90 - Olá, Reggie

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— Não consigo dormir. Não consigo... relaxar. Fico constantemente achando que vou acordar no meio daquele inferno de novo... que vou ouvir a Scarlett gritando de novo... que... que ela... que ela vai me culpar de novo. — Ele gaguejou, retraindo-se. — Ao mesmo tempo... tudo o que mais quero é voltar naquela cena e salvar o Orfy.

Sirius cobriu o rosto com as mãos, descansando os cotovelos nos joelhos ao fechar os olhos e soltar o ar em um chiado.

— Você se sente culpado? — A mulher o olhava fixamente.

— Ela queria voltar para o fogo. Eu não permiti, mas... eu... era eu quem deveria voltar para procurar o irmão dela e...

— Supondo que você conseguisse voltar para a casa em chamas. — A medibruxa girava a pena nos dedos. — O que teria acontecido?

Sirius cerrou a mandíbula, recostando-se no sofá, olhando para a porta ao sentir uma pontada de insegurança. Colocou a mão no bolso e segurou seu relógio, sentindo a vibração do ponteiro na palma da mão.

— Eu teria salvo o Orfy.

— Ou você teria morrido e agora sua namorada estaria sozinha. — Um sorriso consternado trespassou os lábios cheios da bruxa. — Você não pode... consertar as coisas, Sirius.

— Eu queria poder. — Ele admitiu, baixinho. — Ela... não acho que eu... que eu consiga... suprir... que eu consiga fazer ela se sentir... feliz... como ela era antes de tudo.

— Você se sente frustrado?

Sirius confirmou.

— Eu... — Ele engoliu em seco, voltando a olhar para a porta. Odiava se sentir vulnerável daquela maneira, em especial sem ter Scarlett por perto. Era desconcertante. — Não sinto que sou o suficiente para... compensar a falta que ela sente da família.

A mulher sequer se moveu, fitando-o como se tentasse penetrar em sua mente. Sirius desviou o olhar.

— Você nunca vai conseguir fazer isso, Sirius. Você não é o pai, nem a mãe, ou o irmão da Scarlett. Você é o namorado dela e esse é o seu lugar. Não tente ocupar um espaço que não te pertence.

— O que eu deveria fazer, então? Tenho medo... tenho medo de deixá-la sozinha e então as coisas...

— Não, você não tem medo de deixá-la sozinha. É você quem tem medo de ficar só, que está tentando agradá-la de todas as formas temendo que ela te deixe. Você entrou aqui e tudo o que falou foi da sua namorada, do que ela sofreu, ignorando completamente os seus próprios sentimentos.

Sirius piscou algumas vezes, tentando processar o que aquela mulher presunçosa lhe disse.

— Eu não... os meus sentimentos não importam. Tudo o que importa é ela.

— Eu entendo o que você está fazendo por ela, Sirius, e vocês estão passando por momentos difíceis. Mas quanto mais você reprime, quanto mais você guarda... mais isso vira uma bola de neve e se manifesta de outras formas. Você disse que às vezes volta para o dia do incêndio. Como é isso?

Sirius esfregou as mãos suadas umas nas outras antes de coçar a ponta do nariz, controlando as emoções que ameaçavam afogá-lo.

— Se eu ouvir um grito ou... fumaça... se ficar muito quente... é como se... é como se eu revivesse o que aconteceu. E eu entro em pânico. — Ele murmurou, desconfortável. — Fogo... clarões... às vezes eu estou dormindo e... eu acordo achando que...

Scarius | Sirius Black (Ato II)Onde histórias criam vida. Descubra agora