Pontos Cegos

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Sou levado por Hendery até a clínica. Durante todo o percurso, o enfermeiro faz questão de me acalmar, dizendo que Ten dará um jeito e que eu voltaria a enxergar, mesmo eu não tendo reclamado em nenhum momento até agora. Não que eu não tenha vontade de reclamar, mas acho inútil fazer isso nessa altura.

Tudo o que consigo enxergar com o olho esquerdo é um imenso borrão. Serrando os olhos, até consigo ver melhor, ainda que não nitidamente. Tento manter a calma, porque não tem jeito. Se eu tiver que surtar, vai ter que ser depois de Ten me falar que serei eternamente cego de um olho, o que vai me atrapalhar bastante, eu diria.

Tenho que fechar o olho esquerdo para conseguir enxergar melhor, por incrível que pareça. O meu olho direito ainda tem uma visão boa, uma vez que nunca precisei de lentes para enxergar. Acho que isso vai mudar depois de hoje.

Chego na clínica depois de alguns minutos tendo que atravessar a Base da Tranquilidade. Hendery me leva para os corredores brancos do terceiro andar, onde entro na sexta sala. Aqui está Ten, com uma calça preta, um jaleco, luvas e máscara descartáveis. Ele parecia estar ocupado organizando algumas coisas na mesa quando entramos e, quando ele se vira e nos vê, vejo seu espanto.

- Hendery, o que aconteceu?! - Ten pergunta já chegando perto de mim e pegando em meu braço. Sem perder tempo, ele me faz sentar na maca.

- Foi no teste do círculo de comando, Doutor. Ele não consegue enxergar com o olho esquerdo.

Ten olha para mim e mantém a calma, assim como eu. Ele se aproxima do meu rosto, o observando atentamente.

- Abra o olho devagar.

Faço o que ele me pede e sinto uma dor aguda atrás dos meus olhos. Faço uma careta que faz com que Ten entenda o que está acontecendo comigo. O médico assente e se afasta apenas para trocar de luvas e pegar uma caixa metálica de dentro de uma das várias gavetas da estante acoplada à parede. Ele volta até mim e abre a caixa, a deixando na mesa ao lado da maca.

Pelo que eu vejo, com a pouca visão que tenho, é que ele pegou justamente equipamentos oftalmológicos. Chittaphon pega um aparelho que não faço ideia do que seja, mas ele põe rente ao meu olho esquerdo.

- Isso é um Tonómero - ele me explica. - Você vai ver uma luzinha, mas não causa dor.

Ele aplica e, realmente, não causa dor, mas meu olho começa a piscar freneticamente. Ten observa o visor e suspira.

- Ten... - olho para Hendery e lembro que não posso agir de forma tão informal com Ten na frente de algumas pessoas. Engulo em seco. - Doutor Lee, eu vou ficar cego?

- Eu não sei - ele confessa. - Teremos que ir para o consultório oftalmológico para fazermos exames específicos.

Hendery parece fazer uma expressão de pesar.

- Temo que ela não esteja disponível agora, doutor. O Senhor Lee não foi o único que perdeu a visão.

- Temos que tentar - determina Ten. - Hendery, anote todos os passos dos exames. Precisamos de um relatório completo para enviar à Central. Irei chamar Yangyang para nos ajudar.

- Sim, doutor.

É necessário tantas pessoas para isso? Conhecendo Ten, ele vai querer que tudo seja documentado e relatado, ou pelo menos, é esse tipo de comportamento que ele me parece ter. Chittaphon é um rebelde à sua maneira, além de ter princípios bem claros. Saber que um homem desses, no fundo, também é vulnerável, me faz admirá-lo ainda mais.

- Venha, Taeyong - ele pega na minha mão. - Irei te guiar até lá.

- Obrigado - tento sorrir - por se esforçar tanto.

O Lado Escuro do Sol - Livro 2 [TAETEN]Onde histórias criam vida. Descubra agora