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Calor não-humano.

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Sentada em uma cadeira larga e acolchoada eu aguardava pelo momento em que Norman chegaria para recolher algumas amostras de sangue minhas. Esse era um procedimento comum, realizado em todas as pessoas de três em três, ou seis em seis meses. Apenas por precaução.

Escoro a minha cabeça no encosto atrás de mim, afim de relaxar um pouco a tensão em meu pescoço, causada pelo má posição em que dormi a noite passada.

Não tenho a menor consciência do momento em que simplesmente cai no sono, por isso também não faço a menor ideia de como acordei tão pontualmente. Meu corpo estava todo encolhido em um canto da cama, quase na beirada. Quando tentei virar para me acomodar melhor, meu braço bate em ALGUÉM e minha alma quase abandona o meu corpo.

Spider estava ali. Sim. Ao meu lado. Dormia como uma pedra.

Aos poucos recobro as minhas lembranças da noite passada e então relaxo. Provavelmente pegamos no sono ao mesmo tempo.

Acabo rindo ao reparar melhor nele. Com as suas vestimenta de sempre, cobrindo apenas suas "partes baixas", enquanto estava de barriga para cima, a boca aberta, cabelos castanhos claros bagunçados e os braços largados em cada lado de seu corpo. Se eu não estivesse vendo o seu peito subir e descer devido a respiração, poderia jurar que estava morto. Ele era grande em questão de altura. Certamente, tinha pra lá de um metro e oitenta e três centímetros, portanto ocupava quase toda a cama, me deixando praticamente sem nada.

Lembrar disso agora era mais engraçado ainda.

ㅡ Uau. Você sorrindo assim deixa até o meu dia melhor.

Norman diz ao entrar na sala, me pegando de surpresa.

ㅡ Credo! Você por acaso se transporta sem colocar os pés no chão? ㅡ pergunto exageradamente.

ㅡ Às vezes sim. ㅡ ele não perde a chance de fazer piada.

Ainda rindo de mim, ele prepara a seringa, agulha e os pequenos recipientes de coleta, os colocando em uma bandeija de metal.



Cutuco o pequeno curativo adesivo que foi colocado após o procedimento, no meio do meu antebraço. Acabo desistindo de tirá-lo e pego a capa de chuva em cima da cama.

Depois de sair do quarto ando por mais ou menos um ou dois minutos até chegar bem próximo a porta de saída para a floresta, onde pego a minha máscara, e após coloca-la no rosto, saio imediatamente.

Vejo Spider ao longe conversando com os Avatares de Malina e Marcus. Assim que me nota, vem em minha direção.

Finos pingos de chuva voltam a cair fracamente, e me fazem lembrar da existência da minha capa.

ㅡ Pensei que você não viria.

ㅡ Desculpe, mas dessa vez vou ter que te decepcionar. ㅡ digo e ele ri da minha piada fraquinha.

Ao ficar ao meu lado, nós andamos juntos para o nosso caminho de sempre.

A paisagem com cores bem mais vivas que o normal por conta das chuvas é encantadora. Flores de todo tipo começavam a desabrochar em lugares diversos. Devido a grande quantidade de nuvens no céu, impedindo a claridade e as árvores enormes fazendo o mesmo, a bioluminescência das plantas surge levemente.

Ainda me pergunto como a minha eu de oito anos reagiria ao ver tudo isso de perto. Como reagiria ao descobrir que anos depois finalmente conseguiria se libertar de oque quer que a prendia nos laboratórios.

ℂ𝕃𝔸ℝ𝕀𝕋𝕐 - 𝐍𝐞𝐭𝐞𝐲𝐚𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora