What a shame she's fucked in the head.

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Setembro

Kansas City, Missouri — 10:05am.

Aquele espaço, outrora transmitindo tanto aconchego, agora evocava a vastidão de um labirinto sem fim, cujas paredes pareciam estreitar-se, trazendo-lhe uma sensação terrível de sufocamento. Nos primeiros minutos, andou em círculos, lutando para controlar a respiração ofegante e os sentimentos que estremeciam sua estrutura corporal.

Taylor inspirou profundamente, mas o perfume de Travis, impregnado no cerne daquele cômodo, que costumava oferecer acalento, passou a instigar uma angústia gelada que serpenteava por suas veias.

Embora tentasse arduamente conter aquela emoção, pontualmente, desproporcional, estava sendo dominada por uma irritação que transcendia sua racionalidade.

A situação era ridícula, e o fato de não ter a quem culpar apenas intensificava seu aborrecimento.

Movida por um espírito de desconfiança e alta necessidade de controle, ela se arrastou sorrateiramente para fora do quarto, esgueirando-se nas paredes, à espreita de qualquer movimento repentino no andar de cima que pudesse colocá-la em um flagrante.

A arquitetura aberta da casa facilitava sua missão, permitindo que, sem grandes obstáculos, as vozes de Travis e Kayla, na sala de estar, ecoassem até o piso superior, alcançando seus ouvidos atentos, que escutavam, em meio ao silêncio dos cômodos, os diálogos distantes.

— Você deveria ter ligado. - disse Travis, com tom imbuído de impaciência, sua presença diante dela como um espinho oculto.

— Eu preciso de tanta cerimônia para vir em uma casa que já morei? - ela retrucou, sua voz fluindo num misto de deboche e humor, imune à hostilidade velada do tight-end.

O arrependimento atingiu Taylor como agulhadas, sua mente traidora vislumbrando, automaticamente, as lembranças que ambos compartilhavam daquele lar, trazendo consigo a figura de uma mulher cuja o rosto desconhecia, mas que certamente tivera momentos semelhantes aos que ela vivera recentemente, e isso a deixou fisicamente zonza, pois a ideia a enojava.

Enojada, porque nutria sentimentos por Travis. Os malditos sentimentos que tantas vezes prometera a si mesma não cultivar.

Era evidente que estava se apaixonando por ele. O que mais explicaria toda aquela emoção ao vê-lo? O calor, o coração acelerado, os arrepios? E a saudade incessante que a fizera arriscar sua momentânea paz midiática apenas para estar com ele?

Imersa em sua epifania, Taylor praguejou mentalmente o lapso de sua intuição, enquanto a fase da negação desmoronava em escombros, esmagando impiedosamente seu coração. Engoliu um suspiro choroso, retornando rapidamente ao quarto, fechando-se ali como se pudesse se refugiar do inevitável.

Subitamente consciente, ela compreendeu a razão de sua cegueira aos sinais. Pela primeira vez, apaixonava-se em um contexto saudável. Aprendera, diante de suas vivencias, a associar a paixão à sensação de ansiedade, insegurança e loucura. Esperava que Travis a provocasse isso, para então poder fugir. Contudo, ele se aproximara com a calma de um vento fresco, envolvendo-a em uma teia imperceptível.

Como poderia ter percebido? Travis não a fez sentir-se apreensiva, nem em constante julgamento. Não a deixou temerosa de perdê-lo a qualquer momento. Não adentrou sua vida de forma caótica. Taylor não sentia algo tão puro desde a adolescência, e não se lembrava de como uma relação ainda poderia ser saudável.

Isso a encheu de angústia, pois, à beira daquele precipício, um sopro dele a faria cair profundamente mais uma vez.

Agora, não conseguia mais se concentrar nos momentos de paz ao lado dele; apenas revivia as lembranças agonizantes de quando enfrentara o fracasso iminente com Joe e o abandono cruel de Matty, após uma infinidade de promessas vazias. Era como uma premonição do que lidaria mais uma vez, desta vez com Travis. Porque, afinal, todos partiam em algum momento.

the alchemy  |  tayvis storyOnde histórias criam vida. Descubra agora