𝘛𝘩𝘦 𝘴𝘦𝘭𝘦𝘤𝘵𝘪𝘰𝘯

Chapter IV

Eram cerca de sete e meia quando o Jornal de Illéa estava prestes a começar às oito. Meu pai se esforçava ao máximo para fazer nossa pequena televisão funcionar, ou pelo menos para que conseguíssemos ouvir os apresentadores com clareza.

— Não tem problema se não conseguirmos assistir, não é nada importante hoje mesmo, pai. Eles só vão anunciar os vencedores daqui a duas semanas.

— Bem, teremos um discurso da família real. — Ele disse, dando um tapa na televisão, fazendo-a funcionar imediatamente — Agora sim. — Ele se sentou ao meu lado no sofá.

— Isso é importante? Quero dizer, provavelmente será apenas um discurso para alimentar esperanças sobre A Seleção.

— Harry, é seu príncipe na TV. — Anne provocou. — Além disso, faz tempo que o povo não o vê, desde que ele foi para o internato. Fiquei até surpresa por terem colocado aquela foto simples dele nos cartazes, ele tinha uns dezesseis anos naquela imagem, e agora está quase com vinte ou vinte e dois.

— Ele é tão jovem para se casar... — Murmurei. Eu também não era jovem demais? Acabei de completar dezenove anos. — Por que todo mundo diz que ele está ficando velho?

— Porque o padrão é que a realeza se case aos dezoito, assim como a princesa Felicité vai fazer. Charlotte se casou nessa idade. — Ela explicou. — E Louis está ficando para trás. Se ele não se casar agora, terá que esperar pela Seleção da irmã mais nova, o que seria, no mínimo, vergonhoso para ele.

— Coitadinho, imagina ser um príncipe e ainda ser virgem. — Niall entrou na sala e se jogou na poltrona, soltando o comentário constrangedor. Vi meus pais lançando-lhe um olhar repreensivo, o que me fez rir baixinho. — Desculpa, tia Anne e tio Des... — Ele se desculpou.

Minha mãe balançou a cabeça negativamente e voltou para a cozinha.

— Vai demorar muito? — Perguntei.

— Não, Harry. — Respondeu meu pai. — Vai começar em alguns minutos.

Estávamos todos aguardando pelo discurso do príncipe. A sala silenciosa era interrompida apenas pelo zumbido distante da televisão e pelo som abafado dos passos de minha mãe na cozinha. Eu me recostei no sofá, ansioso para ver o que Louis, o herdeiro do trono, teria a dizer após tanto tempo longe dos holofotes.

No mínimo, ele iria dizer que estava animado para conhecer as moças e moços que competiriam entre si por sua atenção.

— Vai começar — Anunciou meu pai.

Fixei o olhar na televisão, que brilhou com uma introdução para o Canal 8, o único que funcionava sem precisar da bendita antena. Logo em seguida, o hino nacional ecoou e a imagem da família real apareceu na tela.

No imponente palanque, erguia-se o majestoso rei Mark Tomlinson, ocupando o trono com soberania, enquanto a graciosa rainha Johanna permanecia ao seu lado. Nas franjas do palco, à esquerda, as filhas mais velhas do casal real exibiam-se em seus esplêndidos vestidos ornamentados com joias cintilantes. À direita, destacava-se o príncipe Louis, herdeiro do trono, trajando vestes elegantes e mantendo uma postura digna, ao lado do trono que um dia seria seu por direito.

— É o seu namorado, Harry. — Niall gritou. Meus pais riram.

Eu me esforcei para manter a expressão neutra, apesar do calor subindo em meu rosto. Louis, o príncipe, estava ainda mais bonito do que eu me lembrava das fotos antigas. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados em um topete, e os olhos azuis brilhavam.

Enquanto a câmera focava nele, era impossível não reparar no leve sorriso que ele tinha nos lábios, como se estivesse tão ciente da presença de todos que o observavam.

Era estranho pensar nele não apenas como uma figura distante, mas como alguém real, alguém que, talvez em breve, eu teria a chance de conhecer.

