Capítulo 【18】

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_____༒Essos — 120 d.c༒_____

     Eu respiro fundo, sentindo o ar pesado e carregado de perfumes exóticos que emanam das pessoas ao meu redor. A música vibrante enche o salão, mas eu ouço, em algum lugar distante, o murmúrio do vento no Vale, o riso suave da minha mãe. Fecho os olhos por um instante, deixando-me transportar de volta para casa, para as colinas verdes e os riachos murmurantes que sempre foram meu refúgio.

     Quando abro os olhos, a realidade retorna com um choque. O salão é uma tapeçaria de cores, cada rosto uma história esperando para ser contada. As vestes luxuosas, os sorrisos calculados, e os olhares curiosos são parte desse novo mundo em que eu preciso me inserir. Caminho com graça pelo piso de mármore, cada passo calculado para exalar a confiança que sinto escorrendo entre meus dedos.

     Eu sinto os olhares sobre mim, alguns avaliativos, outros apenas curiosos. Cada encontro de olhares é uma batalha silenciosa, uma troca de mensagens não ditas. Enquanto converso com os desconhecidos que se aproximam, minhas palavras são medidas, cada frase cuidadosamente escolhida para conseguir o mínimo de informações possíveis.

     Olho ao redor, gravando cada rosto presente no salão, tentando memorizar os detalhes de cada pessoa. Contrariando minhas expectativas, a festividade que Rans organizaria não estava em um local isolado, mas na grandiosa residência de um Lorde em Lhazar. Percorro o salão com os olhos, procurando por ele, mas Rans não está à vista. Tampouco vejo a garota com quem ele pretendia se casar. Sinto-me completamente só.

     Meus amigos, rostos conhecidos por ali, não puderam me acompanhar. A presença deles poderia causar problemas, comprometendo todo o nosso plano. Enquanto caminho pelo salão com uma taça de vinho na mão, sinto a ponta da minha adaga encostando-se contra as minhas costas. Se algo desse errado, não hesitaria em usá-la. Mas a responsabilidade me pesa: agora sou mãe. Baelor me espera do outro lado da cidade, nos braços de uma prostituta que paguei generosamente para cuidar dele.

     Cada passo que dou é uma dança entre a cautela e a determinação. Observo as expressões ao meu redor, notando a mescla de curiosidade e indiferença nos olhos dos presentes. Há homens e mulheres adornados com jóias reluzentes, sorrisos polidos e conversas triviais que escondem suas verdadeiras intenções. Ninguém parece se importar com a figura solitária que sou, mas eu os observo com atenção, procurando pistas, sinais que me guiem até Rans.

     A opulência do local é quase sufocante. Tapestries ricas em detalhes pendem das paredes, e os candelabros de cristal lançam reflexos que dançam pelo salão. Respiro fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Preciso me lembrar da minha missão, do motivo que me trouxe até aqui. Cada segundo é crucial.

     O pensamento de Baelor me dá forças. Confiei-o a uma estranha, uma prostituta, porque não tinha outra escolha. Mas a promessa do meu dragão garantiu sua segurança. O medo nos olhos dela ao ver minha fera foi suficiente para assegurar que Baelor ficaria bem. No entanto, a incerteza ainda assombra minha mente.

     Continuo andando, a taça de vinho meio cheia na minha mão, um disfarce perfeito para minha vigilância constante. A adaga é um lembrete da minha prontidão. Cada pessoa que passa por mim é uma possível ameaça, cada olhar cruzado é uma potencial pista. Estou sozinha, mas não indefesa.

     Enquanto olhava ao redor, meus olhos captaram algo intrigante ao lado: uma espécie de santuário. Vi homens indo até lá, tocando seus próprios lábios com os dedos antes de levá-los em direção a algo escondido em um buraco esculpido na parede. Da minha posição, não conseguia ver o que estava ali, mas a luz das velas tremeluzia, criando um ambiente quase místico. Homens iam e vinham, cada um repetindo o mesmo gesto, até que o local ficou vazio por um tempo.

 ༒𝐈𝐌𝐏É𝐑𝐈𝐎༒ - ℜ𝔥𝔞𝔢𝔩𝔩𝔞 𝔗𝔞𝔯𝔤𝔞𝔯𝔶𝔢𝔫Onde histórias criam vida. Descubra agora