Capítulo IX - Everything's Fine

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Dirigia pelas estradas conhecidas que sabia ser o caminho para ir à casa do Gerard. E passeando nas ruas, vendo pessoas transitando na calçada com semblantes calmos, eu acabava sentindo inveja ao vê-las. Nunca saberei se elas estão felizes nesse instante em que as vejo, mas cada rosto não parecia vir a sensação de algo ruim no seu peito.

Isso estava acontecendo comigo, e cada vez que chegava perto do meu destino, a sensação aumentava, dando fisgadas fortes como um pescador a retirar o peixe no rio. E como se o homem, que mal sabia que o anzol estava pregado profundamente no céu da boca do peixe, doía, aquilo o machucava, ele sentia dor, mas o pescador estava apenas alheio, comemorando que conseguira a conquista de mais um peixe. 

É assim que me vejo agora? Das pessoas alheias com minha dor desconhecida que nem me entendo do porquê ela está aqui?  Esses meus questionamentos só me faziam sentir um leve embrulho no estômago, mas...

Se essa analogia do pescador e do peixe se encaixasse nele? Gerard sentia a dor que ninguém percebia do motivo da sua aflição?

Mesmo com tudo isso rolando, não ouso tirar o meu objetivo de me encontrar com Gerard e perguntar se estava tudo bem.

Enfim, chego na casa dele.

E neste segundo, estava decidido que bateria naquela porta mais adiante, e assim sendo, perambulei no caminho para bater na porta de madeira, batidas constantes para, no fim, não ouvir sua voz proclamar: “já estou indo” ou “não quero assinar a porra da revista mensal, me deixa em paz”.

Percebendo que não receberia nada de retorno, tento olhar a janela ao lado que se cobria de cortinas brancas. Mesmo a vista de dentro da sala não dando para visualizar, havia uma pequena fresta que eu pudesse ver. Esperava encontrar indícios de que Gerard ainda poderia estar, pois sabia que era cedo para ele ir ao seu trabalho se fosse o caso de não estar na sua residência.

Mas o que encontro são garrafas de cerveja vazias perto do sofá.

Gerard me disse que não bebia mais nada de álcool, então como tem tantas dessas garrafas?! Meu rosto se tomava de pavor e voltei para bater novamente na porta, agora sendo batidas mais fortes. Eu me lembrava daquela vez que ele tinha me dito que teve problemas com álcool no passado, sinalizando que já fora um alcoólatra. Diante disso, era um mau sinal.

— Gerard! Se estiver aí, por favor, abra a porta! — gritava, rasgando minhas cordas vocais para atingir o tom mais alto.

Nada, nada! Gritando e batendo, não resultou em nada além de uma senhora que passeava pela calçada a observar torto para mim. Brevemente, ouço passos cautelosos lá dentro, o que me fez suspirar de alívio. Ele estava aqui e claramente me ignorava.

— Sei que está aí... Me atende, Gerard! Quero apenas conversar!

— Não quero conversar, você nem deveria vir aqui... Vai embora. — ele se pronunciou frágil.

Sua voz saíra baixa, e eu olhava estagnado para a porta. Gerard estava bem no outro lado da porta, para ouvi-lo sussurrar só poderia ser. O que me deixou transtornado, foi dele não querer que minha presença seja bem-vinda.

Desculpe, simplesmente não posso te ignorar como quer que eu tanto faça.

— Escuta... — acalmava minha respiração, talvez eu tenha me alterado um pouco antes — Juro que arrombo essa porta agora, senão abri-la. — adverti, fazendo ênfase que faria mesmo — Então se afaste daí, Gerard.

Se houver um dano, com certeza eu pagaria. O importante é confirmar com meus próprios olhos que ele estivesse bem.

Um minuto se passa, e quase cogito nesse instante empurrar fortemente meus ombros na porta, quando escuto um virar de chave dele destrancando do obstáculo que nos separava. A maçaneta se movimentava e se abria lentamente, podendo finalmente vê-lo.

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