four.

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Hoje a cafeteria estava com pouco movimento, então por sorte, Sofia foi liberada mais cedo do trabalho, ela decidiu passar no mesmo mercadinho local que tinha conhecido Miguel e comprar algumas besteiras, para poder aproveitar o resto do dia com Robby, comendo e assistindo alguma coisa. Depois que tinha conseguido esse emprego, mal passava tempo em casa e mal conseguia ver seu irmão, e sentia falta dos momentos que passava com ele.

Também queria aproveitar para falar com ele sobre Johnny, mas para isso teria que ter paciência, Robby não era tão aberto a se reaproximar do pai assim como ela. Enquanto ela sentia falta, e daria qualquer coisa pra ter seu pai de volta, Robby pegou toda a falta que sentia e a transformou em raiva. Ela não o culpava, Johnny cometeu muitos erros que não eram justificáveis, mas ela ainda podia tentar, certo?

Ao chegar em casa se deparou com Trey e Cruz fumando maconha e assistindo um vídeo de uma mulher rebolando no computador, enquanto Robby estava sentado no outro sofá, era uma cena nojenta. Seu irmão levou um susto ao vê-la em casa tão cedo, e logo se preocupou em seus amigos no mesmo ambiente que sua irmã. Justamente por andar com eles, sabia que não eram o tipo de pessoa que ele queria que ficasse perto dela.

— Sof, o que você tá fazendo aqui tão cedo? — perguntou dando um pulo do sofá.

— Fui liberada mais cedo, e trouxe algumas coisas pra gente comer, também queria conversar com você sobre nosso pai, mas eu acho que era melhor eu ter ficado no trabalho. — olhou com desprezo para os amigos de seu irmão.

— Qual foi, gatinha. Fica aqui com a gente, relaxa um pouco, a gente também tá com fome. — o mais alto fala em um tom provocador. — Não é mesmo, Cruz?

— É, senta aqui com a gente. Você deve estar cansada do trabalho, nós podemos te fazer relaxar. O que você trouxe nessas sacolas? — o garoto com bigode deu duas batidinhas no sofá ao seu lado, o que fez os gêmeos olharem com nojo.

"Meu Deus, mas nem se eu me odiasse muito." Sofia pensou

— Calem a boca. Ela é minha irmã, território totalmente proibido pra vocês, ouviram? — Robby exclamou com raiva, apontando para os dois, e puxou sua irmã para o corredor, para poderem ter mais privacidade. — O que você quer falar comigo sobre nosso pai? Inclusive, ele veio aqui hoje, reclamando que eu não estou indo pra escola e ligaram pra ele. É um idiota, como se ele tivesse alguma moral pra me dar bronca.

— Espera aí, você não tá indo pra escola? Por quê?

— Ah, eu desisti, enche meu saco. E a mamãe concorda.

— É claro que ela concorda. — resmungou com sarcasmo, cruzando os braços e encostando na parede. — Se quer saber minha opinião, você está fazendo uma uma grande burrice.

— Ah, Sof, não começa, eu sei me cuidar. Você tá falando igual nosso pai quando veio aqui, aliás você viu aquele dojô dele? É ridículo. — riu debochado.

— Ridículo? Por que seria ridículo? Eu achei um máximo. Eu estava até querendo entrar.

— Ele é um velho bêbado que não deu um jeito na própria vida até hoje, e agora tá tentando recuperar o tempo perdido. Qual foi, vai ficar defendendo ele?

— Não é muito diferente da nossa mãe, ela também é uma bêbada que não arrumou um rumo na vida. Pelo menos nosso pai ainda procura um. — revirou os olhos.

— Não fala assim da mamãe, você sabe que pra ela foi tudo muito difícil criar nós dois sozinha, enquanto o seu "papai querido" estava sabe lá aonde. — fez aspas com os dedos. E ela não estava gostando nenhum pouco do tom do garoto a sua frente.

— O erros dele não anulam os na nossa mãe. Ela foi tão negligente quanto ele, e o pouco que ela fez não passa da obrigação dela como mãe.

— A obrigação que ele não fez. Enquanto você chorava implorando pelo papai, ela que estava aqui cuidando da gente.

— Cuidando, Robby? Cuidando tanto que eu precisei arrumar o primeiro emprego que me ofereceram pra não morrer de fome, enquanto ela estava bêbada em um bar qualquer da cidade. Você chama isso de cuidado? — aumentou o tom de voz, claramente irritada. — Acorda pra vida, Robby, nós temos dois pais de merda, acontece que agora a gente tem a chance de escolher um menos pior.

