100 - Você poderia passar cem anos em Azkaban e mesmo assim não o mereceria

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Scarlett não queria acordar. Apesar de estarem no verão, passou quinze anos em Azkaban e apreciava qualquer tipo de calor que pudesse acumular, em especial a quentura do corpo de Sirius contra o seu, a respiração cálida acariciando sua nuca.

Ela pigarreou, movendo-se sutilmente, piscando devagar ao olhar para trás. Ainda não havia montado as pecinhas do que aconteceu, estava preguiçosa demais para isso. Assim que sentiu a respiração suave de Sirius se tornar pesada, as lembranças da noite anterior a atingiram de uma vez.

Sirius, atrás dela, a soltou e rolou devagar para o outro lado da cama, esticando-se ao bocejar sem fazer barulho. Scarlett permaneceu estática, mantendo os olhos fechados. Foi muito difícil ficar naquela posição com o coração ribombando no peito, mas não queria encarar Sirius no momento, muito menos discutir sobre o que aconteceu entre eles.

Sentiu o colchão balançar quando Sirius sentou na cama, espreguiçando os braços e alongando o pescoço. Scarlett engoliu em seco. Ainda estavam nus. Um som vindo do lado de fora atraiu o olhar de Sirius para a porta, fazendo a cama estalar. Então, ele começou a se vestir muito rápido como se tivesse se lembrado de algo urgente.

Sem dizer uma palavra, Sirius se apressou para fora do quarto, fechando a porta com suavidade como se estivesse com medo de acordá-la. Scarlett, ainda enrolada nos lençóis, respirou fundo e esfregou os olhos com os nós dos dedos. Encarou o lado da cama onde Sirius estava, sentindo algo morno batendo junto com seu sangue.

Algo que fez seu corpo inteiro derreter.

Encarou o teto estrelado, com as estrelas quase indistinguíveis no fundo branco. Os olhos percorreram as janelas, onde apenas uma deixava a luz do dia entrar parcamente. Coçou a nuca antes de se sentar, procurando suas roupas jogadas pela cama. Fez uma careta ao sentir a ardência no meio das pernas, os olhos arregalados ao se lembrar de que não usou nenhum feitiço de contracepção.

Sua visão encheu-se pontinhos pretos ao se levantar de uma vez, os batimentos tornando-se frenéticos. Vestiu uma muda de roupas que encontrou, pegou sua varinha no chão e cambaleou até a porta do quarto.

— ... como você pode simplesmente ignorar isso e... dormir com ela?! — A voz de Remus ecoava pelo corredor, mas o desespero embaralhou as palavras nos ouvidos de Scarlett. Tudo o que precisava era falar com Sirius.

— Não é tão simples, Remus! As coisas não são preto no branco! — Sirius retrucou, passando as mãos nos cabelos desgrenhados.

Sirius e Remus se empertigaram assim que Scarlett apareceu na sala, ainda descabelada e bastante pálida.

— Precisamos conversar. — Ela disse para Sirius, ignorando completamente Remus cujo olhar alternou para o relógio em cima do consolo da lareira e para Sirius.

— O Ministério não vai esperar. Seu depoimento é crucial. — Remus a evitou na mesma intensidade, sem se dar ao trabalho de explicá-la o que acontecia. — Você tem vinte minutos.

Sirius abriu e fechou a boca algumas vezes, estupefato.

— Do que ele está falando? — Scarlett murmurou, toda a calma que sentia sendo substituída por um frio na barriga interminável. Sangue começou a zunir em seus ouvidos.

— O Ministério está me convocando... — Ele a fitou, a prata de seus olhos carregadas de incerteza. — Para dar meu depoimento... sobre tudo o que aconteceu...

Scarlett recuou, lívida. Nem se lembrava mais o que estava fazendo ali. Seu coração batia tão rápido que parecia prestes a explodir. Ela respirou fundo, tentando retomar o controle, apoiando-se no braço do sofá.

Scarius | Sirius Black (Ato II)Onde histórias criam vida. Descubra agora