Capítulo| 12 •

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May Silverton

Estava mergulhada num sono profundo, envolta pelo silêncio pesado da noite, e o frio cortante, que me fazia abraçar o próprio corpo, a fim de me aquecer de alguma forma, quando um som estranho começou a se aproximar, quebrando a tranquilidade. Meus olhos se abriram lentamente, ainda pesados de cansaço. A princípio, pensei que não fosse nada, apenas o vento que sussurrava entre as árvores, ou talvez algum animal se movendo nas sombras do acampamento. Tentei ignorar, convencendo-me de que não havia motivo para preocupação. Tudo já estava escuro, exceto por algumas tochas que ainda estavam brilhando pelo fogo, que logo se apagariam.

Fechei os olhos novamente, tentando voltar ao sono que me abraçava com tanta dificuldade todas as noites. No entanto, o barulho persistiu, tornando-se mais distinto, como algo rastejando pelo chão, avançando em minha direção. Aquela intensa sensação de que você não está sozinho no seu quarto, com as luzes apagadas. Meu coração começou a bater mais rápido, e a tranquilidade que eu tentava recuperar rapidamente se dissipou, substituída por uma sensação crescente de medo. Relutantemente, me levantei, sentando-me no lençol desgastado em que dormia. O frio da noite me envolveu ainda mais, mas o desconforto que sentia em minha pele não era apenas devido ao clima. Era um frio mais profundo, que parecia emanar de dentro de mim, alimentado pelo terror que começava a crescer em meu peito.

— Q-quem está aí? — minha voz soou mais fraca do que eu esperava, quase um sussurro, mas o medo era palpável em cada sílaba. Olhei ao redor, tentando penetrar a escuridão com meus olhos cansados, mas não havia resposta. O silêncio se tornou ensurdecedor, e a minha respiração, pesada e entrecortada, era o único som que conseguia discernir.

Uma presença se destacou nas sombras, surgindo como uma figura imponente e quase etérea sob o brilho moribundo das tochas. Era o general. Logo reconheci pelo tamanho, pelas formas anguladas de seu corpo moldado pela pouca luz, e pelos lindos chofres curvados para cima, como os de um bode. Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse registrar sua aproximação. Um calafrio percorreu minha espinha, e minhas mãos apertaram instintivamente a barra velha e fina da malha que cobria o meu corpo

— General? O que faz aqui? Tão tarde ainda. — minha voz soou mais firme do que eu esperava, mas a tensão era inegável, vibrando em cada palavra.

Seus olhos escuros varreram o local onde eu dormia, aberto e vulnerável sob o céu estrelado. Não havia tenda, nem mesmo improvisada, tampouco uma superfície com um banquete posto para mim. Ele me olhou com uma intensidade calculada, o que me fez desviar os olhos por um instante, como se algo em mim tivesse sido avaliado e julgado. Senti o calor subindo até meu rosto enquanto me levantava com pressa, batendo a poeira de minha veste surrada e juntando as mãos em frente ao corpo, tentando me compor e esconder a vergonha que a miséria daquele lugar me provocava.

A figura do general era tão ameaçadora quanto sedutora, envolta apenas pela fina peça que cobria sua cintura. A xyla ajustava-se ao corpo robusto e exposto, e, por mais que eu tentasse me manter firme, meus olhos escaparam, deslizando sem permissão pelo seu corpo. Observei as coxas largas e torneadas, o rabo longo que se movia suavemente, e o "V" bem definido que descia por sua pelve até o ponto mais baixo de seu abdômen. Pelo caminho proibido. O rosto queimava, e o rubor denunciava os pensamentos involuntários que me atravessavam.

— Por que tem me evitado? — sua voz soou firme, mais grave do que de costume, um tom meio rouco, carregado de algo que eu ainda não conseguia decifrar.

Meu coração disparou. Cada palavra carregava uma presença tão avassaladora que parecia penetrar minha alma, quase como um comando que ressoava nas fibras do meu ser. Eu não sabia o que responder, nem se ele esperava uma resposta. Era como se o general tivesse, naquela noite, se tornado o próprio predador que tanto me assustava, cada passo revelando uma ameaça invisível. O olhar que ele me lançou tinha uma intensidade diferente, algo quase animalesco, como se algum instinto estivesse à beira de se manifestar. Inspirei fundo, forçando-me a sustentar seu olhar, mesmo com a garganta seca e o peito oprimido. Ele se aproximou ainda mais, reduzindo a distância entre nós, e senti a energia que emanava dele, um calor sombrio que não era humano, óbvio, mas que me fazia recuar por dentro. E, mesmo assim, não consegui me mover.

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