——— PEDE PARA SAIR! —— A VOZ ECOAVA na cabeça como chacoalho, o cansaço físico e mental era notável pelas olheiras e cabelos desgrenhados. Helena estava no seu limite, mas não pediria para sair. ——— VOCÊ É FRACA. —— ela pensava fortemente consigo que aquela frase era psicológica, foi feita para desencadear seus tremores, tentava se agarrar no pensamento.
Quando notou, havia passado exato três meses de preparatórios do BOPE, entre cento e vinte concorrentes apenas quatro ficaram, entre eles estavam homens e uma mulher que não precisava se esforçar para ver que seriam grandes capitães um dia.
O rio de janeiro para turistas era uma cidade de beleza exuberante, seus pontos turísticos eram renomados. Mas para os cidadãos, especialmente das inúmeras favelas a realidade era diferente, o cordão entre o rico e o pobre era estendido na sociedade de maneira que nem mesmo a tropa de elite tinha controle sob a situação. Helena sempre pensou consigo que seu trabalho era proteger essas pessoas, pessoas de classe baixa que o grito de ajuda na maioria das vezes não é escutado.
Mas esse pensamento ingênuo, durou apenas enquanto a garota era uma policial convencional comum, agora com o símbolo da caveira na roupa preta. Helena se via tão conectada com a favela de maneira brutal que não tinha tempo para pensar nos cidadãos de bem, não quando seus dias e noites em claro era de violência com normalidade para aqueles considerados vagabundos, e o pior, era que a garota não sentia remorso em derramar sangue.
———— Cacete. —— disse a morena, quando percebeu que o homem no qual estava ensanguentado em sua frente ajoelhado havia desmaiado de novo. ———— Joga água nesse verme. —— dizia, era mais uma noite comum aonde os outros fazem merda e chamam o BOPE para resolver, agora a situação era um traficante que negociava com policiais por armas e informações, não demorou mais de dois dias para que a elite, pegassem. —— Helena foi de ajuda vital na missão, já que nesses dois dias se infiltrou na favela.
A cena era degradante, Helena segurava firme a bandoleira enquanto seus punhos fechados jorravam o sangue que desencadeou do nariz do homem que não parecia ter mais de dezenove anos. Infelizmente a realidade era essa, adolescente que vendiam sua alma para o crime a troco de uma vida na cadeia ou no caixão.
Aquele momento já havia se repetido tantas vezes conforme a carreira da mesma, que nem o voto de piedade do rapaz faziam com que a garota amolecesse. Pelo contrario, Helena rapidamente fez sinal para que o soldado lhe desse o alicate.
———— Olha parceiro eu tentei lhe ajudar, realmente tentei. Mas se você não usa a boca para falar, não vejo o por que de ter todos esses dentes nela. —— o soldado agarrou os fios de cabelo do jovem, forçando seu rosto se levantar ficando em perfeita posição para a capitã avançar.
Helena estava disposta a arrancar todos os dentes da boca do rapaz até que alguma informação válida saísse dali, oque ela suspirou pesado ao notar que não seria necessário. ———— Eu falo! —— o garoto dizia chorando, sua respiração era acelerada.
———— E tá esperando oque rapaz? —— a garota dizia, dando um leve tapinha na cara dele enquanto fazia barulho de alicate afim de pressionar psicologicamente.
———— Eu só sei que é um cara alto de cabelo quase branco, o olho é meio claro, eu não tenho o nome exato. Por favor é tudo que eu sei.
Helena sabia que ele não tinha noção do nome, não iria adiantar estender a noite com alguém que não valeria a pena. Estalou a língua, logo em seguida fez sinal novamente ao seu companheiro de turno.
————— Qual o comando? ——— perguntou.
—————— Bota na conta do cara alto, de cabelo branco e olho claro. —— debochou dando as costas, o tiro do rifle usado podia ser escutado a quilômetros.
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SE SENTIA CANSADA, ASSIM QUE OS PINGOS gélidos que caiam em seu rosto faziam com que o peso de suas costas fossem ao ralo abaixo, mas ainda assim, Helena sabia que não poderia continuar naquela rotina para sempre, ansiava pelo dia que conseguiria sair do BOPE.
