DEZ, o mais perto do paraíso que já estive.

642 23 140
                                    


And I'd give up forever to touch you
'Cause I know that you feel me somehow
You're the closest to heaven that I'll ever be
And I don't wanna go home right now

And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
And sooner or later, it's over
I just don't wanna miss you tonight

— "Iris", The Goo Goo Dolls.

* ! CAPÍTULO PARA MAIORES DE 18, se desconfortável, não leia.


ADRIANE GALISTEU, a borboleta.

Casa de Angra. Angra dos Reis, sudoeste do Rio de Janeiro. Abril de 1990.

Pra início de conversa, aquela historinha pra boi dormir de que tinha dado algum problema no banheiro do meu quarto, seguida da primeira desculpa de que um quarto com duas camas só pra mim, que era só uma pessoa, tinha que ser ajustado era o maior conto de malandro que Ayrton Senna poderia ter inventado.

E até ele sabia disso.

Não vou tirar o mérito dele de piloto realmente esperto e estrategista, isso sem falar o quanto era decidido e definitivamente não largava o osso até conseguir o que realmente queria - traço bem marcante da personalidade dele que pude perceber desde os primeiros contatos. O homem sabia qual pauzinhos mexer pra chegar até a tal linha de chegada, e eu não iria bancar a inocente agora e ignorar o que e onde ele pretendia chegar com aquilo tudo.

Quase como uma criança emburrada, que na verdade surtava com ansiedade por dentro, cruzei a casa com ele ao meu enlaço depois de insistir que me ajudaria a juntar minhas coisas e me acomodaria no meu novo aposento pela minha última noite na casa.

Naquele ponto tinha esquecido na bagunça que tinha deixado pra trás mais cedo, a mala escancarada em cima da cama que eu não ocupava, peças de roupas amontoadas ao redor da tampa e a toalha do banho matinal esquecida no chão. Assim que aquela visão do inferno da bagunça apareceu pra mim quando abri a porta do quarto, respirei fundo e meio que me arrependi pela pressa que tinha ao sair do quarto e a falta de arrumação despreocupada.

Pode ter sido um pensamento ingênuo, mas nunca considerei que ele fosse aparecer no "meu" quarto e ver a minha bagunça pessoal enquanto estava por aqui. Não teria deixado minhas coisas naquele estado se tivesse pensado mais um pouquinho.

Estava perto de abrir a boca para me desculpar pela bagunça feita por mim mesma, mas ele me superou, interrompendo minha linha de raciocínio com a voz que tanto ocupava a minha cabeça ultimamente.

━ Licença...

Simplesmente passou por mim, não dando muita importância que eu tinha ficado estaqueada na porta observando como seu meu olhar penetrante fosse juntar minhas coisas e fechar as minhas malas por mim sem nenhuma intervenção de movimento humano.

━ Trouxe mais alguma coisa ou só essas duas malas?

━ Acho que tenho uma maleta no banheiro, vou pegar.

━ Vai sim, enquanto isso eu cuido de juntar tudo aqui. Não se preocupa.

Assenti e não pensei muito antes de me enfiar no banheiro, olhando para um ponto fixo na parede e rezando para não ter um surto mental ali. Tudo bem, claro eu não era nada inocente. Podia imaginar onde eu iria acabar, e podia apostar todas minhas fichas que se tratava do quarto dele, ou, com alguma sorte, pra um quarto na frente do dele.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora