Garota do Século

K, cadê você ? - Parte I

Já tinha passado das 20h. Eu nem tinha começado a me arrumar e já estava uma pilha de nervos! Se não fosse pelo João, meu irmão mais novo, que rasgou meu vestido pensando que era uma roupa de boneca, talvez eu já estivesse pronta.

Mamãe sempre diz que não posso implicar com os gêmeos. "Filha, o João e a Fê são pequenos e não entendem o que é certo ou errado.". Ok, mãe, isso eu entendo, mas ter destruído meu vestido de formatura, que fiquei dias procurando (não foi tanto tempo assim, mas ele era perfeito) não era algo tão simples.

Tive de ligar para a K e pedir um dos seus maravilhosos vestidos emprestado. Para o meu azar, ela não estava em casa nem atendia a porcaria do "Iphone 8 superplus". Não entendo o motivo de ter um smartphone de última geração se a pessoa não olha as ligações de sua melhor amiga desesperada.

Depois de alguns minutos ela me mandou uma mensagem dizendo: "Oi amiga, desculpa, estava no salão me arrumando para o baile de hoje! Estou super animada! Aquele Rafa vai estar lá e soube que está de olho em você!"

Devo ter ficado com uma cara de palhaça olhando para a mensagem durante uns 30 segundos e pensando...O RAFA DE OLHO EM MIM? Não dava para acreditar! Mas só depois de um tempo caiu a ficha: ela deveria estar só brincando. Até porque, o cara mais gato do colégio não estaria de olho numa menina no auge da adolescência cheia de espinhas e que tinha o lindo apelido de "sorriso metálico" por causa do aparelho ortodôntico que usava desde o Fundamental.

Resolvi ligar para ela porque já estava atrasada. Escrever uma mensagem explicando tudo o que tinha acontecido demoraria demais. O telefone tocou 3 vezes até que K atendeu:

- Manu, você já está pronta? - disse ela.

- Ainda não, porque...

Nem tinha terminado a frase e ela já veio me interrompendo:

- Como assim não? O nosso baile de formatura já começou há horas! Daqui a 10 minutos passo na sua casa e vamos juntas...

- Karol, não tenho vestido! - gritei (único jeito que ela me escuta)

− Mas como assim, amiga? O que houve?

Expliquei tudo nos mínimos detalhes e não pude deixar de fora a minha total impaciência com os gêmeos! Bendita hora que minha mãe decide se casar com um cara bem mais novo e entusiasmado para ter filhos.

− Ok, Manu! Já estou correndo para sua casa com um vestido lindo que é sua cara! - disse K, depois de entender o que tinha acontecido.

Por morarmos numa distância máxima de dois quarteirões, K chegou rapidinho com meu vestido. Ele era lindo! Azul com alças de seda! Realmente como eu gostava.

Chegamos ao baile exatamente às 22h. Já estavam preparando tudo para a foto coletiva dos formandos com direito a taças de champanhe e à chuva de papelzinho prateado, que estragava o penteado de todo mundo.

Durante a festa, percebi que K chamava certa atenção. Estava com um vestido vermelho-cereja decotado e com saltos Louboutin (€ 500,00 em cada pé). Todos olhavam muito para ela, em especial os homens, que soltavam elogios nada agradáveis... (Mas você deve estar se perguntando: mas e você, Manu? Eles não olhavam para você? Bom, até olhavam, mas eu percebia o desdém vindo de seus olhares que batiam em K e refletiam na menina vestida de azul do sorriso metálico, no caso, eu).

Quando o lugar já estava lotado, percebi uma movimentação estranha das pessoas. Estavam todos com cara de assustados, como se alguma coisa muito grave tivesse acontecido. Comecei a andar no meio daquele monte de gente que parecia não ouvir meus pedidos de "com licença", enquanto eu procurava K para saber o que tinha acontecido.

No meio do caminho trombei com Isa, uma amiga antiga, que estava com o rosto vermelho de tanto chorar e que não falava nada com nada. Tentei entender o que ela estava dizendo, mas com os soluços e lágrimas que cortavam as palavras que ela tentava pronunciar não conseguia, até que ela parou de chorar quando ouvimos um grito agudo e estridente vindo do 2º andar do prédio principal.