"Atrasada! De novo, mais uma vez. Droga... " pensava Manu enquanto revirava sua gaveta atrás de algo que buscava tanto, que havia até mesmo esquecido o que era. Ela odiava se atrasar pra qualquer coisa
- Manuela, olha a hora! Seu tio daqui a pouco chega lá, você sabe que é importante chegar pontualmente - Uma voz feminina exterior ao quarto diz num tom alto
E ela não estava errada, hoje era um dia importante, a exumação do corpo do pai de Manu, que havia falecido não muito tempo atrás, mas que precisaria ser exumado pois o túmulo da família estava para receber mais um corpo, o de seu avô, que devido a idade estava já chegando a seus últimos suspiros.
"Droga, era isso, o colar que papai me deu, onde está?" pensou consigo mesma.
Após revirar um pouco mais encontrou dentro de uma caixinha em sua gaveta de meias o dito colar, com uma estrelinha de pingente, era assim que ele a chamava. "Minha estrelinha"
Manu pega sua bolsa de colo e se apressa ao sair do quarto, se deparando com sua mãe do outro lado, dando a entender que a mesma abriria a porta naquele exato segundo.
- Viu, a tempo, vamos.A viagem foi regada de silêncio.
O pai de Manu, um viciado em apostas que quase levou a família a falência, havia cometido suicidio ao perceber que havia perdido tudo ao vício que tinha em apostar. A possibilidade de ganhar transformava sua cabeça, não havia mais nada além de alguns números aleatórios que tiravam sua sorte e as fichas que jogava a mesa. Isso o levou a um estado de vazio tão grande, que quando notou, sua filha não era mais uma criancinha, sua mulher já não o reconhecia mais, e a empresa? Em recuperação judicial, ele havia vacilado, e decidiu que se anular da existência seria a melhor opção para salvar aqueles que tanto amava.
Havia uma culpa habitando tanto em Manu quanto em sua mãe, a culpa de não ter feito mais, mesmo que a terapeuta da família tenha deixado claro que em uma situação como essa, apenas a pessoa com um problema poderia se ajudar....
- Aqui sua cópia, diz onde está localizado a gaveta que ele vai ficar - Diz Artur, tio de Manu entregando uma folha com algumas informações.
Após ler e conferir alguns dados, ela tenta quebrar o silêncio.
- Obrigada por estar aqui com a gente. - diz cabisbaixa
- Fico feliz que esteja bem. Seu pai estaria orgulhoso da mulher que se tornou. - ele diz com um sorriso amigável, adequado para o momento - Você já tem quantos anos? 17?
Manu solta um riso frouxo
- 21, tio, você sabe! Esteve na minha formatura do colégio! - responde
- Puxa, estou ficando velho - Artur passa as mãos pela testa, sentindo a idade em seu rosto
- Artur, podemos falar sobre as pendências da empresa? Aproveitando nosso tempo hoje? - A mãe de manu os interrompe
- Agora, Clara? - Pergunta Arthur
- Bom, com sua agenda inacessível fica difícil resolver certos assuntos - Clara responde passivo agressivamente
- Eu vou dar uma volta, me dá um toque quando você for voltar - Manu diz
- Fica de olho nesse teu celular, Manuela, vê se atende essa merdaManu apenas acena com a cabeça e vai por aí sem olhar pra trás. "Porra, porque ela tem de ser assim? Grossa o tempo todo?" se pergunta. Ela tinha um relacionamento péssimo com a mãe, e não sabia muito bem o que fazer pra melhorar, eram dependentes da ausência presente uma da outra, explodiam juntas, mas havia um vazio quando não estavam por perto.
Manu enquanto passa por túmulos e gavetas revira sua bolsa, em busca de seu Pod sabor ice watermelon. Nunca gostou de fumar, mas com tanta coisa acontecendo, começou a fumar cigarros eletrônicos quase como uma forma de se rebelar, estava cansada de ser a menininha perfeita e não sabia muito bem como se impor, e decidiu fazer algo que a mãe odiava que a mesma fizesse, até que se viciou na nicotina de fácil acesso e agora não conseguia mais parar, mas estava tentando.
Após revirar um pouco aqui e ali, o encontra, mas não havia mais nenhuma puxada, e estava tão ansiosa com aquele dia que se atreveria até mesmo a fumar um cigarro de filtro vermelho. Por coincidência, ao virar por um túmulo com algumas flores já mortas encontra um homem um tanto mais velho, fumando um cigarro encostado em uma parede que não tinha gavetas, parecia cansado, provavelmente visitando alguém.
- Bom dia, é... Você teria um cigarro pra me emprestar? - pergunta Manu, tentando não deixar o homem desconfortável.
"Acho que já vi ele em algum lugar..." reflete consigo mesma, o homem retira o maço de cigarro do bolso e abre-o na sua frente, Manu pega um cigarro e o coloca na boca, e antes que pudesse pedir o isqueiro, ele ascende o cigarro na boca de Manu, que dá um longo trago.
- Obrigada - a menina agradece.
- Disponha - Diz o homem voltando ao seu cigarro.
quando ia saindo para dar mais uma volta, vê seu tio se aproximando.
- Sua mãe tá te buscando, ela decidiu já ir pra casa - Artur diz apressando a menina, sem nem reparar no cigarro
- Merda, nem vi o celular - Manu pensa altoArtur olha pro cigarro e franze o cenho em desaprovação, e olha também pra trás, identificando ali um conhecido.
- Wagner? - pergunta
- Artur? - Wagner pergunta
- Quanto tempo! - Artur diz puxando o velho conhecido para um aperto de mão
- Pois é, sabe como é, não tenho saído muito - Diz Wagner com uma voz rouca e pesada - desde que, você sabe... a Sandra...
- Entendo cara, sinto muito, você sabe que quando quiser minha casa é sua casa, né?
- Digo o mesmo, a vida tá sempre correndo, né? Mas essa mocinha, conhece ela? - Wagner faz menção a Manu
- Minha sobrinha, inclusive, Manu, corre antes que tua mãe venha ela mesma aqui - AdverteManu se vira e deixa a conversa, apesar de curiosa.
"Wagner.... wagner... não é aquele ator?" pensa consigo mesma em busca de uma resposta plausível.Chega no carro e ouve apenas um grito ao fechar a porta do carro após sentar-se
- Porra, Manuela, porque tu é assim, hein? Tem esse celular pra que? Enfeite?...
A gritaria perdurou o caminho até em casa, Manu não sabia se impor. Tinha 21 anos mas se sentia uma garotinha, passava os dedos pelo colar e conseguia apenas pensar em uma coisa."Que saudade de ser a estrelinha do papai".
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Doce demais pra mim | Wagner Moura
FanfictionApós uma vida boêmia e agitada após perder sua ex esposa, Wagner, que acabara de completar seus 47 anos, encontra-se em uma encruzilhada entre ceder aos seus vícios, buscar um novo caminho para sua vida, e enfrentar um novo amor: Manu, temendo conta...