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Sofia soltou um gritinho animado ao ver o relógio marcar oito horas, o que significava o fim de seu expediente. Depois de trocar seu uniforme por suas roupas normais e prender seu cabelo em um rabo de cavalo desajeitado, ela saiu da cafeteria onde trabalhava.

Caminhou até um mercadinho local, pegou alguns salgadinhos e refris pra dividir com seu irmão quando chegasse em casa. Também procurava alguns analgésicos para repor o estoque, já que sua mãe ficava de ressaca constantemente. Ao seu lado havia um garoto de sua idade, segurando o que parecia ser remédio pra diarréia.

— É pra minha avó, ela não 'tá passando bem. — o garoto tentou puxar assunto.

— Ah, melhoras pra ela. — a garota sorriu sem graça, achando um pouco estranho ele resolver contar isso para uma desconhecida, de qualquer forma, resolveu continuar a conversa. — Ei, você estuda em West Valley?

— Vou começar o segundo ano lá na segunda. Eu e minha família acabamos de nos mudar pra cá. Você também estuda lá?

— Sim, eu acabei de ser transferida de North Hill, é uma longa história. Sou Sofia, a propósito.

— Eu sou o Miguel. Eu apertaria a sua mão, mas acho que você 'tá um pouco ocupada segurando tantas coisas. — riu fraco.

— Não esquenta. — pegou o último analgésico e se dirigiu para o caixa, não antes sem se despedir do garoto. — Acho que te vejo na segunda, então.

— Eu vou adorar. — respondeu com muita animação, mas logo ficou envergonhado. — Quer dizer, vai ser bom conhecer alguém lá.

Sofia deu um último sorriso antes de sair do mercadinho, mas logo seu sorriso foi embora ao ver o carro de seu pai estacionando no local, o que a fez apertar o passo e sair dali rapidamente. A última coisa que ela precisava ela lidar com ele agora.

Não a entendam mal, ela não odiava o pai, mas tinham uma relação complicada. Ela e seu irmão não passavam de uma consequência de uma noite de muita bebida e festa entre seus pais. Seu pai não teve um bom exemplo paterno para seguir, mas tentava seu máximo, mas foi quando sua mãe faleceu que tudo desandou. Foi ali que ele começou a beber exageradamente e pareceu desistir de tudo, e por isso a garota evitava ver o mais velho. Já era difícil o bastante cuidar de uma mãe realmente alcoólatra, ela não queria estar ali pra ver o pai ter o mesmo destino.

Não demorou muito para chegar em casa, encontrando seu irmão gêmeo, Robby, sentado na cama com um notebook no colo no quarto em que dividiam. Abraçou o garoto como comprimento como sempre faziam e revirou os olhos ao ver que ele estava em uma chamada de vídeo com seus amigos, Trey e Cruz, os quais ela odiava e achava uma péssima companhia. Tais amigos que foram o motivo dela ter sido transferida de escola. Depois da diretora pegar os três vendendo drogas na escola, ela resolveu levar a culpa por seu irmão, sabendo que sua punição seria bem menor por nunca se envolver em problemas, diferente de Robby.

A garota guardou o que tinha comprado e logo depois correu para o banheiro, tudo o que ela precisava agora era de um bom banho quente para finalizar o dia mas se deparou com ele fechado. Era uma sexta feira, e é claro que sua mãe iria estar se arrumando para sair em algum encontro com um cara aleatório que ela conheceu em algum desses aplicativos de relacionamento só pra poder encher a cara de graça, tendo perdido o último emprego e sabendo que a filha se negaria a dar dinheiro, ela tinha que dar um jeito para sustentar seus vícios. Todo fim de semana era a mesma coisa.

— Querida, você já chegou? Eu já vou sair, espera só mais uns 30 minutinhos.

Riu desacreditada com a atitude da mais velha, ela passava o dia inteiro trabalhando, se matando para não deixar todos ali morrerem de fome, e ainda tinha que esperar para usar o banheiro quando sua mãe que não fazia nada o dia inteiro poderia ter se arrumado antes. Mas resolveu não se estressar, já havia tido um dia bastante cansativo e tentar argumentar com sua mãe não lhe traria nada além de estresse. Apenas respirou fundo para não surtar e colocou qualquer roupa confortável que achou e deitou em sua cama, decidida a tomar um banho de manhã. Por mais estressada que estivesse, sentiu alívio por saber que não precisaria lidar com a mais velha até segunda, se tivesse sorte, aquele cara seria legal e ela tivesse mais alguns dias de paz até que sua mãe voltasse pra casa.

changes | cobra kaiOnde histórias criam vida. Descubra agora