LXXXVIII
Bigodes abriu os olhos e bocejou preguiçosamente, esticando as patas da frente. Ao tentar esticar as de trás, uma dor lancinante lhe arrancou um choramingo. Espremeu os olhos, deixando que a visão se acostumasse com o ambiente à meia-luz. Luminárias dissolviam a penumbra e algumas velas crepitavam em cima das mesas, reluzindo no veludo verde escuro do dossel das camas.
Piscou várias vezes. Conhecia aquele lugar. Já esteve ali antes, já...
Ela tentou se levantar, impedida pela latejação que percorreu toda a pata direita, subindo até a coluna. A gata soltou um grunhido agonizante, notando que estava em cima de uma das mesas, deitada em uma almofada e coberta com um lençol de modo que não conseguia ver o membro ferido.
Voltou a correr o olhar pelo cômodo, notando uma dezena de penas organizadas ao seu lado, assim como um caderno e frascos de poções. Estava em uma escrivaninha de um dos dormitórios da Sonserina. Ao notar pela organização e roupas dispostas em uma das camas, chutou ser o feminino.
Bigodes tentou retornar para sua forma humana, mas a dor a deixava anestesiada de sua magia. Levantou as orelhas quando a porta abriu e duas garotas entraram no dormitório. Uma era morena, os cabelos tão escuros quanto os de Sirius, de pele retinta e sotaque estrangeiro. A outra possuía cabelos brancos como os de Pandora, tez alva e falava com tanta rispidez que a cabeça da gata doeu. As conhecia. Eram amigas de Reggie.
— Ele disse que queria focar no NOM's desse ano ao invés de ficar comigo até mais tarde! Acredita nisso?! — A de cabelos claros reclamou, jogando-se na cama mais próxima da saída. — Isso é ridículo! — Ela estava com o rosto vermelho. Provavelmente chorou mais cedo.
A morena abafou a risada com a mão, a atenção voltando-se para Bigodes. A gata fechou os olhos e fingiu dormir.
— Santo Salazar, Victoria... — Ela bufou, avaliando a pata machucada da felina. — Cedrico é muito certinho para você, ele ficou todo sem graça com a sua ajuda de como me vingar dos Weasley...
Bigodes tensionou o músculo da pata quando a garota dedilhou seu pelo, sussurrando um feitiço para dor.
— O osso já está no lugar... — Murmurou para si mesma, ignorando o chororô da amiga.
Osso? A gata tentou se lembrar do que havia acontecido para estar ali, mas sua memória era uma salada preguiçosa cheia de coisas que ela não queria digerir. Não naquele momento. Então tudo o que fez foi arreganhar os bigodes e fingir que estava sob o efeito de um feitiço para dormir.
— Isso tudo é culpa do Regulus! Se ele tivesse me pedido em namoro... — A tal da Victoria deixou os pés caírem na cama ao soltar o ar dos pulmões com um gritinho nervoso.
Bigodes abriu apenas um olho, prestando atenção na conversa.
— Por que você precisa tanto assim de um macho?! — A estrangeira olhou a amiga de soslaio, algumas mechas do cabelo presas no coque ameaçando fugir.
— Eu não preciso tanto assim de um macho! — Victoria se justificou, jogando um travesseiro na amiga, que o segurou no ar. — Eu sempre gostei do Reg, Luana!
— Se você gostasse mesmo do Reggie, teria respeitado a escolha dele! — Luana chiou, jogando o travesseiro de volta. — Você não devia ter feito aquilo. Ele ainda está bem chateado contigo, na verdade já estava com toda essa parada do tio dele e o seu chilique só piorou tudo...
— Eu não estou fazendo chilique! — Victoria segurou os cabelos com força, a voz em um tom que dizia o contrário.
Bigodes tampou os ouvidos com as patinhas. Não estava afim de ouvir um drama adolescente naquele momento, não quando sua cabeça finalmente começou a juntar as peças dos acontecimentos. Onde estavam seus fantasmas?! Olhou para a patinha dianteira esquerda, se perguntando se conseguiria invocá-los até ali de algum jeito.
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Scarius | Sirius Black (Ato II)
Romansa"Sabe como isso funciona, Sirius. Você me pede para ficar e eu vou embora." "Scarlett passou semanas inteiras se acusando de ser uma pessoa ruim. De ser uma assassina, uma traidora e uma covarde. Entretanto, naquele momento, percebeu que, se algo de...