Não era a primeira, e provavelmente não seria a última vez na qual esperava ansiosamente a resposta do comandante se ele atribuiria a sua aposentadoria ou adiantaria novamente. Suspirou firme ao sair da ducha em que tomava e escutou o apito do celular, torcia firmemente para que a resposta fosse aquilo que aguardava.
Não percebeu mas prendia a respiração enquanto passava os dedos na tela, suas mãos que segundos antes eram ensaboadas mais do que o comum pela quantidade de sangue obtida, agora torciam o dedo na tela na esperança daquilo cessar. Não foi surpresa quando as palavras se juntaram, dando a visão na qual Helena mesmo negando, sabia que seria aquela a resposta.
Mais uma vez o pedido foi renegado, mas assim que chegou no ultimo paragrafo do pequeno texto mandado, a garota pode ver uma luz no fim do túnel. Agora era uma promessa, teria que cumprir uma última missão para enfim sair da carreira.
Helena não se atentou que sua última missão era do Papa, todos torciam para se esquivar do compromisso. Boatos se espalhavam pelos batalhões de que o Papa iria vir para o Rio, e que o local escolhido para se acolher não poderia ser dos melhores. Já que ao terminar de ler, Helena pode notar que os nomes dos melhores capitães estava escolhidos.
Mas se isso lhe garantiria liberdade, o Papa poderia dormir na porra da Cracolândia, ela ainda estaria lá fazendo seu trabalho.
A capitã ao fazer o preparatório para a tropa de elite, jamais imaginou que se dedicaria inteiramente ao trabalho infiltrado. Havia perdido as contas de quantas vezes passou meses em favelas, agindo como se fosse um deles, apenas para passar informações para o seu batalhão, um trabalho perigoso mas com que fazia a garota eletrizar nas veias.
Mas assim que uma década passa, e as coisas continuam iguais, até mesmo a maior das eletricidades se cansam, e era oque estava acontecendo, mas ela sabia que uma vez caveira, sempre caveira.Muitos podiam achar rude e ignorante a maneira na qual a garota se dedicou tanto para subir na vida, para chegar um momento no qual só conseguia pensar em como seria sua vida se ela tivesse escolhido uma carreira comum. Dividia o apartamento com a amiga, Cassandra — que abriu agora seu escritório de direito, ambas se conheceram anos antes, quando se encontraram em uma etapa de concurso para a PM.
Helena pensava todos os dias oque seria dela se optasse por seguir cargos comuns, oque seria dela se contentasse com o título de uma policial convencional. Mas seus olhos brilhavam toda vez que via a caveira, sabia qual era seu lugar.
Contudo, seus olhos também nutriam um carinho imenso com a vida de calmaria que alguns levavam, Cassandra salvava muitas vezes os vermes na qual Helena não pensaria duas vezes em atirar. E pensar que a conturbação só se via em uma carreira. Helena queria algo mais, seus serviços infiltrados por uma década cessava a chama que ela nutria, mas agora ela ansiava pelo momento de construir algo para si, e não para o sistema.
Queria uma família, queria poder sair na rua sem ter que vestir o colete abaixo das roupas, necessitava de contato físico, de um vinho no fim da tarde enquanto agenda aula de pilates pela internet. Ao mesmo tempo que seus pensamentos a rodeavam, a garota pensava, era isso que ela realmente precisava ou isso era um fútil desejo de alguém que só conheceu o lado obscuro da vida.
Tanto faz, a partir do momento na qual a morena confirmou sua posição com um simples joia na mensagem de seu comandante, ela sabia que tudo mudaria. Sabia que só havia duas opções naquela situação, ou ela sairia morta ou sairia realizada consigo mesma.
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SALVATORE, capitão nascimento
FanfictionSALVATORE⌇━━ Helena Valentim, uma veterana exausta de uma década de serviço no BOPE, anseia pelo fim da carreira. No entanto, uma última missão surge, obrigando-a a trabalhar ao lado de um capitão que não apenas a introduz a experiências inéditas...