— Se você acha que a mamãe é tão horrível e que ele é um pai tão incrível assim, por quê não pega suas coisas e vai morar com ele? Você já é igualzinha ele mesmo, daqui uns anos vai ter o mesmo destino fracassado que ele teve. — Robby se arrependeu no mesmo segundo em que falou isso. Ao ver o rosto de sua irmã com uma mistura de surpresa, decepção e raiva, ele não pode evitar o aperto em seu coração. — Sof, desculpa, eu não quis dizer isso.

— Quer saber, eu acho que vou mesmo. — ela se virou para ir para o quarto, mas Robby segurou seu braço, tentando impedi-la, o qual ela puxou com brutalidade. — Não toca em mim!

Ela bateu a porta do quarto com força, trancando a mesma, ignorando as batidas na porta e suplicos de seu irmão pedindo perdão ou pedindo para sair do quarto e conversarem. Pegou sua mochila colocando as coisas mais importantes, como notebook, celular, carregador, e o máximo de roupas que cabia na mochila. O resto ela dava um jeito de pegar depois.

Saiu do quarto em passos rápidos e empurrando o garoto do caminho, ele a seguia e tentava falar com ela mas ela mal escutava. Algo que ela havia herdado de seu pai, era o orgulho e a raiva descontrolada.

— Não vem atrás de mim, Robby, me deixa em paz. — disse já na porta.

— Sofia, se você sair por essa porta agora, você pode me esquecer. — disse com raiva. Ela conhecia bem o irmão, sabia que ele só fingia tal pose pra conseguir que ela ficasse, mas dessa vez, não ia funcionar.

— Ah, o arrependimento mudou rápido. — riu desacreditada. — Tchau, Robby.

E assim ela saiu, batendo a porta com tudo novamente. Andou até a praia, ela estava carregada de raiva, e a melhor forma de se acalmar e clarear suas ideias seria com o barulho e a brisa do mar. A praia sempre foi seu ponto de paz.

Deu um sorrisinho ao chegar no lugar, tirou seus tênis para poder andar sentindo a areia em seus pés, sentiu o vento batendo em seu rosto e o som das ondas não muito longe. Se tinha sensação melhor que essa, ela desconhecia. Continuou andando até achar um banco, assim que sentou não conseguiu evitar as lágrimas, que depois que permitiu que uma saísse, várias desciam sem parar.

Ela não conseguia acreditar no que tinha acontecido minutos atrás. Robby e ela sempre se deram muito bem, com exceção das discussões normais de irmãos, eles nunca haviam levantado a voz ou falado coisas assim um para o outro. Ela sabia que ele falou aquilo na hora da raiva, só para defender sua mãe, mas isso não quer dizer que ela tinha que aceitar e perdoar facilmente.

Sofia não sabia quanto tempo tinha ficado ali, mas sabia que era a hora de ir embora, visto que o sol já estava se pondo e o clima estava ficando frio, fazendo ela abraçar seus próprias braços para se esquentar. Respirou fundo, se preparando para o longo caminho que tinha agora até a casa de seu pai.

Já era de noite quando chegou até o local. Ficou longos minutos parada na porta, agora que estava ali, estava em dúvida e pensando se era realmente uma boa ideia ideia. Mesmo em meio as dúvidas, lembrou que não tinha mais pra onde ir, e se recusava a voltar para a casa de sua mãe, então deu três batidinhas na porta, que não demorou muito pra ser aberta.

— Filha, o que você 'tá fazendo aqui? — perguntou com um misto de surpresa e preocupação. — E que cara de choro é essa?

— Então, pai, essa é outra longa história. — disse divertida, ela podia estar na merda mas não perderia o humor. — Mas será que eu podia ficar um tempo com você?

Agora Johnny estava completamente surpreso, mas feliz. Depois de ter sido um pai ausente por anos, a última coisa que ele esperava era que um dia seus filhos iriam querer contato com ele, então ele não pode evitar o sorriso em seu rosto.

— Claro, Sof, entra aí. Acabei de pedir pizza. — deu espaço pra garota entrar. — Que tal você guardar suas coisas e me contar essa longa história enquanto a gente come?

Sofia assentiu, aliviada por seu pai ter sido tão receptivo, e entrou em sua nova casa, que lhe traria uma nova vida. As vezes, mudanças são muito necessárias.

changes | cobra kaiOnde histórias criam vida. Descubra agora