Capítulo 7

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A minha mãe estava a resmungar qualquer coisa na cozinha, quando eu entro em casa. Dirijo-me então até à mesma, que acaba por se sossegar ao ver a minha presença em casa e cumprimento-a com dois beijos nas bochechas.

Ela pede-me para eu me sentar numa das cadeiras da mesa e eu assim o faço. A minha mãe acompanha-me com o olhar e lança um suspiro enorme , sentando-se à minha frente.

Eu observo-a atentamente, começando a ficar nervosa, mas a minha mãe decide logo romper o silêncio instalado entre nós.

- Este ano vamos de férias, filha. - A minha mãe coloca uma mão sobre o meu joelho e eu pergunto-lhe o que é que isso tem de mal. - O teu pai reservou bilhetes para a Califórnia. Vamos para visitar a tua avó e ficar na nossa antiga casa.

Levanto-me num salto da cadeira e caminho de um lado para o outro. Isto só poderia ser brincadeira, certo? Olho a minha mãe que me olha a mim com um ar de quem pede desculpa e eu sei que nada poderiamos fazer para o meu pai cancelar essa viagem até à mãe querida dele.

- Porque não vem ela aqui? Mãe, tu sabes que eu não quero voltar lá.

- Mas o teu pai não sabe, tens intenções de lhe contar?

- Claro que não, mãe. Nós éramos crianças. Já não nos vemos à mais de dois anos. E aquilo foi horrível, o pai nunca me perdoaria por lhe ter escondido isso. Para além disso, ele adora-o.

- Filha, desculpa. Mas não existe nada que eu possa fazer então. O teu pai está realmente entusiasmado.

- Ah, bolas.

Subo a correr para o meu quarto e fecho a porta quase como num ato de desespero. Eu não queria ter de ir a lado nenhum. Eu não queria ter de voltar a rever a sua cara, o monstro de todos os meus pesadelos. Sei que já passou algum tempo e ele pode realmente ter até se tornado num homenzinho, mas ainda assim eu não queria ter de voltar para lá. Quando eu e os meus pais nos mudamos para Inglaterra, foi quase como o melhor dia da minha vida, eu pensei nunca mais colocar um pé naquele território, nunca mais ter de olhar para a sua cara.

Sei que existe a possíbilidade de ele nem sequer estar lá, de nem sequer o ver, mas ainda assim, estar no mesmo território que ele já era doloroso para mim. Faziam memórias que eu não queria vir à tona.

Sento-me na cama e pego no meu computador, que estava em cima da mesma. Decido que não vou pensar mais nisso e que se eu realmente tiver uma ponta de sorte ainda podia convencer os meus pais a não ir a lado nenhum, a não ter de passar por aquilo de novo.

Decido passar o resto do dia a ver a série Smallville, a qual eu já a via pela segunda vez, porque realmente era apaixonada pela mesma.

Faço uma pequena pausa, quando ouço um bater na porta do meu quarto e balbucio um entre.

- Anda jantar. - A voz do meu pai, soa assim que a porta é aberta.

Saio de cima da cama e encaminho-mo devagar para a parte debaixo da casa.

Sento-me então no meu habitual lugar e concentro-me apenas na comida que já tinha à minha frente.

O meu pai falava todo contente sobre o facto de voltarmos à California e de como morria de saudades daquilo e eu apenas bufava no meu lugar, pois o meu sentimento era o total contrário.

Ainda hoje agradeço pelo patrão do meu pai o ter mandado para a empresa daqui.

- Pai. - decido por fim, interromper o seu entusiasmo. - Temos mesmo de ir?

- Marian, que raio de pergunta é essa? É claro que temos mesmo de ir. Não queres ver a tua avó? A tua antiga casa? O Ryan?

Mal ele sabia que eu realmente não queria ver. Apenas talvez a minha avó, que apesar de ser distante de mim, ainda era minha avó e eu gostava imenso dela. Mas agora, eu não queria rever nem a minha antiga casa, nem Ryan nenhum. Eu não queria voltar lá, por nada deste mundo.

Como é obvio não disse mais nada, não queria ser aquela que destruia a felicidade ao meu pai. Sei o quanto ele adorava aquela terra e o quanto lhe custou mudar-se para aqui.

Quando acabo de jantar, peço licença para sair da mesa e subo novamente para o meu quarto, onde eu ligo imediatamente para Anne.

Deixo o telemóvel tocar, nas ninguém me atende e ligo então a James, para saber onde Anne andava.

- Estou?

- James! A tua irmã?

- Está a dormir. - James ri-se.

- Oh, então quando ela acordar, pede-lhe para me ligar.

- Mas está tudo bem? - a sua voz soa a preocupação, mas eu logo o acalmo.

- Está sim, eu só queria falar com ela.

Depois de desligar a chamada, deito-me novamente na cama, observando o meu teto. O dia hoje tinha sido realmente um dia razoavelmente bom, mas apenas por o ter visto outra vez, por Louis ter estado a meu lado e me ter feito sentir tudo aquilo de novo. Eu sabia que isto, estes sentimentos íam todos contra as minhas próprias regras, mas quando eu via Louis e estava com ele era como se nada mais importasse. Era como se apenas eu e ele existissemos neste mundo e isso podia ser um pouco assustador, mas bom de se sentir.

O problema do dia foi precisamente a notícia que recebi mal entrei em casa. Eu não poderia crer que o meu pai tinha feito isso sem pelo menos nos consultar, sem pelo menos me dizer alguma coisa ou informar-nos mais cedo. Ele apenas marcou as viagens, marcou os dias e os outros que pouco importassem. E agora, eu não o podia contrariar, eu não lhe podia fazer a desfeita de não ir. Até porque eu sou menor e ele iria obrigar-me de qualquer das formas. Eu teria de infrentar todo aquele pesadelo de novo, de relembrar-me de coisas que eu não queria. De voltar a ver a minha antiga casa, os meus antigos amigos. Tudo. Eu estava assustada, mas a parte boa disto era que felizmente ainda tinha mais 3 semanas para me preparar mentalmente.

Vou até ao meu armário e visto o meu pijama, deitando-me então dentro da cama e mexendo no meu telemóvel, vendo todas as minhas redes sociais.

Quando os meus olhos começam finalmente a ficar pesados, tudo o que eu consigo ouvir é a sua voz. Arrepios passam pelo meu corpo todo, como se o mesmo tivesse voltado para me assombrar.

Levo as minhas mãos trémulas à cabeça numa maneira de fazer parar a sua voz, de fazer parar todas aquelas memórias de aparecerem e de me atormentarem. Eu sabia que isto estava a acontecer porque me lembrei de tudo, porque estava assustada com o facto de o poder rever.

Ele fora o motivo para que eu desistira de tudo. Ele fora o motivo para que eu tivesse medo de aproximar de alguém. E agora, eu teria de olhar na sua cara. Outra vez.

A sua voz a chamar por mim ainda estava clara na minha cabeça, o seu riso nojento que eu pensara já ter esquecido. Era como se ele estivesse aqui. Mas logo a sua voz é substituida pela voz rouca do Louis e eu consigo sentir-me mais confortável.

Sorrio agora de leve e fecho os olhos, acabando assim por adormecer.

The age between us | L.T.Onde histórias criam vida. Descubra agora