O estrangeiro - Parte I

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O dia começou como de costume: acordei depois da décima vez que meu despertador tocou, desci para dar "Bom dia" a todos, tomei café, me troquei, fui para o colégio e não suspeitava que havia um indivíduo novo prestes a mudar as coisas, esperando por mim na cadeira logo atrás da minha, na sala de aula.

Ele era de outro país, alguma coisa perto da Europa porque tinha um nome bem característico daquela área: Christopher.

Enquanto andava até o meu lugar, olhava para Chris que era alto, magro, tinha cabelinho da moda e grandes olhos castanhos me olhando de volta sorrindo e provavelmente pensando: "Nossa, certeza que essa sofre bullying, nem penteia o cabelo de manhã". Ok que isso era verdade, mas nem estava tão ruim assim.

- Oi, eu sou a Manuela, mas pode me chamar só de Manu, bem-vindo ao Inferno!

- Muito prazer "só Manu", sou Christopher e muito obrigado pelas boas vindas...

Ai, aquele sotaque europeu maravilhoso era tudo de bom, mas confesso que depois de dois minutos de conversa, já começava a quase fazer leitura labial para conseguir entender o que ele dizia quando se empolgava e falava rápido demais.

Estava tão concentrada na conversa que nem vi quando o professor de História entrou na sala dizendo:

- Olha só se não é o nosso novo intercambista...

É claro que depois dessa quase dúzia de palavras, todos se viraram para olhar Chris e consequentemente para mim, "a estranha que não penteia o cabelo de manhã" e "aquela que já estava dando em cima do menino novo."

Sempre odiei esses estereótipos que as pessoas da escola davam aos outros sem ao menos conhecê-los ou saber suas intenções com certas pessoas, como nesse caso, em que eu só estava servindo como uma "tutora" para mostrar o colégio para o aluno novo que, com certeza, estava mais perdido que eu.

Pude ver de canto de olho K agitada, batucando as unhas na cadeira da frente, desenhando na mesa e não prestando a mínima atenção à aula, até que resolvi alertá- la:

- K, você está me incomodando... Controle-se menina!

- Não consigo amiga. Hoje à tarde é a minha sessão de fotos para a revista do bairro. Ai, essa bendita sessão...

Já fazia mais de duas semanas que ela não parava de falar sobre isso e queria que eu fosse junto para "apoiá-la", mas é claro que esqueci, até porque, Chris parecia bem mais interessante que câmeras e sorrisos falsos para a lente.

As aulas da escola têm 1 hora de duração, mas especialmente aquela, parecia durar cinco. Chris já tinha respondido mil perguntas sobre o 2º Reinado (o que era bem estranho) e ainda faltavam longos 20 minutos.

Quando o professor mandou nós fazermos um exercício do livro, virei para trás para ajudar Chris a achar a página e responder, mas por incrível que pareça, ele já tinha feito tudo e estava muito ocupado apontando todos os seus maravilhosos três lápis pretos, então resolvi não o incomodar.

Fiz o exercício por conta própria mas fiquei com aquela dúvida de "como ele conseguiu responder a todos os questionamentos do professor e do livro se o normal seria ele estar confuso por estar em outro país e não compreender nada da matéria? " Então no final da aula, depois de todos saírem, fui conversar com ele:

- Chris, você sempre foi bom em História?

- Sim, eu adoro História porque meu...

Nessa hora, K surgiu na porta da sala com metade da cara maquiada gritando e me chamando:

- Manu, corre, acho que uma menina acabou de morrer ali no banheiro!

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