TRÊS, qual é a tua ayrton senna?

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Time, curious time
Gave me no compasses, gave me no signs
Were there clues I didn't see?
And isn't it just so pretty to think
All along there was some
Invisible string
Tying you to me?

"invisible string", Taylor Swift.


Avenida Faria Lima, agência Elite. São Paulo, Capital. 1990.

Dentre a falta de estrelas e o volume torrencial do temporal, tranquilidade que se instaura e que lava a alma. A calmaria depois de um final de semana corrido do Grande Prêmio do Brasil é uma brisa colidindo com a face, gentilmente recepcionando a continuação da vida habitual.

Aquela brisa matinal veio a tira colo com o sol que brilhava lá fora, a pouca umidade presente iria evaporar ao longo do dia, que era um conforto saber que a roupa lavada a mão naquela manhã estaria seca quando a noite caísse. Pelo menos era um conforto trivial que eu esperava com certeza no final do dia.

Vasculhava dentro de minha bolsa, sentada dentro do carro, a procura do maldito catão de entrada da agência quando finalmente ergui a cabeça, e definitivamente parecia que eu estava alucinando apesar de absolutamente sóbria.

Eu não tinha o hábito da bebida, apesar de isso não quer dizer que nunca experimentei ou bebi antes. Creio que a primeira vez que experimentei álcool foi aos dezoito anos, ou seja, quase dois anos atrás. Até bebia socialmente, quando dava vontade, mas não via graça no álcool ou de ficar tão bêbada que não consegue enxergar o próprio reflexo, esquecendo o que fez na noite passada.

De qualquer maneira, empurro esses pensamentos para o lado, observando o que pensava ser uma alucinação se reproduzindo com uma certa distância de mim, do outro lado da rua.

Ayrton Senna, sim. Ele mesmo, Ayrton Senna, em carne e osso.

O que eu via, do outro lado da rua, na porta da agência, em toda sua glória, era um Honda negro como a noite, reluzindo de tão novo, e dentro dele, obviamente pilotando o automóvel, estava Ayrton Senna.

Estava sóbria, apenas com o café da manhã o qual ingeri apressadamente na barriga e nenhuma gota de álcool no sangue. Era oficial, aquele homem estava me perseguindo. Maldito. Aquele cara estava me fazendo um mal danado nas faculdades mentais.

O carro dele acelerou, alto e potente, me trazendo para fora de meus devaneios e cantou pneu pela rua, sumindo na próxima esquina. Meio que reforçando a ideia de que era como a versão automobilística do fantasma da ópera, mas não - era ele mesmo, em pessoa. Não restavam dúvidas de minha parte. Foi aí que me peguei reparando na porta da agência novamente, observando alguém entrar no prédio da Elite praticamente saltitando.

Assim que adentrei no edifício após trancar o carro, bolsa pendurada no ombro, me deparei com o sorriso inconfundível de felicidade extrema que Daniela, uma das modelos, tinha estampado no rosto - era ela quem havia recém saído do carro de Senna, isso não me restavam dúvidas. Especialmente com o burburinho que se formou e as informações que Daniela tratou de liberar enquanto eu desfazia meu rabo de cavalo, deixando a cabeleira loura solta.

— Vocês viram quem acabou de me deixar aqui na porta? — Daniela perguntou, radiante como o sol.

A mulherada logo levantou a cabeça, curiosidade era igual a piolho, pegava com facilidade. Não demorou muito para todas meio que se aglomeraram ao redor da sala, perguntando "quem?" ou "quem foi?", e eu escutava no meu canto. Esperando o desenrolar da exebição alheia.

Bem, eu sabia mesmo que no momento que ele não conseguisse o que queria comigo, seja lá o que fosse, ele iria partir pra outra - eu até mesmo neguei diversos convites e dei bolo esperando por isso. Não queria nada com ele, não o conhecia.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora