Première

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A premiere seguia com o ritmo frenético. Wagner parava para dar entrevistas rápidas, sempre com um sorriso treinando, respondendo sobre a complexidade do papel e a visão criativa do diretor. Por trás das palavras, ele sabia que era o que todos esperavam ouvir, mas a verdade era que cada resposta o fazia sentir-se mais distante de si mesmo.

— Wagner, como foi filmar cenas tão intensas e desafiadoras? — perguntou uma repórter loira, estendendo o microfone em sua direção.

Ele inclinou a cabeça, sorrindo levemente. — Acho que todo filme tem suas dificuldades, e é isso que o torna especial. Quando você se joga de cabeça e confia na equipe, tudo flui de forma natural.

Ela acenou, satisfeita com a resposta, mas ele sentiu um vazio familiar. Mais perguntas vieram, e Wagner as despachou uma a uma, com a mesma cordialidade.

Ao se afastar da multidão, ele avistou Kirsten conversando com outros jornalistas e percebeu a forma como ela se conectava genuinamente com as pessoas, rindo e interagindo de maneira leve. Havia algo na forma espontânea dela que ele admirava — algo que parecia cada vez mais distante para ele.

— Está tudo bem? — uma voz soou ao seu lado. Era Marco, um assistente de produção que o acompanhava desde o início das filmagens.

— Tudo certo. Só aquele cansaço de sempre — ele respondeu, dando de ombros.

— Tem certeza? — Marco insistiu, olhando-o com preocupação. — Você parece... sei lá, distante.

Wagner soltou uma risada curta, tentando disfarçar. — Faz parte do trabalho, né? A cabeça nunca para.

O assistente assentiu, mas Wagner percebeu que a resposta não o convencera. E, talvez, nem a ele mesmo. Ele olhou ao redor, tentando se focar na energia da noite, mas sentia como se estivesse assistindo a tudo de fora.

Assim que conseguiu um momento longe das câmeras, Wagner se encostou em uma parede, respirando fundo. Pensou em sua vida fora daquele mundo, nas escolhas que o trouxeram até ali, e em como, às vezes, sentia que estava vivendo um papel que não era exatamente o dele.

Quando Kirsten se aproximou, sorrindo ao vê-lo sozinho, ele tentou disfarçar a inquietação.

— Está tentando fugir dos repórteres? — ela brincou, oferecendo um copo de água.

— Apenas um pequeno intervalo. — Ele aceitou o copo, sorrindo de volta. — E você? Não está cansada de tanta gente perguntando as mesmas coisas?

— Acho que a gente aprende a lidar, né? — ela respondeu, dando um gole na própria bebida. — Mas, sério, você parece um pouco sobrecarregado. Está tudo bem mesmo?

Ele hesitou por um instante. Por mais que tivesse aprendido a manter uma fachada, a sinceridade dela o desarmava.

— Às vezes, eu me pergunto se estou no lugar certo — confessou ele, a voz mais baixa, como se estivesse admitindo algo pela primeira vez.

Kirsten o observou com um olhar compreensivo. — Todos nós sentimos isso, de vez em quando. Mas, ei, você não está sozinho. E se precisar de alguém para conversar, estou aqui.

O sorriso dela era caloroso, mas Wagner ainda se sentia preso em seus próprios pensamentos. Ele sabia que precisava lidar com aquilo que o incomodava, mas não tinha certeza de como ou se estava pronto para isso. Ao longe, as luzes da premiere continuavam a brilhar, e ele se perguntava se aquela era a vida que realmente queria ou apenas a que lhe foi destinada.

Após o término das entrevistas e interações com a imprensa, Wagner foi para a mesa de sua equipe no evento, cada cadeira com um nome dos integrantes. Ele olhou em volta, observando o movimento ao seu redor, quando avistou Cailee acenando animadamente para ele. Ela se aproximou com um sorriso radiante, trazendo uma energia quase contagiante para a sala e se sentou ao seu lado, local que não era o dela.

— Você não vai escapar de mim tão fácil — ela brincou, estendendo a mão para um cumprimento informal. — Eu soube que você é o cara mais disputado hoje. Todo mundo quer um minuto do seu tempo.

Wagner deu um sorriso fraco — Bom, parece que ainda sobrou um pouco de tempo pra você, né?

Cailee riu, como se não notasse o cansaço em sua expressão. — Sabe, eu ainda estou me acostumando com tudo isso. É minha primeira grande premiere e... é um pouco avassalador, pra ser honesta. Mas, vendo você por aqui, parece tudo mais fácil. Você parece tão tranquilo.

— Acho que já me acostumei com o ritmo — ele respondeu. — Mas, no início, também era assim pra mim. É normal.

— Bem, você é um dos motivos pelos quais eu aceitei esse papel — ela continuou, com um brilho nos olhos. — Quando soube que você estava no elenco, pensei: "É minha chance de trabalhar com um dos melhores."

Wagner sorriu, um tanto desconcertado pela admiração explícita. — Fico feliz em ouvir isso, Cailee. Mas o mérito é todo seu. Você fez um ótimo trabalho no filme.

Ela se aproximou mais, ignorando o fluxo de pessoas ao redor. — Obrigada. E falando em ótimo trabalho... — Ela deu uma pausa, quase ensaiando suas palavras. — Você já pensou no que vai fazer depois desse filme? Quer dizer, a gente vai fazer a premiere no Brasil e tudo mais, mas... e depois?

Wagner percebeu que Cailee estava tentando uma aproximação mais pessoal. Ele ajustou a postura, mantendo um tom neutro. — Tenho alguns projetos em mente, sim. Mas prefiro focar um passo de cada vez, sabe? Agora, é sobre 'Guerra Civil'.

Ela assentiu, mas era evidente que não estava satisfeita com a resposta. — Entendi... e sobre o Brasil? Está animado? Porque eu estou muito! Vai ser minha primeira vez lá. O pessoal da produção me falou que é incrível, e eu queria saber o que você recomenda.

— O Brasil é um lugar especial pra mim. Você vai gostar. É um país muito vibrante, com uma cultura forte. Tenho certeza de que vai ser uma experiência incrível pra você.

— E você vai ser meu guia, né? — Ela perguntou, meio em tom de brincadeira, meio em expectativa.

Wagner hesitou, tentando encontrar um jeito de desviar sem soar rude. — Bom, tenho alguns compromissos por lá, mas se eu tiver um tempo, quem sabe?

— Vou cobrar, hein! — Cailee respondeu, piscando para ele antes de se afastar ligeiramente. — Mas, falando sério, estou adorando tudo isso, e é muito bom ter alguém como você por perto. Você tem um jeito tranquilo que me ajuda a me sentir mais segura nesse ambiente tão novo.— Enquanto conversavam, alguns fotógrafos se aproximaram, e a garota pareceu se animar — Vamos tirar uma foto juntos?

Antes que ele pudesse responder, ela já estava com o braço entrelaçado no dele. O gesto parecia natural, mas havia uma intenção clara por trás. Os fotógrafos, que estavam sempre atentos a momentos como aquele, começaram a fotografar. Wagner hesitou, mas manteve o sorriso, tentando disfarçar o desconforto.

— Cailee, eu...

— Vamos, vai ser ótimo! — Ela insistiu, puxando-o para mais perto enquanto os flashes continuavam. — Todo mundo adorou nossa química nas filmagens. Aposto que vão adorar essa foto também.

Ele sabia o que estava acontecendo. Já havia passado por situações assim antes, mas a maneira como Cailee se colocava, sempre com uma fachada de inocência, o deixava sem reação imediata. Ela era jovem, estava tentando se destacar, e ele entendia o jogo. Mesmo assim, aquilo o incomodava.

— Certo, mas... só uma, ok? — disse ele, tentando manter a voz calma.

Enquanto as câmeras clicavam, ele notou um paparazzi específico mais afastado, focalizando de um ângulo mais provocativo, como se quisesse capturar algo além do que estava sendo mostrado. Era claro que a imagem que seria publicada teria uma insinuação. Cailee, por sua vez, parecia saber exatamente o que estava fazendo, sorrindo e inclinando-se um pouco mais, mantendo o toque casual que poderia ser facilmente interpretado como algo a mais.

Depois do breve momento, ela se afastou, satisfeita.

— Obrigada, Wagner. Acho que essa vai ser a foto do ano — brincou, com um piscar de olhos. — Nos vemos no Brasil?

Wagner apenas assentiu, observando-a se levantar e se afastar e se misturar novamente à multidão. O rumor estava lançado, e ele sabia que aquilo renderia mais do que algumas páginas em revistas.

Doce demais pra mim | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora