Capítulo| 7 •

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May Silverton

— Estou extremamente ocupado com as sabahs. Vá e termine de limpar as tendas que restam. — Embora a sua ordem parecesse trivial, o macho nem sequer levantava os olhos para mim. Observava-o enquanto limpava mais sabahs, como batatas da terra, mas eram menores e o gosto era mais forte. Ainda me lembro a última vez que comi batata frita, sinto saudades da gordura e do tempero.

— Este seria o meu momento de descanso. — respondi, mordendo a bochecha para reprimir a frustração.

— Eu não me lembro de tê-la questionado sobre alguma coisa. — de maneira grosseira, ele responde rispidamente. —Já limpei quase todas as tendas, falta apenas uma.

Suspirei profundamente.

— Tudo bem. — eu sabia que não havia alternativas. Se me recusasse, ele certamente relataria a dona Ixia que eu não estava cumprindo com minhas responsabilidades.

— Excelente. A tenda do general Aszkher é a única restante. Sempre deixamos a dele por último para garantir que a limpeza seja feita com prioridade.

Quase engasguei com a surpresa.

— C-como? — suas palavras me fizeram congelar no lugar, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.

— Você é surda? Vai limpar a tenda do general Aszkher para mim! — ele bradou, enquanto cortava frutas com uma faca de ossos, claramente irritado com a minha falta de agilidade.

Fiquei paralisada. Sabia que não deveria entrar naquela tenda enquanto ele estivesse lá. Já havia se passado alguns dias desde sua chegada com o exército, e apesar de nunca ter conversado diretamente comigo, a sua presença me causava um desconforto inexplicável e profundo.

— Mas a dona Ixia não permitiu que eu me aproximasse do general. — tentei usar isso como uma justificativa, aproveitando a oportunidade para apresentar minha desculpa.

— Ele não está aqui. — uma sensação de frieza me envolveu junto com suas palavras. — Acha mesmo que eu permitiria a sua entrada na tenda dele se estivesse presente? Seria um desrespeito para com ele.

O macho emitiu um som que se assemelhava a uma risada abafada e um ronco de porco.

— Faça isso rapidamente, e não enrole. Não sei exatamente quando o mesmo retornará.

Sem muitas opções, aceitei a tarefa e saí de lá.

...

Já estava na tenda do general Aszkher, o coração batendo acelerado no peito. A entrada estava decorada com pesadas cortinas de um tecido escuro e opulento, que caíam até o chão e emolduravam a entrada. Ao puxar a cortina e dar o primeiro passo para dentro, fui envolvida por um ambiente de luxo rústico que contrastava com a simplicidade das outras tendas. O interior era vasto, e estava iluminado por inúmeras velas grossas que lançavam uma luz suave e dourada sobre tudo. O chão era coberto por um tapete macio e espesso, de um tom vermelho profundo, que parecia absorver qualquer som, proporcionando uma sensação de calma e isolamento. O teto da tenda era sustentado por postes de madeira esculpida, adornados com detalhes intrincados que se perdiam na penumbra.

Num canto, havia um grande leito de dossel, como uma cama feita no chão e coberta com uma manta de pelos, posto de forma meticulosa. O leito estava encimado por cortinas de seda que podiam ser puxadas para proteger a privacidade. Ao redor, um banco revestido por couro macio e um pequeno estande que armazenava suas coisa. Eu observava tudo aquilo com os olhos brilhando. Sabia que estava longe da minha realidade e jamais teria algo assim.

No centro da tenda, uma superfície de refeições estava coberta por cestos, e sobre ela repousava um lindo banquete com frutos diversos e carnes frescas. Um cheiro sutil de especiarias e ervas, provavelmente de um prato recentemente servido, pairava no ar. O ambiente tinha uma aura de autoridade e poder, acentuada pelos detalhes meticulosos e pela atmosfera de requinte. Tudo feito meticulosamente proporcional ao seu tamanho.

Eu me movi cautelosamente, observando o ambiente com uma mistura de admiração e apreensão. O ar estava carregado com um leve aroma de couro e intensificava, um lembrete constante do mundo em que o macho vivia. Era uma visão impressionante e intimidadora. A tarefa parecia ainda mais desafiadora agora que eu estava imersa nesse cenário grandioso e opulento. Com um suspiro profundo, comecei a preparar a área para a limpeza, tentando não me deixar intimidar pelo ambiente majestoso e pela presença quase palpável de autoridade que parecia pairar sobre tudo ali.

Depois de ter organizado tudo, olhei ao redor e percebi que a tenda permanecia praticamente inalterada, apesar do meu esforço.

Estava pronta para me retirar dali o mais rápido possível, mas me deixei distrair quando meu estômago roncou, e isso não foi baixo. Me virei, encarando os frutos e carne por um instante. Parecia tão apetitoso e clamava para ser comigo. Será que se eu partisse só um pedaço, ele notaria?

Olhei para os lados, já fazia um dia que eu não comia, estava tão ocupada com o trabalho e todo resto que era quase insuportável ficar aqui e não pegar nada. Me aproximei dos frutos e peguei um. Isso seria o suficiente para passar a noite. Quando me virei novamente, meu estômago roncou ainda mais alto. Meu olhar distanciou até encontrar as carnes. Havia uma variedade delas, desde animais da terra ou do mar, como peixes. Meu corpo formigou e a minha boca salivava com a tentação evidente no meu semblante.

— Não, May, não faça isso... — estava agitada, mordendo a bocheca me repreendendo internamente por simplesmente não virar as costas e correr.

Não controlei os meus dedos e peguei uma das carnes, levando até o nariz e cheirando. Merda, isso cheirava tão bem! Não resisti e mordi um pedaço. Embora não fosse assada como carne de cordeiro ou tostada no churrasco, era tão suculenta e macia! Não consegui evitar um gemido de satisfação quando lambi os dedos e provei mais.

Quando me dei conta, havia comido todas as carnes da mesa. Antes que eu pudesse fazer algo, escutei passos e o mesmo cheiro de antes invadiu a tenda. O cheiro dele. Me virei, assustada. Não era possível...

Era o general Aszkher.

Ele estava parado na entrada da tenda, e me encarava com um semblante indecifrável. Droga.

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