Nova pessoa e os mesmos velhos erros.
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Um gosto tão amargo que parecia indescritível o quão ruim era, está em cada canto de minha boca. Puro gosto de morte.
Me sinto cansada de tanto ficar deitada, como se tivesse dormido por três meses inteiros. A vontade de me levantar e espreguiçar o corpo é tão grande, mas aquela pontinha de preguiça me mantém ainda presa sobre a cama dura.
Passo a língua por meus dentes, tentando dissipar o gosto ruim e sinto uma das minha presas superiores perfurar supercialmente. Precisava avisar a Janice que, pelo visto, desenvolvi bruxismo e um de meus dentes tinha quebrado e deixado uma baita ponta. Minha vida já era boa demais, né. Agora com um dente quebrado ficaria tudo melhor.
Encontrando uma posição melhor na cama, me sinto tão confortável que a sonolência parece querer voltar. Porém, algo passa por entre minhas pernas, me fazendo sobressaltar levemente. Deduzo que não passa de um susto, daqueles quando estamos prestes a dormir, ou algo do lençol.
Meu corpo relaxa outra vez, mas o sono não vem completamente. Na verdade, penso se Spider irá para a floresta hoje. Eu estava com uma baita vontade de ir também. Espero que ele vá apenas depois do brunch¹, porque pretendo limpar meu quarto depois do café.
Sinto meu pescoço suar e a sensação me deixa agoniada e impaciente. Esfrego as costas da mão no local, a fim de tirar o excesso.
Pela segunda vez, quando estou próxima de pegar no sono aquela coisa alisa as minhas pernas. Não tinha sido um sonho. Havia mesmo algo grande cutucando minhas pernas. Fico paralisada na cama, sem coragem nem para abrir os olhos e me deparar com o que quer que aquilo seja. A probabilidade nula de aquilo ser uma maldita cobra terrestre era tão reconfortante quanto desesperadora.
Controlo a minha respiração o máximo que posso, na tentativa de ter certeza absoluta sobre o óbvio. Penso e
repenso se devo gritar por ajuda, mas a "coisa" age primeiro quando entra no vão no meio de minhas pernas denovo.Me levanto desesperadamente rápido da cama, ou melhor, maca. No entanto, não é uma boa hora para entender como fui parar naquela sala de atendimento médico.
Jogo o lenço para qualquer lado da sala e corro para o lado oposto, tentando fugir do animal que estava preso nele. Me encosto na parede completamente branca, enquanto busco qualquer outro indício de uma segunda vida dentro da sala, além da minha. Nada sai do lençol jogado no canto, perto da porta. Eu poderia sair por ali e pedir ajuda, mas usei apenas um neurônio quando arrmessei o tecido branco ao seu lado.
Por volta de três minutos depois, eu ainda olho fixamente para o mesmo local, a espera de qualquer movimento brusco vindo de lá.
Sinto uma tontura estranha que embaça minha visão, me força a fechar os olhos e instintivamente levar as minhas mãos para minhas pálpebras e esfregar com um pouco de força. Quando finalmente consigo abri-los, posso jurar ter visto um vulto de cor azulada. Olho ao redor, mas não há ninguém. Ao olhar para baixo, só para dar uma conferida, quase desmaio.
Eu estou AZUL!
Levanto minhas mãos o suficinete para que eu consiga vê-las.
O que eu fiz?
Por baixo da camisola hospitalar, sinto aquilo balançar, e só então os acontecimentos de quando acordei começam a fazer um pouco de sentido: EU TENHO UM RABO.
Prestes a ter um infarto, enquanto estou orando em voz alta para que aquilo não passe de um sonho bizarro, me viro lentamente para o vidro espelhado que dava visão ao corredor e lá está o reflexo que jamais acreditei que veria.
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ℂ𝕃𝔸ℝ𝕀𝕋𝕐 - 𝐍𝐞𝐭𝐞𝐲𝐚𝐦
Fantasy"𝐒𝐄 𝐎 𝐍𝐎𝐒𝐒𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 É 𝐋𝐎𝐔𝐂𝐔𝐑𝐀, 𝐏𝐎𝐑 𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐎𝐂Ê É 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐂𝐋𝐀𝐑𝐄𝐙𝐀?" Ano 2173, quase vinte anos após a luta entre o povo do céu, tudo tinha finalmente se estabilizado. Os Na'vi, mesmo que ainda fosse difícil para alg...