ONZE, um conto de fadas não paga as contas.

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Morning, his place
Burnt toast, Sunday
You keep his shirt
He keeps his word
And for once, you let go
Of your fears and your ghosts
One step, not much
But it said enough

— "You Are In Love", Taylor Swift.


ADRIANE GALISTEU, a borboleta.

Casa de Angra. Angra dos Reis, sudoeste do Rio de Janeiro. Domingo, Abril de 1990.

Quando acordei, horas mais tarde, o sol já alto e bastante quente, me vi ainda imersa naquela empolgação da noite passada. Mesmo com o corpo despertando devagar, eu me sentia feliz e realizada. Aquele sentimento adolescente de borboletas no estômago prevalecia firmemente, e, por um momento, aquilo não me assustou tanto quanto eu esperava.

Estiquei meu braço completamente para o lado da cama que ele ocupava antes, tateando nada depressa e encontrando todo o vazio de um nada. Não demorei muito a virar o rosto, um grande ponto de interrogação estampado na minha cara ao constatar que apesar do sinais de que aquele lugar tinha sido ocupado antes, os lençóis e o travesseiro estavam frios. Ele já tinha deixado o quarto há um tempo.

Aquilo praticamente me fez entrar em pânico, querendo automaticamente confirmar minhas suspeitas que eram até então responsáveis por colocar uma barreira entre mim e ele, com suas incansáveis tentativas de me conhecer ou passar algum tempo comigo. E era praticamente óbvio, agora que tinha conseguido o que tanto queria, eu já podia arrumar minhas malinhas e desaparecer da vida dele sem deixar rastros.

Sim, sim. Extremamente dramática, mas os nervos que não conseguia controlar pareciam amar a ideia de me atirar em conclusões completamente precipitadas.

Rolei na cama, enfiando a cara dentro do travesseiro dele e inalando o cheiro que era responsável por me deixar completamente obcecada. Ao menos era uma pequena certeza que não tinha sido mais uma alucinação ou um sonhar acordado, fora o fato do meu corpinho estar um pouco, mas só um pouquinho, dolorido. Não que me importasse com aquilo, na verdade era um dos motivos pro sorriso idiota que não conseguia sair da minha boca, tentando ou não, por mais que eu me esforçasse.

Estava nadando num mar que dois tipos de água se encontravam: uma era a felicidade genuína que a noite passada me presenteou, a outra se tratava da minha insegurança com o fato de acordar e não encontrar aquela reconfortante presença dele ao meu lado, ou em lugar algum onde minha vista podia alcançar dentro daquele quarto gigante.

Incerteza de criança, o medo de deixar a cama durante um temporal assustador no meio da noite, mas dessa vez se tratava de deixar a cama mais confortável que vim a dormir na vida e descobrir onde Ayrton estava, se estava realmente se ocupando fazendo outra coisa ou se escondendo de mim até que eu fosse embora, assim não teria que lidar com uma mulher pegajosa lhe cobrando nada depois de ele ter enfim conseguido o que tanto queria.

Não iria bancar a grudenta ou toda apegada com o homem que mal conhecia, mas depois de tudo que ouvi nos últimos dias, ou a declaração inesperada dele na noite passada, eu realmente queria que ele não estivesse pronto pra me dispensar agora, mesmo que as chances de alguma coisa continuar acontecendo entre nós fossem mínimas por motivos óbvios.

Com a profissão que ele tinha? A vida cheia de glamour e tals?

Não esperava que, do nada, ele começasse um malabarismo pra viver um romance longo comigo. Apesar de estar flutuando com o fato de ter provavelmente ter tido a melhor relação sexual da minha vida até o momento, tinha que me obrigar a ser uma mulher realista.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora