80 - E quando o sol surge... as estrelas e a lua desaparecem

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LXXX


Hogsmeade estava preparada para o Halloween. Abóboras enfeitavam as ruas e as fachadas das lojas, fazendo caretas e assustando alguns bruxos que se aproximavam demais. Enxames de morcegos voavam nas placas no meio da aldeia e espantalhos com chapéus de bruxo davam tchauzinho para quem cruzava por eles. No mural da Praça Central da vila, três cartazes enfileirados mostravam um homem de rosto encovado e cabelos longos embaraçados.

Regulus cruzou os braços, encarando o retrato exaltado do irmão, alojando a culpa em seu peito. Ainda não acreditava que Sirius ficou preso por doze anos sendo inocente. E, pior, havia escapado e enveredado Scarlett em sua tarefa suicida de caçar Peter Pettigrew.

Sirius e Scarlett sempre foram imprudentes e eles iriam acabar se matando dessa vez.

— Curioso... — A voz de Lily ecoou, um pouco mais atrás dele. — Só estão procurando pelo Sirius.

— Você acha que eles sabem? — Regulus ficou de perfil, sem olhá-la. — Que ela está viva?

— Eles quem? — Lily encarou o espantalho que acenou para um pedestre.

— O Ministério. — Ele a fitou de canto.

— Não sei. — Lily respondeu e Regulus virou o rosto para os cartazes do irmão. — Quero dizer... os experimentos... — Ela prosseguiu, parando ao seu lado. — Quem sabia deles? Porque se a Scarlett matou todos os envolvidos, então... ela está morta.

Regulus captou uma movimentação em sua visão periférica. Bigodes, Almofadinhas e Pontas farejavam um dos becos vazios em busca de comida.

— Os presos achavam que ela havia morrido... o que é normal, depois de tanto tempo sumida. Mas... do alto escalão do Ministério... não tem como saber.

Lily virou o rosto, mirando Hogwarts. O cume das torres do castelo era visível dali, o luar opaco escorregava nos telhados escuros.

— Você acha que eles são amigos? — Ela perguntou, baixinho. — Harry e Reg.

Regulus deu de ombros.

— Acho que... só estando lá para descobrir.

Lily bateu os pés no chão, impaciente.

— Você acha que eles são felizes?

— Espero que sim. — Regulus admitiu, baixinho. — De infeliz já bastou a gente...

Lily fungou, baixinho, encarando Regulus com aqueles olhos verdes penetrantes.

— Você gosta dela. — Ela constatou, comprimindo os lábios em uma linha fina.

— Claro que gosto dela. Ela é minha melhor amiga. — Regulus respondeu, como se fosse óbvio.

— Quero dizer... você olha para ela... como quem olha para uma estrela inalcançável. — Lily desviou o olhar para Almofadinhas e Bigodes, que brincavam de forma ingênua no gramado atrás da loja.

Regulus permitiu que um relance de vaidade permeasse sua expressão, levantando o olhar para o céu. Exibiu um sorriso triste quando uma estranha vontade de chorar o visitou. Mas uma frieza amarga borbulhou no ferro de seus olhos e ele se recolheu nele mesmo, limpando as emoções do semblante.

— Houve um tempo... em que eu pensei que ela pudesse gostar de mim. — Regulus murmurou, a voz monótona. — Mas o Sirius sempre foi o sol. E quando o sol surge... as estrelas e a lua desaparecem.

Havia bastante mágoa na voz de Regulus e ele não se importou de esconder. Apenas recuou, seguindo Pontas, Almofadinhas e Bigodes em direção à estrada de pedrinhas encaixadas. A escuridão da noite era afastada pelo brilho fantasmagórico que eles emitiam, os olhares cada vez mais erguidos para o castelo luminoso no topo da colina: Amarelo, laranja e vermelho cintilavam nas centenas de janelas, engolindo o prateado do luar.

Scarius | Sirius Black (Ato II)Onde histórias criam vida. Descubra agora