Tem um corpo familiar, pesado e sem vida deitado ao meu lado toda noite.
Uma sombra que posso ver no escuro.
Ele já foi quente, visível e sólido. Já me abraçou enquanto dormíamos.
Hoje ele é mais frio, intocável, ocupa quase toda a minha cama e não se limita a apenas memórias boas.
Quando preciso de afeto, olho para ele como se realmente estivesse ali para me confortar. Sinto seu cheiro e o toco em pensamento, enquanto converso com algo inexistente.
Ele me acompanha nos meus sonhos e pesadelos e me observa dormir como se eu fosse importante. Ele não vai embora nunca.
Ele absorve meu oxigênio, me embriaga para que eu não possa fugir dele.
Eu me acorrentei a ele por vontade própria.
Por mais que eu esteja sozinha ele não me deixa só.
Eu não quero mais ele ali, mas se ele sumir vou sentir falta assim como já sinto de quando ele era real.
Então, Sr Cadáver, não vá agora. Desapareça na hora certa, me abandone quando não tiver mais serventia.
Faça como a sua versão de carne, explore toda a minha companhia e me deixe quando não houver mais vida.
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Leia quem quiser
RandomTextos e reflexões de uma pessoa que tem muitas versões. Já não sou mais a mesma que escreveu os primeiros textos e em breve serei outra pessoa ao ler os de agora.