TREZE, só o colo de uma mãe tranquiliza.

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I don't know
But I think I may be fallin' for you
Dropping so quickly
Maybe I should keep this to myself
Waiting 'til I know you better

— "Fallin' For You", Colbie Cobalt.

ADRIANE GALISTEU, a borboleta.

Agência Elite. Quinta. Abril de 1990.

Passei aquela quarta-feira inteira caminhando para cá e para lá quando não estava dirigindo pelo trânsito insuportável de São Paulo em bate e voltas cansativo, de um trabalho concluído para uma audição e outra. O que até foi bom, no final das contas, já que basicamente não tive tempo algum para bancar a distraída, com minha mente bem longe pensando num certo piloto.

Curiosidade sacana de saber até onde ele planejava estender aquilo.

Acontece que eu mal sabia que ele não era do tipo de desistir das coisas fácil, mesmo depois de conseguir exatamente o que ele queria. Todo aquele mundo era atraente, não minto, mas mesmo depois de uma noite dividindo muito mais que uma mera cama de casal e saciando desejos carnais e emocionais, ainda rolava a maior insegurança da minha parte.

Afinal, eu realmente não fazia ideia da onde estava me metendo.

Quando a senhora quinta-feira bateu em minha porta, eu sabia que era a hora da verdade definitiva. Tinha uma pontada de esperança no meu peito desde quando estacionei meu carro do outro lado da rua, bem de frente para a agência como eu sempre costumava fazer todo dia que vinha até o prédio.

Entrei numa pressa pessoal, dando um oi rápido e um aceno para Vivian, a secretária na recepção, e parti pra área reservada para as modelos guardarem seus pertences e se aprontarem. A minha busca foi feita com o olhar, escaneando a tal sala com os olhos, minuciosamente esperando encontrar a mesma dupla arquétipo, Daniela-Danielle, que participaram da junção em Angra, mas que aparentemente tinham a agenda livre muito diferente de mim. Quando percebi que a presença delas ainda era indisponível, me dirigi até meu armário na fileira atrás, toda paciente e despreocupada abrindo o cadeado e empurrando minhas tralhas pra dentro.

Uns quatorze ou quinze minutos depois a dupla adentra o recinto, com um bronzeado que se assemelhava um pouco ao meu, e tão falante quanto podia ser de se esperar quando elas eram amigas até que bem próximas ali dentro, o que era algo meio surpreendente; de um jeito ou de outro, nessa vidinha de modelo, até sua amiga mais próxima tinha chances incontáveis de ser sua maior rival.

Me senti a própria mais mais quando as duas guardam as coisas delas e me aproximei, até esperei olhares de nojo ou algo do tipo, mas fui recebida com um par de sorrisos que pendiam para uma certa malícia.

Não dá nem pra fazer costume, pensei comigo mesma.

Bem, pelo menos não depois dos quatro dias que experienciei em Angra, não consegui fazer costume na frente do anfitrião da casa, imagina fazer costume agora? Como se final de semana sim, final de semana não, um Ayrton Senna da vida fosse muito bem acostumado a me catar aqui na capital e dar uma fugidinha pra mansão paradisíaca dele em Angra dos Reis - o que definitivamente não era a minha realidade principal.

Foi meio que sobre estar no lugar certo, no momento certo e na hora certa.

Não sei se devo fantasiar sobre intervenção divina ou destino, bate na porta aquela dúvida cruel de novo, da agenda dele lotada, do monte de mulher que esse homem podia ter sem esforço algum, literalmente qualquer uma, entre as mais glamurosas e high profile. E, mesmo assim, naquele momento, ele me escolheu. Eu ainda tentava compreender aquilo, digerir que tinha sido sua escolha - mesmo não sabendo se era a escolha do momento, ou a escolha para um caminho além daquele.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora