72 - O amor não evapora quando as coisas ficam difíceis

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LXXII


A ideia de sair da Escócia, ir para Londres apenas para voltar para a Escócia foi estúpida, mas era difícil pensar claramente depois de mais de dez anos em Azkaban. Bigodes já estava cansada de correr pelos campos abertos e pela floresta, em especial porque Almofadinhas andava cada vez mais devagar e parecia exausto.

Eles continuaram seguindo para o norte, até que Almofadinhas parou ofegante e cambaleante. Acomodou-se em um conjunto de raízes grossas, que faziam-lhe uma cama perfeita.

Bigodes o deixou descansar e foi caçar, seguida por um Pontas fantasmagórico. Em um determinado momento, James surgiu, olhando em volta com curiosidade.

— Acho que já estive aqui antes... — Ele comentou consigo mesmo, iluminando a escuridão para que a gata visse um coelho grande escondendo-se debaixo da mata.

Ela conseguiu capturar o animal com certa facilidade pela ajuda de James, retornando à Almofadinhas e soltando a presa na frente dele. Empurrou-a com a pata ao recuar.

Almofadinhas virou o focinho, ignorando-a ao ganir baixinho.

A sombra de Bigodes cresceu até se tornar uma mulher. Scarlett suspirou, segurou a mochila nas costas com as duas mãos e olhou para as folhas com leves tons amarelados acima deles.

— O que foi? Não comeu o dia inteiro... — Scarlett se abaixou, apoiando os braços nos joelhos ao fitá-lo. O cachorro evitava seu olhar. — Ei... — Ela esticou a mão até ele, acariciando o pelo embaraçado. Almofadinhas se encolheu, lambendo o quadril. — Pode comer, tem barrinha sobrando...

Almofadinhas espirrou e latiu, mordendo o coelho a contragosto.

— Não late para mim! — Scarlett continuou. — Sei que você está ferido. E sentindo dor. Você quer que eu dê uma olhada ou...

Ele rosnou enquanto se alimentava, intimidando-a com seus olhos claros.

— Está passando mal, não está? Não é comida estragada, já é o quarto dia e você só parece piorar. — Ela esticou a coluna ao se levantar.

Almofadinhas não lhe deu atenção, ocupado demais com o seu jantar. Scarlett bufou e abriu a mochila, comendo uma das barrinhas com gosto horrível ao se sentar em uma raiz, sem tirar os olhos do cachorro.

Sirius era um imbecil e essa limitação era muito pior em sua forma canina... ou talvez ele só fosse teimoso igual um cachorro.

— Sirius... — Ela o chamou. Almofadinhas abanou o rabo, mas sequer se virou para ela. — Sirius, é sério.

Scarlett tirou a varinha do bolso e Almofadinhas realmente confiava nela porque mal se moveu. Esperou que ele terminasse de comer e imediatamente forçou-o a se destransformar, o corpo do cão esticando-se até que o homem surgiu, cambaleante e confuso.

— Que porra, Scarlett?! — Ele fazia força para falar.

— Que porra eu que te pergunto! — Ela apontou a varinha para ele, impaciente. Não era a primeira vez que fazia isso.

Azkaban não foi gentil com Sirius, ainda assim ele parecia pior do que quando estava lá. As olheiras em volta dos olhos eram profundas e uma palidez intensa tomou seu rosto abatido, roubando a pouca cor dos lábios e deixando-os trêmulos.

— Eu estou bem! — Sirius revirou os olhos, abanando a mão como se pedisse para que ela desistisse.

— Você está péssimo! — Scarlett rebateu.

Scarius | Sirius Black (Ato II)Onde histórias criam vida. Descubra agora