O apresentador, com um tom solene e empolgante, começou;

— Boa noite, povo de Illéa. Estamos reunidos nesta noite especial para ouvir diretamente nossa família real. Após um longo período de preparação, chegou finalmente o momento de escutarmos o príncipe herdeiro, Louis Tomlinson, falar publicamente sobre o evento mais aguardado por todos: A Seleção. Antes de tudo, é com grande honra que apresento Sua Majestade, o Rei Mark Tomlinson.

A câmera se aproximou. O rei Mark levantou-se e caminhou até o púlpito. A plateia aplaudiu calorosamente, e nós em casa assistíamos com atenção. Logo o rei começou seu discurso;

— Boa noite a todos.. — A voz do rei era grave, mas gentil. — Como sabem, a Seleção ainda está em andamento e os formulários foram enviados pelo correio. Já tenho em mãos os lotes de inscrições e devo dizer que os nomes de milhares de belas moças e belos rapazes já estão nas urnas.

Pude ver o príncipe mover-se desconfortável, trocando o peso de um pé para o outro.

— Agradeço em nome da corte real por sua participação e entusiasmo. Em breve, estaremos celebrando não apenas o casamento de nosso herdeiro, mas também a união com um verdadeiro filho de Illéa, escolhendo alguém que representa os valores e a essência de nossa nação. É com orgulho que entrego a palavra ao meu filho, Louis. — Apontou para este.

Louis ajeitou a postura e caminhou até o púlpito, seus olhos varrendo a multidão antes de fixar na câmera. Eu sentia meu coração acelerar enquanto ele se preparava para falar.

— Boa noite, cidadãos de Illéa. — Ele cumprimentou, soando pouco nervoso — É uma grande honra estar diante de vocês esta noite. Como meu pai mencionou, a Seleção é um evento de grande importância para todos nós, e estou genuinamente ansioso para conhecer aqueles que decidiram participar.

Ele fez uma pausa.

— Sei que a Seleção pode parecer um espetáculo, mas, para mim, é muito mais do que isso. É uma oportunidade de conhecer alguém especial, alguém que esteja disposto a assumir o posto de cônjuge do príncipe — Ele sorriu levemente. — Embora, eu acredite que este processo não é apenas sobre encontrar uma esposa ou um marido. E sim sobre construir uma boa relação com o povo, reafirmando nossos princípios que nos unem como nação.

Ao ouvir essas palavras, senti um aperto no peito. Ele parecia genuíno, e isso tornava tudo ainda mais real e intimidador. A imagem do príncipe distante e intocável começou a desvanecer, substituída por alguém mais humano, mais acessível.

— Sei que muitos de vocês têm curiosidade sobre mim, e eu espero que, ao longo deste processo, vocês possam me conhecer melhor, assim como eu quero conhecer vocês. — Louis continuou. — Agradeço a todos que se inscreveram e às suas famílias pelo aposto. Sei que a decisão de participar não foi fácil.

Ele fez outra pausa, o silêncio preenchido pelos flashes das câmeras e pelo murmúrio distante da audiência. Em casa, estávamos todos fixos na tela, como se pudéssemos sentir a importância daquele momento.

— Para finalizar, independentemente de quem for escolhido, quero que todos lembrem que juntos podemos construir um futuro ainda melhor para Illéa. Muito obrigado. — Ele terminou com um sorriso sereno.

Os aplausos ecoaram enquanto ele se afastava do púlpito, a câmera capturando o rosto orgulhoso do rei e da rainha. Em casa, meu pai desligou a televisão com um suspiro.

— Bem, isso foi melhor do que eu esperava. — Ele disse, se recostando no sofá.

— Sim, ele parece ser uma boa pessoa. — Murmurei, ainda processando tudo.

— Ele é mesmo bonito, hein, Harry? — Niall brincou mais uma vez, piscando para mim. Eu revirei os olhos, mas não pude evitar um pequeno sorriso.

A noite continuou, mas a sensação de nervosismo permaneceu. Estávamos à beira de algo grande, e pela primeira vez, isso parecia surreal. A Seleção, com todas as suas incertezas, estava prestes a começar.