LXXVI
— Scarlett... — A voz distorcida pelo fogo e abafada pela fumaça a chamou.
Ela virou o rosto na direção do som, levantando-se em meio às chamas, correndo e correndo sem nunca alcançá-la, a silhueta na frente da brasa estendendo-lhe a mão.
— Orfy... — Scarlett sussurrou, num resquício de fôlego. — Orfy... Orfy... ORFY!
Sua visão desfocou aos poucos e o som das chamas sumiu subitamente. Enquanto suas retinas tentavam se acostumar com a escuridão do quarto, tudo o que conseguia ver eram os olhos de estrela. As pupilas dilatadas e assustadas, os cabelos negros desgrenhados e um par de olheiras afundando a pele alva.
— Ei... — A feição de Sirius dançou entre o susto e a preocupação, as mãos quentes cobrindo as bochechas de Scarlett, obrigando-a a olhá-lo.
— Eu... eu esqueci... — Ela murmurou, ainda sonolenta. — A poção.
Sirius assentiu devagar, puxando-a contra o peito dele, inebriando-a com seu perfume doce, deixando que a sensação amarga que rastejava em seu corpo causada pelo pesadelo fosse afastada por sua presença. A respiração ainda estava irregular e rápida, desencadeando-lhe uma crise de choro.
— Está tudo bem, você está segura. — Ele disse, a voz rouca. — Estou aqui.
— Eu sei. — Scarlett arfou, enlaçando a cintura dele com os os braços. — Eu sei.
Seu olhar turvo invariavelmente mirou na janela. Mesmo coberta pelas persianas, Scarlett sabia exatamente o que havia do outro lado. Arrepiou-se, mesmo estando suada do pesadelo. Sirius desgrudava de forma gentil seus cabelos da nuca, soprando-a devagarzinho ao passo que lhe fazia cafuné.
Scar deixou as lágrimas serem absorvidas pela camiseta de Sirius ao fechar os olhos. Concentrando-se nos batimentos fortes de seu coração, perdendo-se naquele homem que era tudo o que lhe restava.
Sirius acolheu-a como sempre fazia, com uma delicadeza que ela nunca imaginava que ele pudesse ter. Depois de um tempo, quando sua respiração começou a estabilizar e o choro diminuiu, Scarlett o fitou na escuridão do quarto, sentindo a leve carícia que o pé dele fazia no seu, o afago que seus dedos traçavam em seus cabelos.
— Podemos sair um pouco daqui? — Perguntou, a voz craquelada. — Não consigo... é difícil ficar aqui sabendo que... minha casa está bem ali na frente e...
As palavras morreram em sua garganta. Scarlett engoliu em seco, fungando quando Sirius lhe deu um beijo cheio de afeto na ponta do nariz antes de escorregar para fora da cama, buscando algumas roupas em seu malão.
— Vamos sair, então. — Ele disse com o sorriso cheio de covinhas que acordava as borboletas em seu estômago. — Tenho uma surpresa para você.
— Surpresa? — Scarlett abraçou os joelhos ao encarar a camiseta e o short que ele jogou na cama.
— Uhum. — Sirius grunhiu. Havia um brilho em suas íris, um misto de travessura e excitação que Scarlett não conseguiu desvendar, semicerrando os olhos quando o namorado acendeu o abajur e começou a tirar a roupa.
Ela tinha que admitir, as tatuagens de Sirius só acentuavam o charme inerente que ele possuía, atraindo seu olhar com facilidade. Estava hipnotizada demais na forma que seus músculos se contraíram quando ele vestiu a camiseta, olhando-a com um sorriso de canto.
— Apreciando a vista, hã? — Ele a olhou com malícia, colocando o casaco de couro.
— Você é lindo. — Scarlett murmurou, apoiando o queixo nos joelhos.
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Scarius | Sirius Black (Ato II)
Romance"Sabe como isso funciona, Sirius. Você me pede para ficar e eu vou embora." "Scarlett passou semanas inteiras se acusando de ser uma pessoa ruim. De ser uma assassina, uma traidora e uma covarde. Entretanto, naquele momento, percebeu que, se algo de...