Capítulo 5

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BRANCA


Nasci no inverno. Não que tenha nevado na época. Já nevou alguma vez no Rio? Não que eu tenha visto.

Apesar da minha aparência, minha mãe não me deu o nome Branca por causa do conto de fadas ou por causa da neve, que eu nunca vi ao vivo. Esse era o nome da minha bisavó. Cheguei a conhecê-la, mas ela morreu quando eu ainda era pequena. Nessa época passei a morar só com a minha mãe. Meu pai aparecia raramente para visitas curtas. Eles se divorciaram logo que nasci. Meu pai vivia longe e isso acabou com seu casamento. Quase não tinha contato com ele.

Eu tinha quinze anos quando isso mudou.

Minha mãe ficou muito doente a acabou falecendo. Meu pai ficou com a minha guarda. Eu só não sabia que viveríamos em um morro.

Eu não sabia que meu pai era um traficante de vida dupla. Ele nunca foi o empresário que minha mãe achava que era.

Foi difícil me acostumar com a mudança drástica de cenário. Sem contar que ele parecia sempre em guerra com tudo e com todos. Eu era cercada por seus capangas, pois a qualquer momento alguém poderia me usar para o atingir.

Odiava tudo isso. Mas eu não tinha escolha. Tinha que estudar, arrumar uma profissão e me afastar de tudo que ele representava.

Cinco anos se passaram e me acostumei com quase tudo nesse lugar. Fiz amizade com muita gente, e conheci Maria, minha melhor amiga, alguém que eu faria tudo para ver sorrir, o que raramente acontece. Ela e seu irmão virão o pior lado do ser humano.

Também tive nesse tempo uma paixonite pelo João, irmão de Maria, mas não passou disso. Ninguém me olha como alguém solteira e livre. Sou apenas a intocável filha do Jafar. Sou protegida praticamente vinte e quatro horas por dia.

Quando fiz dezoito anos, meu pai me deixou morar sozinha aqui no morro, porém não é o que eu esperava, pois seus guardas me monitoram o tempo todo. Meu pai sabe cada pessoa que entra na minha casa e quanto tempo fica. Sei que monitora até o meu lixo. Mas não me iludo achando que é para minha segurança porque me ama. Ele me vê como uma obrigação, uma da qual não quer abrir mão por puro egoísmo. Ele gosta de saber que tem total controle sobre a vida de alguém, a minha vida.

Hoje foi a primeira vez que ele deixou eu sair para ir à praia só com Maria.

E o que eu faço? Trago um homem desconhecido escondido para a minha casa. O coitado veio todo amassado no chão do banco de trás com um monte de bagunça de praia jogada por cima para que não fosse visto por ninguém.

Agora, olhando para ele — lindo por sinal — e ouvindo o nome Seven vejo que perdi mesmo o juízo. Meu pai odeia essa família mais que tudo... Então por que não quero deixá-lo ir? Sensação esquisita.

Eu não posso estar aqui. Eu sou um Seven. Foram essas suas palavras. E estou aqui, o encarando, sem saber o que dizer.

Meu olhar percorre seu rosto bonito. Os cabelos escuros e lisos caindo pelos ombros de forma bagunçada, o queixo quadrado, a barba rala, e olhos cinzas hipnotizantes.

Ele passa a mão no cabelo e senta novamente no sofá em uma pose de dono da porra toda.

— Por que me trouxe aqui? — pergunta levemente desconfiado.

Dou de ombros.

— Não sei. Não pensei. Apenas te vi ali desmaiando e desmaiado... — Dou de ombros novamente. — Pois é, não pensei.

É impressão minha ou vi um sorriso quase se formar nesse rosto de beleza aristocrática?

Novamente passa a mão nos cabelos.

— Minha família deve estar me procurando depois do que... — Ele para. Como se tivesse se dado conta de algo. — Tanto faz. Tem como sair daqui sem levar um tiro no peito? Preciso voltar para casa.

— Não é tão fácil. — Ele levanta a sobrancelha grossa, novamente mostrando desconfiança. — O meu pai me mantem sob vigilância. Ninguém além da minha amiga sabe que o trouxe para cá.

— Conveniente.

Começo a me sentir irritada. Seu tom é como se eu o tivesse sequestrado.

— Não se preocupe. Farei o impossível para que vá embora em segurança o mais rápido possível.

— Beleza. Enquanto isso, pode me dar qualquer coisa pra prender essa droga? — e novamente passa a mão nos cabelos, incomodado.

— Se não gosta, por que não corta?

— Porque Flor gosta e outras pers... — ele para a palavra e dá de ombros. — Sou voto vencido.

Flor? Que nome brega.

Deve ser da namorada... ou uma delas, já que ele usou a palavra outras.

E por que estou com ciúme de um desconhecido? Não sabia que era psicopata assim.

Seguro a vontade de rir dos pensamentos e viro as costas para ele, subindo as escadas e indo até o meu quarto. Tenho vários elásticos coloridos que uso para prender meu cabelo. Pego um branco e volto, estendendo para ele.

Ele pega e se levanta amarrando o cabelo de qualquer jeito. Claro que ainda continua lindo.

— Por favor, sinta-se em casa até que eu resolva essa bagunça que causei.

— Relaxa, meu anjo.

— Meu nome é Branca — o corrijo.

— Florian. — Ele estende a mão e aceito o cumprimento.

Sinto seus dedos na minha pele. A mão grande faz meu corpo despertar de um jeito muito erótico.

Engulo seco. E puxo a mão.

— Me siga. Tenho um quarto de hospedes, caso queira descansar.

Sem esperar resposta, sigo para o segundo andar. Escuto seus passos me seguindo. Enquanto só penso em que merda eu tenho na cabeça para entrar em um caos que eu mesma criei.

Será que não penso? Olha o tamanho desse homem... ele poderia me fazer em pedacinhos só para atingir meu pai. Já ouvi histórias absurdas sobre os Seven.

Doida, Branca. Você é mais doida que a Branca de Neve que vai morar com sete anões que nunca viu na vida.

Branca de Neve do Mafioso - Contos da Máfia IV - Completo até 01/07/2024Onde histórias criam vida. Descubra agora