Passado

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Apartamento de Solange, Tijuca, 4 anos antes.
   
- Você nunca vai entender, Wagner! - Sol gritou, a voz rasgando o ar do pequeno apartamento.
    -    Eu não aguento mais, Sol! - Wagner respondeu, jogando um copo contra a parede, onde se despedaçou em mil cacos. - A gente está se destruindo!

Sol avançou, os olhos ardendo de raiva e tristeza.

    ⁃    Você acha que pode simplesmente sair dessa porra? Depois de tudo que passamos?

    ⁃    Eu vivo essa dor todos os dias, eu perdi muito, e você sabe! Mas eu não posso continuar assim. Não desse jeito. - Wagner passou as mãos pelos cabelos, o desespero evidente em cada gesto

- Você acha que alguém mais lá fora pode entender isso? Só eu sei o que você sente. Só eu. Eu também perdi muito! ou você acha que não sinto falta do Marcos? Ele era tudo que eu tinha e agora você é tudo o que eu tenho. - Ela diz segurando o rosto dele, os dedos apertando sua pele, deixando vermelho. Wagner tentou se desvencilhar, mas Sol o puxou de volta. - Não me deixa, por favor. A gente precisa um do outro. - Sua voz agora era um sussurro, quase suplicante.

    - Mas isso... - Ele gesticulou ao redor, apontando para as garrafas vazias e o pó branco sobre a mesa. - Isso não é vida. Estamos afundando cada vez mais. Eu preciso de ajuda. Nós precisamos.

Sol deu um passo atrás, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que pode me abandonar? Você não vê que eu também estou quebrada? Eu não posso fazer isso sozinha. Vai me usar e ir embora?

Wagner suspirou, o peso das palavras dela caindo sobre ele. - Eu tentei sair dessa antes, Sol. Eu tentei. Mas você sempre me puxa de volta, que merda! Você sabe que não tem como continuar assim!

Ela riu amargamente, uma risada sem qualquer traço de alegria.
- Porque você não pode sem mim. Lá fora, ninguém vai te entender. Eles vão te julgar, te abandonar. Só eu sei o que você passa. Só eu posso te ajudar, a mídia não quer te fazer bem algum.

    ⁃    Mas a que custo? - Wagner perguntou, a voz trêmula. - Olha pra gente. Olha pra você. Nós estamos nos matando. Que merda de vida é essa?

Sol se aproximou novamente, os olhos fixos nos dele. - E o que você vai fazer? Voltar pro seu mundinho perfeito? Fingir que nada aconteceu?

    ⁃    Não é isso, Sol. - Wagner respondeu, a voz falhava e os olhos já marejavam. - Eu só quero parar de sentir essa dor. Quero parar de usar essas drogas pra entorpecer a realidade, isso não sou eu.

Sol balançou a cabeça, lágrimas escorrendo livremente. - Você não entende. Sem essa dor, o que sobra? Nós somos essa dor.

    ⁃    Você é o que você quiser, e se você quer ser essa dor, seja você sozinha. Eu preciso viver. - Ele diz e se vira, indo em direção ao quarto pegar suas poucas coisas que mantinha no quarto de sol. Passa em frente a um pequeno espelho, encarando seu reflexo, completamente vazio. Não se reconhecia, estava magro, cabelos e barba mal cuidados, a mídia especulava constantemente o que estaria acontecendo, tinha aparecido em uma obra pela última vez em os 8 magníficos, onde pode reencontrar alguns amigos de carreira, o que o despertou de sua situação deplorável, para dizer o mínimo.

Sua breve reflexão é interrompida por sol - Fica. - Ela segura forte o braço do homem, que num reflexo, segura o braço de Sol com força pelo pulso e se solta, deixando uma marca vermelha em seu pulso.

    ⁃    Solange, eu vou sair daqui, você não vai conseguir fazer ficar dessa vez. - Ele diz e segue pra arrumar suas coisas.

Com sua mochila em mãos, ele olha ao redor, observando a bagunça, a sujeira e a desordem que havia ali naquele apartamento. Ambos estavam destruídos, assim como aquele copo no canto da sala, agora destruído. Wagner não sabia dizer por qual razão teria o jogado na parede, apesar de seu estado não ser o dos melhores e estar ainda sob efeito do que havia utilizado alguns momentos antes. Olha pra Solange, sentada no sofá, matando uma garrafa, a virando na boca pelo gargalo.

Doce demais pra mim | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora