Aniversário pt2

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    ⁃    Você disse que tinha ido pra casa de um amigo - Beca diz.
    ⁃    Ué, mas eu estou - Manu responde olhando pra Wagner.

Wagner e Bem se entreolham tentando entender o que estava acontecendo.

    ⁃    Essa é a aniversariante da festa que sumiu quando o bartender anão chegou na festa - Beca explica para Bem, que faz uma face de esclarecimento, e deixando Manu e Wagner ainda mais confusos.
    ⁃    Chegou tarde, Bem - Wagner diz ao filho
    ⁃    Foi mal não avisar - Bem responde
    ⁃    Você não falou que era filho do Wagner Moura, mas bem que você parecia muito alguém. - Beca reflete em voz alta
    ⁃    E o que você veio fazer aqui? - Manu pergunta a Beca com feição confusa.
    ⁃    A gente tirou fotos da festa na minha cybershot e íamos passar pro computador, esqueci do meu adaptador e o Bem ia passar pra mim. - A garota responde
    ⁃    Inclusive está com ela aí? - Bem pergunta e Beca confirma, e ambos vão em direção do quarto do garoto.

Wagner e Manu se entreolham sem saber o que sentir sobre a cena que acabou de acontecer.
Manu se questiona se tanto sua prima estava passando a noite com filho de Wagner como também se perguntava se os dois achavam que os dois tinham passado a noite juntos.

    ⁃    Eu acho que... já vou indo, meu tio avisou que chegou em casa... - Manu diz se desvencilhando daquela situação.
    ⁃    Avisa quando você for sair pra padaria, Wagner diz.
Manu acena com a cabeça em confirmação, saindo pela porta e Wagner consegue ouvir a garota pensando alto: "Um bartender anão?", e ri consigo mesmo, enquanto arrumava as louças na lava louça.

Pouco tempo depois Bem e Beca saem do quarto, e Wagner comenta algo que havia reparado.

    ⁃    Você é filha do Arthur, né rebeca?
    ⁃    Eu? Sou sim, que estranho você saber meu nome. - ela diz num riso
    ⁃    Te peguei no colo quando você era criança, Arthur e eu somos velhos amigos.
Wagner termina as louças e se encosta no balcão, que dividia a cozinha da sala, olhando para os jovens que agora se encontravam no sofá.
    ⁃    Ele falou que te conhecia mas ele nunca fala muito de quem ele conhece, geralmente eu sei quem ele conhece quando já estamos todo mundo no mesmo carro descendo a serra.
    ⁃    Típico de Arthur mesmo - Wagner ri consigo mesmo. - Mas é, antes de eu me mudar pra fora pra trabalhar com algumas produções, você era uma menina, miudinha, corria pra lá e pra cá, Bem era pequenininho também - Wagner recorda.
    ⁃    Que coincidência - Bem diz
    ⁃    Pois é, não achei que você morava no mesmo condomínio que meu pai morava - Beca diz a Wagner.- você veio pra ficar?
    ⁃    Não, eu volto no fim do mês pra Califórnia. Não sei se volto cedo, eu tento passar no Brasil sempre que posso.

Os três conversam por um tempo e Wagner relembra algumas memórias.

...

Manu chega no quarto e decide tomar um banho. Antes, abre seu celular e passeia por algumas mensagens a parabenizando por mais um ano de vida. Algumas marcações em stories, algumas mensagens privadas, responde todas com carinho e ao verificar, vê que não há mensagens de sua mãe.
Arruma uma roupa fresca e vai ao banheiro, e após se despir, se encara no espelho, sentindo um vazio profundo.
Era seu aniversário e para ser honesta consigo mesma, não sabia quem era. O que gostava, pra qual time torcia, não sabia muito sobre si ou sobre sua família, que sua mãe fazia questão de a manter distante. Não sabia se gostava da faculdade, se estava certa do seu futuro, não tinha muitos hobbies, nunca pirou o cabelo ou cortou a franja num surto (sua mãe ficaria imensamente decepcionada).
Não sabia o que amava, o que tirava seu ar. Sentia que precisava se encontrar, estava grande demais pra viver as aventuras adolescentes que estava se metendo mas amava todas as coincidências do último mês, não necessariamente Wagner, mas essa urgência por viver que plantaram nela talvez estivesse finalmente florescendo, a fazendo enxergar seu lugar, não suportava mais não se sentir no poder de sua vida.
Após encarar suas feições, sua pele, olhos, olha pro seu longo cabelo, com a raiz lisa mas com o decorrer criando algumas curvas e iam até sua cintura, abre a gaveta do banheiro em busca de uma tesoura, e ao encontrar, amarra seu cabelo no topo da cabeça, cortando-o o mais curto possível.
Se encara no espelho, segurando uma quantia considerável de cabelo em sua mão, todo o cabelo que tinha e nunca havia feito nada durante todo esse tempo.
Estava obstinada, busca um pouco mais e encontra uma maquininha de cabelo pequena, para aparar pelos apenas, e liga, tomando a coragem que precisava.
Tenta não deixar muito perto da raiz, e deixa com aproximadamente um dedo de cumprimento em todo seu cabelo, encontrando se coberta de cabelos pelo corpo, e careca na cabeça.
Se choca com o que vê no espelho, e não tem palavras pra descrever o que sentia, talvez liberdade chegasse perto. Se dá conta do que havia feito e se senta no chão, sentindo todos os sentimentos que poderia ao mesmo tempo, chorando.
    ⁃    Manu, você sabia que.... Manu? - Beca diz se aproximando da porta e abrindo ela, ficando chocada com a cena. - Manu, você está linda!
Manu sorri olhando para a prima, que a entendia no fundo de seu ser, e sabia exatamente como era a rotina e o relacionamento com sua mãe, a forma como nunca pode ser minimamente independente em todos os sentidos, e como pode ter a chave do seu quarto apenas no ano anterior.

Doce demais pra mim | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora