Garota do Século

Amizades verdadeiras - Parte II

Entrei em choque.

K abriu a porta tão desesperada que quase cortou o pé com os cacos de vidro do copo que deixei cair no chão após descobrir que minha melhor amiga me usava para se sentir mais bonita.

-Manu, o que você fez? E o que está fazendo aqui?- perguntou K.

-Não consegui controlar a emoção por saber que minha melhor amiga é uma ótima atriz! - gritei com lágrimas nos olhos de raiva.

Se a mãe de K não tivesse se intrometido pedindo para ficarmos longe do vidro para não nos machucarmos, juro que voaria no pescoço dela, mas, apenas me desculpei pelo transtorno e voltei para casa.

Entrei em casa e bati a porta tão forte que acordei os gêmeos e metade do prédio com o barulho. Minha mãe veio correndo do quarto achando que estava acontecendo um terremoto ou algo do tipo, mas quando me viu sentada no chão da sala, vermelha de raiva e de tanto chorar percebeu que a situação era bem pior.

- Filha o que aconteceu? Foi assaltada? - perguntou mamãe.

- Sim, mãe, roubaram minha confiança. -respondi secando as lágrimas.

Ela arregalou os olhos. Levantei do chão e fomos até a cozinha para eu tentar contar a minha mãe tudo o que tinha acontecido, enquanto ela me dava água com açúcar.

Desabafei com mamãe e no dia seguinte não fui para a aula.

Com tanto tempo livre o dia todo, resolvi terminar a lista de convidados da minha festa e já começar a nomear os convites.

Depois do ocorrido da noite passada, ficara muito mais fácil saber quem tirar ou colocar na lista. Criei meu próprio filtro e comecei a analisar cada amizade separadamente e me dei conta de quantas pessoas eram iguais a K.

Luiza era uma delas. A menina mais bonita da escola e com cara de "melhor pessoa do mundo" com certeza não era quem mostrava ser, já que no ano passado quando fui pedir para almoçar na mesa dela , ela fingiu que não me ouvia.

Outro caso era o Manuel, o capitão do time de futebol. Praticava bullying comigo e com meus amigos, fazendo-nos cumprir um castigo pelo simples fato de sermos mais novos que ele.

Mas não eram só os populares que foram eliminados da lista. Lembro-me da vez em que Isa, minha amiga de infância, deixou de ir à minha festa de 12 anos, pois preferiu ir à de Alice, a menina mais rica da escola, naquela época.

Enquanto me lembrava de todas as pessoas que só viviam às custas de algum status social, lembrei o que minha mãe tinha me dito na noite passada: "Tratar qualquer pessoa mal ou a julgar pelo fator social, monetário ou qualquer outro só o torna alguém ruim de espírito além de uma pessoa que ninguém quer ter por perto", por isso, risquei todos esses "amigos" da lista e da minha vida.

À noite, K mandou mensagem para minha mãe por uma rede social, já que tirei ela de todas as minhas, perguntando se estava tudo bem, pois eu não tinha ido ao colégio e precisávamos conversar.

Não fui infantil ao ponto de me negar a ouvir o que ela tinha para me dizer, então, pedi para mamãe avisá-la que no dia seguinte esperaria por ela na saída da última aula.

Acordei mais cedo e adiantei alguns convites, até porque em meio à tanta confusão, duas semanas tinham se passado e não tinha nada pronto.

Entreguei para algumas pessoas no intervalo e, para minha surpresa, todos ficaram felizes em serem convidados e deram confirmação que iriam, até o Rafa.... SIM, EU O CONVIDEI! Nunca fui tão próxima dele, mas qual a melhor oportunidade de passar a conhecer alguém, não é mesmo?

Claro que K me viu entregando os convites e no fim do intervalo tentou puxar assunto dizendo:

- Ei, vi que perdeu a vergonha e chamou o Rafa, mas...

Apenas a ignorei e disse que só falaria com ela ao fim do dia.

Foram as últimas 3 aulas mais longas da história, mas quando finalmente o sinal tocou e estávamos liberados, saí da sala determinada a falar tudo que estava entalado na garganta para K.

Eu a vi no portão mexendo no celular e enquanto me aproximava, vi que Rafa também estava indo em sua direção e chegou antes de mim. Fiquei há alguns metros conversando com Chris sobre alguma matéria de biologia que ele estava com dúvida, mas na verdade, só queria saber o que os dois estavam conversando.

Chris ficava toda hora estalando os dedos na frente do meu rosto chamando minha atenção, porque sabia que não estava ouvindo, e quando finalmente lhe dei atenção, ele disse:

- Não olha agora, mas acho que aquele é o seu convite e ele tá sendo rasgado pelo Rafa.