Capítulo| 8 •

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Zerath Aszkher

Meus passos ecoavam pelo ambiente, ressoando nas paredes de pedra ao meu redor, criando um som inquietante que se propagava pelo espaço estreito. Cada movimento parecia pesado, mas não hesitante, onde carregava a tensão de quem adentra um lugar que a luz é quase inexistente e o desconhecido se esconde nas sombras. Era nítido que as trevas habitavam aqui. O chão irregular sob os meus pés emitia pequenos estalos, como se o próprio solo estivesse vivo, sussurrando segredos antigos, esquecidos pelo tempo. Tanto eu, quanto os meus guerreiros sabíamos, que qualquer deslize naquele momento, poderia resultar em nossa própria morte. Principalmente agora, que o dia já deixava os céus e dava lugar aos tons alaranjados e azuis da noite que logo se aproximava.

Mais cedo, havíamos recebido um macho de um pequeno povoado que habitava perto de Yalak, não muito longe. O mesmo disse, em resumidas palavras, que nas montanhas Shur'lok eram emitidos rugidos e grunhidos durante às sombras da noite. Pequenas patrulhas mandadas pelo rei vieram para verificar, até porque, se algo ameaçava um pequeno povoado nas terras de domínio de Klaystaros, isso significava que o reino também poderia estar em perigo. Talvez, fossem criminosos que fugiram da guarda ou de Ambolyes, e estivessem se escondendo em buracos onde garantiram que a luz não penetraria tão fácil. Não seria a primeira vez.

O ar estava denso, impregnado com uma umidade que se agarrava à pele — mesmo com a armadura me protegendo — tornando cada respiração mais densa. O único alívio vinha das tochas que os meus soldados carregavam, suas chamas trêmulas lançando sombras distorcidas nas paredes rochosas. Cada uma parecia tomar forma, movendo-se de maneira quase imperceptível, como se a própria caverna estivesse observando cada um de nossos passos. À medida que avançávamos, o som dos mesmos me seguindo de perto era o único sinal de que não estava sozinho. Podia sentir a ansiedade no ar, a respiração contida, os olhos arregalados que buscavam capturar cada sinal ou detalhe ao nosso redor, como se esperassem que algo emergisse da escuridão a qualquer momento. Não seria uma surpresa, é claro. O gotejar contínuo de água, vindo de algum lugar à frente, apenas acentuava a sensação de isolamento. Não estava gostando daquilo.

— Cuidado onde pisam. — alerto, em um tom baixo e controlado, suficientemente alto para que meus homens me escutem, mas sem chamar atenção indesejada.

As paredes da caverna, frias e úmidas ao toque, pareciam se fechar sobre nós, como se estivessem tentando nos engolir. Meus sentidos estavam aguçados, cada fibra do meu corpo em alerta, preparado para qualquer coisa a partir disso. Havia algo naquela escuridão, e eu sabia disso, uma presença invisível que se esgueirava pelas sombras, observando-nos com uma atenção silenciosa e predatória. Enquanto avançávamos, a tensão aumentava a cada passo.

De repente, um som cortante invadiu o ar quando puxei minha espada da cinta de couro — agarrada em meu quadril — o metal ressoando em uma advertência silenciosa. Algo na atmosfera havia mudado, um som sutil que, aparentemente, só meus ouvidos captaram. Rosnados baixos, quase inaudíveis, mas que reverberavam ao meu redor como uma ameaça iminente. Não estávamos sozinhos. Não que, antes, restasse duvidas. Meus olhos se estreitaram. Era como se a própria caverna estivesse viva, pulsando com uma energia ameaçadora que se tornava mais tangível a cada segundo.

— Escutaram isso? — a pergunta ecoou pelo grupo, e na penumbra da caverna, foi difícil identificar de imediato quem a fez.

— Não parece ser coisa boa... — outra voz respondeu, que eu supus ser de Zhuk'a, o tom carregado de cautela.

— Vamos continuar. — sussurrei para os mais próximos. Eles reagiram imediatamente, firmando seus pés e preparando suas armas, seus olhos agora mais atentos às sombras ao redor. Não pareciam hesitantes quando resolveram me seguir, e era por isso que o exército de Klaystaros era um dos mais temidos entre os quatro reinos. — Não baixem a guarda.

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