Depois de 15 minutos esperando, pessoas que passavam pela rua me olhavam como se eu fosse uma louca que fugiu de algum hospício com um vestido curto de pedraria e com os sapatos na mão, mas na verdade, quem era mesmo louca eram elas... Fazer uma caminhada pela rua mais sombria da cidade? Só em sonho!

Coloquei os sapatos e atravessei a rua na ponta do pé porque não queria sujá-los e dar alguma pista que eu tinha fugido do concurso... Ai meu Deus! Eu já estava há muito tempo sumida e o pessoal já devia ter chamado a polícia uma hora dessas, mas, a minha curiosidade foi maior que a preocupação que eu nunca tive sobre esses assuntos de beleza, então prossegui com o plano.

Fui andando e fazendo o mesmo caminho que Henrique tinha feito, cheguei à porta da garagem e olhei por um buraco, exatamente do tamanho de uma bala de revólver.

Na hora congelei de medo, poderia estar me metendo em lugar errado, mas continuei, respirei fundo e espiei pelo buraco, e adivinhe só? Lá estava o Henrique... e espera, aquela ali é a K segurando a Grande Coroa?


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