Capítulo 3

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FLORIAN


Anos depois...


Olho o teto branco do meu quarto na clínica enquanto lembro daquele dia.

Aquela foi a primeira vez que essa personalidade tentou ceifar nossas vidas. Aprendi muito sobre cada uma delas em todos os meus vinte e três anos. Naquele dia eu acordei no hospital como eu mesmo. Florian Seven. E fui eu quem sugeri ao meu pai maior vigilância sobre mim. Nunca quis morrer. Considero a vida um bem precioso. Por mais sessões que façam e me questionem sobre momentos traumatizantes não tenho nenhum. Era novo demais quando nossa mãe morreu. Claro que sofro com isso, mas não acho que justifique nada da loucura que acontece na minha cabeça. Eu queria mesmo era poder conversar com eles, saber o que querem, tentar entender porque apareceram. Os médicos sugerem abusos... O que nunca aconteceu. Pelo menos não que eu me lembre. Sem contar que ninguém é maluco de abusar de um Seven.

Suspiro.

Se eles ao menos falassem comigo.

Não fico acordado quando elas aparecem, mas sabemos da existência um do outro. O Death sabe mais que todos nós. De acordo com o terapeutas é como se ele fosse o núcleo de tudo, absorvesse tudo. Já cheguei a pensar se ele é o principal e eu sou apenas mais um na cabeça dele. Parei com esse pensamento antes de perder o resto de lucidez que me resta.

Na maioria das vezes o que nos desperta são situações. Por mais fraco que seja o perigo pode aparecer o Caçador. A visão de uma pista de skate pode trazer o SF. Um sentimento de preguiça pode trazer o "Sid", decidi o chamar assim por causa da preguiça do filme A era do gelo. Se eu passo perto de uma igreja ou se escuto algo relacionado "Judas" aparece, claro que ele não se chama assim, mas eu chamo, só pra zoar. Ele se nomeou de Messias. Muito estranho. Quanto a Flor, o que dizer da Flor... ela aparece quando dá na telha. É uma abusada que me faz muitas vezes acordar de gloss ou de calcinha, ou os dois. Ainda bem que não usa batom. Segundo ela, cor só esconde a beleza dos seus lábios. Quanto a Death, infelizmente ele aparece em não raras ocasiões. Basta um resquício de tristeza.

Agora tenho que ficar feliz sempre ou esse louco aparece para nos matar. É foda.

Quando surgiu a oportunidade de vir para essa clínica não me opus. Afinal, eu jamais teria uma vida normal. Alguém como eu não pode ter uma profissão, uma família. E se o Caçador decidir que essa família é ameaça? Ou se o meu eu suicida decidir que devemos morrer juntos?

É uma vida de merda. E eu não quero mais pensar sobre isso antes que alguém sinta cheiro de tristeza e decida aparecer.

Melhor dormir. Adam avisou que vem me ver amanhã. Quero paz para que seja realmente eu a recebê-lo.

Limpo a minha mente e começo a contar tiros — eles são meus carneirinhos — até dormir.


CAÇADOR

Desperto com sons de tiros, ou melhor, me despertam. Antes de abrir os olhos já sorrio. Estou de volta.

Animado, vou até o pequeno guarda-roupa e escolho a minha calça preta, blusa branca e jaqueta de couro, sem esquecer o óculos. Aqui tem roupas para todos nós. Somos bem tratados. Os tiros continuam. Algo divertido está acontecendo lá fora.

Sento na cama e espero o momento certo de entrar em cena.

Quando percebo movimento na porta, me coloco perto dela.

Não demora para a tranca explodir com um tiro.

Um babaca todo de preto e de máscara passa pela porta segurando uma arma.

Ele nem tem tempo de ficar confuso por não me ver na cama. Vou por trás e o ataco, tirando sua arma e usando para matar seu companheiro que veio em seguida. Logo depois atiro na sua cabeça. A adrenalina me deixa feliz.

— Armas de graça! Gostei desse pessoal.

Saio do quarto e encontro um guarda morto com celular e fones no ouvido. É o preguiçoso. Deve ter sido pego no cochilo.

Me abaixo e pego as coisas do defunto.

Claro que uma trilha sonora viria a calhar. Sempre tem nos filmes de ação.

— Desculpa ai. Mas você não vai precisar.

Coloco o fone e encontro Michael Jackson em último som. Bom gosto tinha o falecido.

Saio atirando em todos que posso. E curtindo o som.

Na saída da clínica, depois de matar vários desses mascarados de preto, dou tchau cantarolando a melhor música do rei do pop.

— You know I'm bad, I'm bad, you know it, you know (Você sabe que eu sou mau, eu sou mau, você sabe disso, você sabe).

Me viro para a porta e faço a dancinha do Michael.

— Who's bad? (Quem é mau?)

Pena que ninguém assiste, estão ocupados, mortos.

Sorrio saindo sem que mais mascarados me notem.

Hora de mostrar ao mundo que eu sou mau.

Férias para Florian. Agora é hora do Caçador.

Branca de Neve do Mafioso - Contos da Máfia IV - Completo até 01/07/2024Onde histórias criam vida. Descubra agora