Capítulo 10

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FLORIAN


Não vejo a cara da mulher que conversa com Branca, mas pelas palavras que saem de sua boca posso afirmar que se trata de uma megera mal-amada e invejosa.

Enquanto escuto tudo, mudo de ideia sobre contar a ela os meus problemas. Ela já tem os seus próprios, que parece serem muitos.

Escuto tudo, a falação sobre o vestido e festa, o absurdo de deixar Branca careca, e o cúmulo de dizer que vão obrigar o meu anjo a casar com um babaca qualquer. Por cima do meu cadáver.

Fico escondido até a hora que escuto a porta bater com força indicando que a megera se foi.

Branca está parada, encarando a porta como se estivesse hipnotizada.

— Branca... — Ela continua imóvel. — Tudo bem?

— O show acabou. — São suas palavras antes de me deixar sozinho.

Não vou atrás dela. Não preciso de muito para entender que precisa de espaço.

Volto para cozinha e pego uma cerveja. Faz tempo que não bebo. Muito tempo mesmo. Na última vez que fiquei bêbado a minha mente ficou confusa e acabei oscilando entre as personalidades. Ainda bem que foi em uma reunião de família na casa do Adam. Raoul gravou e até hoje eles fazem piadas daquilo.

Pensando naquele dia "feliz" abro a cerveja e tomo um gole. Meus olhos seguem para o balcão onde um par de vestidos horrorosos estão.

— A Flor enfartaria se alguém a obrigasse a vestir isso — resmungo sozinho, tocando o tecido feio com a mão livre.

— Quem é Flor? — a voz feminina me faz sobressaltar.

— Porra!

Maria ri.

— Devia ser mais atento. O pai da Branca não pede licença para entrar.

— Pelo jeito nem você. — Ela dá de ombros. — E nem a megera da madrasta.

— Cristal esteve aqui? — assinto. — Caralho! Como Branca está?

— Acho que mal. Ela se trancou no quarto.

— Vou subir. Minha amiga precisa de mim.

— Espere. — Ela para e se vira para mim. — Aquela mulher raspou a cabeça dela mesmo?

— Ela é uma invejosa. E o pai da Branca é um imbecil. Isso responde sua pergunta?

Confirmo com a cabeça e ela sai sem dizer mais nada, subindo as escadas.


Elas ficam no quarto por mais de uma hora.

Quando descem Branca evita me olhar. Não sei se por causa do beijo ou pela visita da megera.

Elas fazem pipoca e se sentam na sala comigo, vendo uma série de crimes aleatórios.

— Você ainda não me disse quem é Flor. É sua namorada? — Maria pergunta.

Dessa vez Branca me olha.

— Como posso dizer? — penso. — Ela é quase uma irmã. Está sempre comigo. Tenho mais cinco "pessoas" como ela na minha vida. — Faço aspas com a palavra pessoas.

— Isso é bonito. — Branca diz. — Também tenho essa pessoa. — Ela aperta a mão da amiga, que sorri e a abraça.

É uma amizade bonita.

Depois de um tempo de melação, Maria insiste no assunto Flor.

— Eu achei que realmente ela era sua namorada.

— Na verdade, não é ela. — Revelo uma pequena verdade.

— Ahhhh! — as duas dizem juntas.

Conversamos um pouco mais sobre banalidades. Acabou que elas contaram bastante coisas que a megera fez com Branca. A mulher só pode ser louca.

Depois de um tempo Maria decidiu ir e levou o número do meu pai para ligar e informar que não precisa me buscar ainda, que estou bem e voltarei em breve.

No mesmo dia ela mandou mensagem em código informando que havia feito. Um dos guardas que rodeiam a casa foi que avisou.

"O filme está em cartaz. Quando der, a gente assiste." Essa foi a mensagem que ela o pediu para passar. O que significa: O meu pai está avisado, podemos planejar sem pressa e sem tiros como sair do morro.

Enquanto olho Branca cochilando no sofá, me pergunto se tenho alguma pressa de ir embora. Simplesmente não.

Branca de Neve do Mafioso - Contos da Máfia IV - Completo até 01/07/2024Onde histórias criam vida. Descubra agora