Me chamo Felipe, sou Presidente da empresa da família, alcancei esse cargo com esforço e dedicação.
Fui criado numa família rica, no entanto, nunca ganhei nada de mão beijada.
Meu irmão mais velho era o preferido, ele era o "único" filho perante a família.
A mim sobravam as migalhas e a boa ação do meu irmão.
Entrei na empresa como estagiário e me esforcei para crescer na empresa.
Subi um cargo de cada vez, mas empaquei no de Diretor, por mais que tentasse nada me fazia subir mais.
Até que descobri o porquê.
- Casamento é um dos pré-requisitos para ser um Presidente.
- Desde quando, pai?
- Desde hoje.
- Pai, não quero me casar. Nem conheço ninguém para isso.
- Eu tenho a mulher perfeita para você.
- Como assim?
- Um conhecido precisa de um incentivo na empresa e tem uma filha bonita com boa idade para casar.
- Pai...
- Que bom que você gostou da ideia. Eles vão vir jantar aqui hoje. É bom que já firmamos o compromisso.
- Pai...
- Espero que, pelo menos, vista um terno descente e receba sua noiva quando ela chegar.
- Pai, eu não vou me casar com uma desconhecida só pra subir de cargo.
- Você quem sabe, se casar é a única opção.
Às 19h eu estava em pé na sala recebendo uma família de amigos do meu pai que nunca tinha visto.
Quando cheguei na sala, meu pai colocou em minha mão uma caixinha:
- Faça o pedido após a sobremesa.
Durante o jantar nós mal nos olhamos.
Nossos pais conversavam sobre os negócios e nossas mães falavam sobre moda.
Eu olhava para o meu prato e quando direcionada meu olhar a ela, notava que ela fazia a mesma coisa.
Após a sobremesa nos encaminhamos para sala e antes de me sentar no sofá, senti meu pai me segurando e chamando a atenção de todos.
- Essa é uma noite muito feliz para todos nós. Meu filho tem algo a te dizer.
A fala mansa me deixava enjoado.
Fui empurrado de leve na direção da moça, que me olhava com cara de choro, raiva e mais um monte de emoções, sendo que nenhuma delas era felicidade.
Percebi ali que estávamos sendo fantoches nas mãos de nossas famílias.
Pior ainda, eu a estava usando para alcançar o que eu tanto desejei a vida toda.
O que era meu, por direito.
- Faça o pedido, Felipe.
Meu pai falou demonstrando incentivo aos demais, mas senti como uma ordem direta.
A mãe da moça, que eu nem sabia o nome ainda, a empurrou em minha direção.
Meu pai colocou a mão em meu ombro indicando que eu deveria bancar o príncipe encantado e assim o fiz.
Ajoelhei aos seus pés, peguei sua mão direita e sem olhar para ela fiz o pedido:
- Aceita se casar comigo?
- Sim.
A resposta foi seca, aumentando ainda mais o peso da minha escolha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Usando e abusando
Short StoryNosso casamento foi organizado pela família com objetivos definidos: continuar a linhagem e aumentar o patrimônio da família. O segundo, até que foi fácil. Mas o primeiro...