OITO, de beijos a apostas silenciosas.

379 25 113
                                    


All I know is we said, "Hello"
Your eyes look like comin' home
All I know is a simple name
And everything has changed
All I know is you held the door
You'll be mine and I'll be yours
All I know since yesterday
Is everything has changed

"Everything Has Changed", Taylor Swift ft. Ed Sheeran.


ADRIANE GALISTEU, a borboleta.

Casa de Angra. Angra dos Reis, sudoeste do Rio de Janeiro. Sábado. Abril de 1990.

Viver uma espécie de estado sonhador estando completamente desperta e lúcida era uma coisa que não tinha vivido antes, só ouvido falar.

Muitas vezes nos pegamos no pulo, criando uma bolha onde nada mais entra, nada mais sai. É frágil, feita de uma mistura mítica de sabão com detergente. E você se vê não só usando aquela bolha como um tipo de apoio, mas como sua principal segurança do mundo inferior a ela. A bolha é construída a mão, por nossas escolhas e movimentos, lapidada com o passar do tempo, numa velocidade lenta e sem pressa. Ela também é inconsciente, forma-se sozinha sem demais intervenções diretas, apesar de ser encorajada a tornar-se sólida.

Naquele momento em questão, não existia a preocupação daquela bolha recém formada ser estourada no ar. Aquilo aconteceria cedo ou tarde, seja pela insegurança ou incerteza. Ou o peso colocado por terceiros.

Quando se está dentro da bolha, não se vê o tempo passar, os problemas triviais se esvaem, as preocupações são um fantasma preso ao lado de fora dela, porque você está imerso naquele paraíso, um momento de felicidade pura e genuína, onde não é capaz de enxergar mais nada fora a pessoa com quem compartilha daquilo ao seu lado.

Podia repetir constantemente essa narrativa, doce e distrativa.

O pensamento é mútuo, do jeito que ele me olha, eu posso afirmar. Carinho despeja um rastro visível no olhar, junto da timidez que se via escassa a cada segundo.

Me sentia de volta ao ensino médio toda vez que olhava pra ele. Depois de cada beijo compartilhado, um intervalo justo antes de colar os lábios em outro mais curto, igualmente gentil e com o gosto de quero mais. Não adiantava se envergonhar mais, não enquanto a bolha ali residisse.

— Sabe que isso é muito sério pra mim, não sabe? — tinha perguntado, algum momento depois do segundo ou terceiro beijo horas atrás.

Não estava disposta a bancar a aventura de piloto como outras por aí, independente de quem o piloto fosse. E se tivesse que desenhar isso para Ayrton Senna entender, eu desenharia o desenho mais detalhista que ele veria na vida dele.

— Eu sei, é sério pra mim também. Ou não acha isso?

Ponderei responder aquilo, escancarar minhas dúvidas pendentes, mas a possibilidade de frustrá-lo e acabar com o clima que demorou tempo o suficiente para ser construído me fez apenas concordar com aquilo.

Nem dava pra fingir rotina, porque realmente - sentada no colo de um homem enquanto beijinho sim, beijinho aqui e ali, eram trocados não era algo rotineiro pra mim. Especialmente se tratando de um homem como aquele, que me desconcerta com um mísero olhar e ainda sorri quando recebe a reação que ele tanto esperava em mim.

Religiosamente falando, cada beijo compartilhado era parte de um novo testamento esculpido pelas manobras surpresa da vida. Lembrete contínuo de que jamais estaria aqui se tivesse dispensado o teste que recusei não uma, duas, mas sim três vezes antes de ser persuadida a aceitar. Meu estado de negação ao interesse tinha sido violento e superior, jamais teria conhecido o homem por trás do ser mítico, nosso caminho não teria se cruzado fora daquele autódromo e seu circo anual. Ele facilmente teria qualquer outra mulher que desejasse em seus braços agora, e provavelmente muito antes do tempo e energia que ele tinha gastado comigo até conseguir chegar aqui.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora