Capítulo 34

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Kara devolveu vários livros às prateleiras do escritório de Lena. Apesar das intermináveis consultas médicas e reuniões com diversos especialistas para colocar sua vida de volta nos trilhos, seus dias se arrastavam.

Já se passaram duas semanas desde que as crianças voltaram para casa, quase três desde que ela começou a morar na residência dos Luthors. O início da manhã e as noites foram maravilhosas. Alexia era muito divertida e energética, sempre arrastando Kara para fazer qualquer coisa, desde assistir filmes até jogar. Colin era inteligente e focado, como sua mãe. Kara adorava passar tempo com ele. Debatendo assuntos políticos e ele falava sobre o que estava aprendendo na escola.

E então havia Lena. De vez em quando ela se envolvia no que quer que os três estivessem fazendo, mas então ela se lembrava e recuava. Kara simplesmente não conseguia entender. Num momento Lena estava rindo e brincando enquanto elas jogavam videogame, no próximo ela estava inventando uma desculpa para se fechar em seu escritório. Kara então passou os dias tranquilos repassando conversas em sua cabeça e tentando entender o que havia causado a mudança de Lena.

Alexia tocou no assunto algumas vezes. Ela disse a Kara para não desistir de sua mãe, dizendo que Lena claramente sentia algo por ela, mas estava lutando para demonstrá-lo. Kara não conseguia ver o que quer que Alexia estivesse vendo. Ela estava se perguntando se a garota estava apenas projetando seus desejos de uma unidade familiar coesa em Kara e Lena.

Ela não podia culpar Alexia, ela imaginava que devia ser uma existência solitária ser a única pessoa da casa cheia de energia e vigor. Colin e Lena eram sérios e distantes. Já Alexia só queria se divertir um pouco.

Com o passar dos dias, a esperança de Kara morreu. Onde antes ela tinha certeza de que Lena sentia mais por ela do que uma simples amizade, agora ela duvidava de si mesma. Só porque Lena estava sendo gentil e generosa, isso não significava nada.

E a recusa de Lena em passar muito tempo com ela convenceu Kara de que ela estava iludida ao pensar que alguém como Lena iria querer alguma coisa com ela.

Ela suspirou enquanto colocava o último livro no lugar.

Era hora de ir embora. Por mais luxuoso, confortável e acolhedor que fosse viver com a família Luthor, tinha que acabar.

Ela rapidamente começou a se sentir como parte da família, e isso era perigoso. Ela nada mais era do que uma ex-assistente que sofreu um acidente e tocou o coração de uma mulher rica. Culpa era tudo o que Lena sentia. Culpa que seria aliviada se Kara fosse embora.

Sem contar que ela precisava sair agora, antes de se apegar mais à família. Já seria uma decepção para ela mesma ir embora. Cada dia extra que ela passasse lá só pioraria a despedida.

Ela já passava seus dias longos e tranquilos se perguntando se Colin estava tirando notas boas na prova de matemática em que tanto se confiava, ou se Alexia havia conseguido passar uma aula inteira sem que seu professor de ciências rabugento a repreendesse por conversar. E se Lena estava cuidando de si mesma no trabalho e lembrando de comer...

Claro, ela tinha que ir embora. Não era sua família para ela cuidar, infelizmente.

Ela tinha dinheiro suficiente em sua conta poupança para fazer um depósito em um pequeno quarto em uma casa compartilhada em Weehawken, do outro lado do rio. E ela tinha algumas ofertas de trabalho temporário de meio período agendadas que caberiam entre as consultas médicas, que haviam sido reduzidas para alguns dias por semana. Foi um salto gigante para o desconhecido. Mas ela não podia mais ficar.

O que mais a devastou foi a finalidade de tudo. Quando ela partisse, ela partiria permanentemente. Ela não era ninguém. Ela não tinha motivo para ir assistir a um filme com as crianças. Não há razão para ligar para Lena e perguntar se ela finalmente decidiu usar o fundo em tons de cinza para a seleção de ternos de verão.

Quando ela se despedisse e saísse pela porta, seria para sempre. Pessoas como ela não se cruzavam com pessoas como os Luthors.

Ela atravessou a sala e passou os dedos pela mesa de Lena. Ela contaria a eles naquela noite. Seu coração se partiu ao pensar em qual seria a reação de Alexia. Esperançosamente, Lena permitiria que elas mantivessem contato por e-mail.

Ela respirou fundo, sentindo o cheiro de Lena que permanecia no ar.

Esta sala seria a que ela sentiria mais falta. Mesmo sendo o lugar onde Lena mais se escondia, ela ainda conseguia passar tempo com a morena nesta sala. Ela tentava ajudá-la, como nos velhos tempos. Ela lia livros da extensa coleção. Ela até pegou Lena dormindo na poltrona uma noite.

Ela sorriu para si mesma. Ela teria pelo menos as lembranças, um tanto ironicamente.

Ela caminhou em direção ao corredor, apagando a luz e fechando a porta.

KARLENA - Ice QueenOnde histórias criam vida. Descubra agora