DOZE, a escova de dentes e o consolo de mamãe.

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'Tão correto e 'tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

— "Quase Sem Querer", Legião Urbana.

AYRTON SENNA, o piloto.

Casa de Angra. Angra dos Reis, sudoeste do Rio de Janeiro. Domingo. Abril de 1990.

Era uma sensação de vazio que não conseguia explicar, fazia mais de meia hora desde que o helicóptero tinha retornado vazio do aeroporto. Ainda continuava na praia, debaixo do sol, sentado na areia com Kinda como minha única companhia.

Sentir saudade dela não era algo completamente racional, tive apenas quatro míseros dias de convivência presencial e grande parte deles foram tentando ao máximo expressar quem eu realmente era. Fora a parte que também tive que deixar explicitamente óbvio que levava aquilo entre nós absolutamente sério, não mais um tipo de aventura.

Desde o primeiro momento entendi os motivos dela de pensar duas vezes antes de tomar qualquer passo comigo, não era nada inocente e ela estava certa. Afinal, já tive meu bom número de aventuras por aí que duravam no máximo uma viagem ou final de semana antes de nunca mais ver a mulher da vez.

Adriane Galisteu era especial, simples, sensual e completamente charmosa.

Virando minha vida de cabeça pra baixo, no nível que passei muito tempo até agora tentando conquistar ela. Era um pouco divertido, pelo menos para terceiros, assistir ao tamanho do efeito que ela tinha sobre mim nos bastidores. Braga iria passar o resto da vida falando como ela me fez literalmente ficar de joelhos, e juro que me amaldiçoei quando inventei de me abrir em detalhes com meu velho amigo.

Queria que ela ainda estivesse aqui, mas não era egoísta e pensava que o mundo girava em torno de mim. Adriane tinha uma vida, um trabalho assim como eu. E não era sua culpa ter que se despedir tão cedo. Acabo decidindo que no final das contas aquilo era uma coisa boa, porque seria mais fácil que ela compreendesse como eu tinha uma agenda tão regulada cheia quanto ela poderia ter.

Tenho quase certeza que ela não acreditou quando disse que iria telefonar, e, para ser bem franco, entendia justamente os porquês da linha de pensamento dela: Eu tinha conseguido o que estava atrás, porque iria continuar insistindo em algo a mais?

Era cansativo, ser tão solitário e não ter ninguém com quem compartilhar uma vida, uma rotina própria. Acho que sempre busquei a pessoa que iria me completar, e tive meu bom número de casos enquanto tentava encontrar a mulher que realmente era essa pessoa. Diversos relacionamento que foram direto pro lixo, o último sendo o mais desgastante de todos eles e que minha irmã tentava argumentar que deveria ter tentado mais - meu temperamento de pavio curto logo cortou o mal pela raiz, amava Viviane, mas da minha vida quem cuida sou eu. Foi assim que acabei deixando ela no escuro desde que o término com a Xuxa aconteceu anos atrás.

A verdade é que todas eram capazes de amar Ayrton Senna, mas quase nenhuma era capaz de enxergar a mim: Simplesmente o Béco. Aí chega a Adriane Galisteu, não me dando a mínima, dispensando qualquer tipo de aproximação ou chance de me conhecer porque simplesmente não me conhecia. Me deixando louco e enfurecido, completamente obcecado com a ideia de sentar com ela e simplesmente conversar por horas a fio.

E agora ela achava que tinha uma oportunidade de desistir dela? Jamais.

Genuinamente, era a primeira vez que me sentia assim, mais do que pronto para conquistar aquela mulher e deixar escrito em todas as letras, em todos os idiomas que eu era o homem que valia o tempo dela.

caminho das borboletas | ayrton senna & adriane galisteuOnde histórias criam vida. Descubra agora