Os últimos serão os primeiros - Parte III

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A passagem era escura, estreita e cheia de teias de aranha.

Por Atenas ser do tipo "atleta durona" foi na frente abrindo caminho.

Chegamos à entrada principal do teatro que estava repleta de caixas com material do próprio colégio. Por serem curiosos, todos começaram a mexer nas coisas, brincar com fantasias perdidas e deixando de lado o real motivo pelo qual estávamos lá.

- Galera, vamos nos organizar em equipes para encontrar o aluno perdido! Esse lugar é muito grande então precisamos da ajuda de todos! - ordenei.

Atenas foi a 1ª a se voluntariar para liderar uma das equipes. O grupo não era tão grande então dividir em 3 equipes foi o suficiente para começar as buscar.

Enquanto uma das equipes conferia o mezanino e a outra vasculhava a plateia, a minha ia em direção aos camarins.

Eram dois andares de camarins então nos dividimos em dois novos grupos. Fiquei responsável pelos camarins masculinos do térreo junto com o loiro baixinho e uma menina que parecia bem tímida.

O silêncio era tão grande que resolvi quebrá-lo perguntando à menina como se chamava e de que escola tinha vindo. Para minha surpresa, ela também se chamava Manuela e sua última escola era em uma cidade do interior, o que justificava seu sotaque.

Enquanto conversávamos, ouvi o loiro baixinho dizer:

- Meninas, se não foi o aluno perdido, foi um fantasma quem bateu aquela porta agora?

Na hora tive que assumir o papel de "mais velha corajosa" e ir na frente para conferir.

"Ei, tem alguém aí?" dizia entrando no camarim, e a cada passo que dava, podia sentir minha boca secando e meu estômago embrulhando de tanto nervoso, até que cheguei até a porta e olhando pela fechadura, pude ver o aluno perdido lá dentro usando a lanterna do celular para descobrir onde estava.

Tentei abrir a porta, mas devido à forte correnteza de vento que a empurrava, tive que contar com a ajuda de Manu e o loirinho para abrir.

Quando finalmente abrimos a porta, o aluno perdido não parecia notar nossa presença. Estava de costas para nós, e, apesar de todo barulho que fizemos para abrir a porta, ele só viu que estávamos lá quando eu o cutuquei e ele se virou para nós.

- Nossa menino, o que veio fazer aqui? - Disse o loirinho em um tom descontraído.

O menino perdido franziu o cenho e fez alguns sinais com as mãos, e só aí caiu a ficha: ele era surdo.

Como nenhum de nós conhecia libras, escrevi no celular que tínhamos que sair de lá e dei para ele ler. O menino fez um sinal de positivo com as mãos e fomos nós quatro ao encontro do resto do grupo.

A equipe de Atenas estava na entrada do corredor dos camarins quando nos encontramos e o resto do grupo estava descendo do mezanino, onde dava no mesmo lugar.

Expliquei para todos quem era o menino perdido e todo o ocorrido, mas é claro que o loirinho teve de dar um toque especial e incluir alguns fantasmas e criaturas supernaturais na história para parecer que ele tinha sido o herói de toda história.

Enquanto caminhávamos para fora do teatro, Atenas chegou perto de mim e disse que queria me falar alguma coisa, mas aquele não era o momento, e como eu não podia forçá-la a falar apesar da minha curiosidade, apenas assenti com a cabeça.

Por incrível que pareça, chegamos a tempo para a reunião de boas-vindas e todos do meu grupo me agradeceram por terem tido um tour diferente dos outros.

A reunião ocorreu como esperado, mas antes de todos irem para suas salas, Atenas subiu no palco, pediu o microfone e disse:

- Antes de vir para cá fiz uma lista de todos meus possíveis amigos. Pesquisei aluno por aluno e, com certeza, quem hoje está em primeiro estava bem lá no final. Manu, você me ensinou como ser corajosa em qualquer situação, e, além disso, me mostrou que "os últimos podem ser os primeiros", já que agora, quero você como uma amiga para a vida toda.

Caí em lágrimas, corri para o palco e enquanto a abraçava, apenas agradeci por eu ser tão cabeça-dura e não ter seguido minha intuição de deixar de ser amiga dessa pessoa sensacional.


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