O casamento foi pomposo demais.
Para mim tudo era demais e a noiva parecia concordar comigo.
Era nítido que ela não queria aquilo, assim como eu.
Fui um bom marido e a fiz sair mais cedo da festa, com a desculpa de ir para a lua de mel.
Saímos do casamento, passamos em um hotel para trocar de roupa e partimos pro aeroporto
Dentro do carro, não nos falamos e não nos olhamos, para não dizer que não a toquei, ajudei com o vestido.
Nossa viagem de Lua de Mel seria clichê: Paris.
Para todos um sonho, mas para nós, que mal se olhavam, um pesadelo.
Dormimos no mesmo quarto e fazíamos as refeições juntos, para o caso de ter alguém nos observando.
No mais, mal nos falávamos.
Quando voltamos, fomos direto para nosso apartamento e eu fui assumir o cargo pelo qual paguei tão alto.
Em casa, tudo era no automático.
Os dois trabalhavam, quando chegava jantava e dormia.
Aos poucos fomos nos conhecendo e nos acostumando um com o outro, como bons amigos de dormitório.
As conversas eram poucas, os assuntos giravam em torno do que acontecia em casa: comida preferida, café com ou sem açúcar, o que come de manhã, dorme de que lado, um ou dois cobertores, etc.
Tínhamos uma empregada em casa, mas ela dispensou, dizia que a mulher nos vigiava.
Então, passamos a cuidar da casa juntos, num acordo amigável.
Tudo estava tranquilo, isso até começar a nos convocar para os jantares tradicionais de família nos fins de semana.
O primeiro foi tranquilo.
O segundo já percebi que havia algo errado.
No terceiro ela me perguntou quando teríamos filhos.
Do quarto em diante, a mulher parecia desesperada por um filho.
Fui enrolando e me fazendo de desentendido.
Sabia que era esperado que tivéssemos um filho logo, mas nosso casamento só tinha o nome.
De um lado eu via minha esposa me olhando como um cachorro pidão.
Do outro, minha família apontando o dedo e exigindo a confirmação do casamento com um filho.
De repente, tudo começou a desandar.
Meu pai começou a me boicotar, fazia de tudo e mais um pouco para me ferrar na empresa.
Em casa, a mulher que mal me respondia, parou de falar comigo de vez.
As coisas foram se embolando e me dando vontade de voltar ao cargo de Diretor.
Quando eu não via mais a luz no fim do túnel, minha esposa voltou a falar comigo.
- Vamos tomar um chá antes de dormir?
Foi o dia que cometi o maior erro da minha vida.
O que estava ruim sempre pode piorar.
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Usando e abusando
Short StoryNosso casamento foi organizado pela família com objetivos definidos: continuar a linhagem e aumentar o patrimônio da família. O segundo, até que foi fácil. Mas o primeiro...